quarta-feira, 21 de setembro de 2022

Dianna Krall, sempre ótima

Por Edmilson Siqueira 

Dos 15 discos de Diana Krall gravados em estúdio, tenho 13. E tenho mais dois DVDs, gravados ao vivo em Paris e ao vivo no Rio. Durante um bom tempo, cópias desses discos de estúdio estiveram no CD player do nosso carro. Zezé e eu cantávamos juntos várias das músicas. Estivemos na apresentação dela, gratuita, no Parque Villa Lobos em São Paulo. Assistimos de longe, mas foi bonito. De resto, escrevi várias croniquetas na Revista Metrópole sobre ela. Hoje em dia não tem mais CD player nos carros. Mas ainda a ouvimos, às vezes, entre as milhares de músicas que botei num pendrive. 


Tudo isso pra falar que, neste momento, estou ouvindo novamente seu último disco, "This Dream Of You" e, como sempre, é ótimo. Lançado em setembro de 2020, quando ele chegou em casa, apareceu com uma capinha só de papelão, com fotos discretas, e sem aquela tradicional de plástico. À época, pensei que a moça estivesse meio decadente, mas que nada. A produção do disco é excelente, da Verve, uma das mais tradicionais gravadoras de jazz dos EUA e Diana está cantando melhor que nunca. Sua voz está mais intimista, mais soft e mais segura até.  


O repertório, escolhido pela própria Diana, está à altura de uma das melhores cantoras de jazz do momento. "But Beautiful" (Jimmy Van Heusen e Johnny Burke) abre os trabalhos e logo temos a certeza de que estamos diante de muita coisa boa. O clássico "That's All" (Bob Haymes e Alan Brandt) e "Azure-te" (Wilfred Douchete e Donald Wolf) vêm a seguir, unidas numa só faixa. 

Mais um clássico, acompanhado apenas pelo piano de Diana, o contrabaixo e a guitarra de, faz sua voz soar soberana em "Autumn in New York", mantendo o clima intimista de todo o disco. 


"Almost Like Being In Love" (Alan Lerne e Frederick Loewe) inaugura a sessão de faixas mais ritmadas do disco. Aos três instrumentos da música anterior, acrescenta-se aqui uma bateria discreta, marcando as divisões apenas na baqueta com vassourinha.  

 

A faixa seguinte é com Diana cantando, mas quem se incumbe do único acompanhamento, um piano, não é ela, o que é raro. A incumbência fica com Alan Broadbent. A música é "More Than You Know, de Edwar Eliscu, Billy Rose e Vincent Youmans. 


De volta ao piano, e com um conjunto que inclui até um violino country, Dina canta "Just You, Just Me" (Jesse Greer e Raymond Klages), a faixa mais "apressada" do disco, onde o improviso do violino country se sobressai.  


Voltando à calma das baladas americanas, outro clássico do jazz, "There's No You" (Harold Hopper e Thomas Adaur) nos é apresentado, também só com piano, contrabaixo e guitarra. 

"Don't Smoke In Bed" (Willard Robinson) repete a fórmula de piano e voz, com o mesmo Alan Broadbent, que traz para o disco um clima de cabaré em fim de noite.  

A música que dá título ao disco, "This Dream Of You", como muitos já devem saber, é de ninguém menos que Bob Dylan. E mostra como as músicas do ganhador do Nobel de Literatura podem ficar muito mais bonitas quando a voz que as canta é de uma excelente cantora.  


"I Wished On The Moon" (Dorothy Parker e Ralph Rainger) é a faixa seguinte, acompanhada apenas pelo piano de Diana e pelo contrabaixo de John Clayton Jr. É outra música mais ritmada, onde o baixo tem papel fundamental. 


A lista de clássicos reaparece nas duas últimas faixas do disco. O primeiro é "How Deep Is The Ocean" (Irving Berlin), para a qual Diana recrutou contrabaixo, bateria, guitarra e violino, além do seu piano, claro. O outro clássico, que encerra o disco, é a mais que famosa "Singin In The Rain" (Arthur Freed e Nacio Herb Brown) tema do filme do mesmo nome, eternizada por Genny Kelly naquela dança na chuva que até hoje é muito assistida nos youtubes da vida.  


Trata-se de mais um ótimo disco de Diana Krall, e o julgamento não é só meu, pois ele foi assim saudado pela crítica especializada quando do seu lançamento. E, além de poder ser comprado nos bons sites do ramo, pode ser ouvido na íntegra o YouTube em https://www.youtube.com/playlist?list=PL77rJfJljZDDAMxLMQh69ChIzBVeBWZ8m . 

terça-feira, 20 de setembro de 2022

Sempre ao tom do Tom

Por Ronaldo Faria

Nas vozes femininas, o maestro Antonio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim. Na penumbra da tarde que já terminou, uma tardia saudade que se joga à espera da malfadada madrugada. Em desejos, o poeta afaga a sua mulher e eterna enamorada.

Entre um segundo ou outro, num benfazejo conto desencontrado e torto, as notas se vestem de sons e recobrem o corpo cansado de sonhar. Na cena, um lugar em deletérios, um mar a bater à morte mais linda da areia que o devora sob a lua que a tudo vê.

Daqui, a rever promessas sórdidas e mórbidas, a se prostrar entre teclas e réstias, o poeta profetiza o tempo que ainda não se deu. Mas, ao som do Tom, tudo se perde amarelo e liquefeito em púrpuros gases. Acima, o mundo se entrega em frases.

segunda-feira, 19 de setembro de 2022

Uma hora de prazer com Count Basie e sua orquestra

Por Edmilson Siqueira 

A próxima hora de prazer musical, dentro da coleção "A Jazz Hour With" será com Count Basie e seu "Basie Boogie".  


Exceto durante um curto período nos anos de 1950, quando a economia do pós-guerra necessitou de alguns sacrifícios e Count Basie viajou com um septeto, o resto de sua vida foi à frente de uma orquestra com, no mínimo, 15 integrantes. E essa orquestra foi considerada uma das melhores do mundo, ao lado das de Duke Ellington e Woody Herman. Tão boa e com tantas e ótimas gravações, que a coleção dedicou a ela dois volumes. Hoje, vamos abordar o primeiro.  


E basta ouvir essa hora de jazz com Count Basie e sua turma para comprovar a qualidade não só do pianista chefe, um dos melhores do jazz em todos os tempos, mas dos músicos todos que compõem a orquestra. Thad Jones, Joe Newman, Snooky Young e Wendell Cully nos trompetes; Henry Coker, Benny Powell e Al Grey nos trombones; Marsahal Royal na clarineta e no sax alto; Frank Wess na flauta e no sax alto e tenor; Frank Foster e Billy Mitchell no sax tenor; Charlie Fowlkes na flauta, no clarinete e o sax barítono; Freddie Green na guitarra; Eddie Jones no baixo e Sonny Payne na bateria dão verdadeiro show em cada faixa do disco. São performances extraordinárias que arrancam aplausos (tudo foi gavado ao vivo) após os inspirados solos e improvisos. 

Como se vê, a formação priorizava os metais, mas, percebe-se nas gravações, não desprezava a sessão rítmica e muito menos os destaques que o contrabaixo exige.  E Count Basie foi líder do grupo por quase 50 anos, criando inovações como o uso de dois saxofonistas "split", enfatizando a seção de ritmo, tocando com uma grande banda, usando arranjadores para ampliar seu som e entre outras. Nesse meio século, muitos músicos proeminentes trabalharam sob sua direção, incluindo os saxofonistas Lester Young e Herschel Evans, o guitarrista Freddie Green, os trompetistas Buck Clayton e Harry Edison, e os cantores Jimmy Rushing, Helen Humes, Thelma Carpenter e Joe Williams. 


A seleção de músicas desse "Basie Boogie" é das mais agitadas. Pode-se, tranquilamente, afastar o sofá e improvisar uma sessão de dança por todos os 63 minutos e 25 segundos do disco. O disco foi gravado na Europa e o ano não é muito preciso. Pode ter sido em duas excursões ao continente, em 1958 e 1959, segundo informação que consta no encarte.  

Alguns clássicos como "In a Mellow", de Duke Ellington, "Old Man River" (Ebbins), "Spring Is Here" e "Why Not" constam da seleção e, em todos eles, bem como nas outras faixas, percebe-se o cuidado dos arranjos e a excelência dos improvisos. 

Trata-se, enfim, de um disco que comprova a qualidade das orquestras de jazz que se formaram nos Estados Unidos a partir dos anos 1930 e dali ganharam o mundo, sendo até hoje referências quando se trata de uma organização musical construída para distribuir   prazer a todos. 


O disco pode ser ouvido na íntegra no YouTube em https://www.youtube.com/watch?v=OOApyW-0iuI&list=OLAK5uy_m6VAgzflVGMGHh6G0RooeWyPz9vta1uBY e também pode ser comprado nos bons sites do ramo. 

sábado, 17 de setembro de 2022

A Jazz Hour With... George Benson

 Por Edmilson Siqueira 

Quando o CD começou a imperar como substituto definitivo dos LPs, a oferta de coleções foi grande. As gravadoras aproveitaram a nova mídia para desentocar muitas gravações que não encontravam mais mercado no formato antigo, pois nele só cabiam pouco mais de 30 minutos de música. O CD, com seus 70 minutos de gravação era ideal para coletâneas de artistas mais ou menos famosos, que fizeram sucesso nas décadas anteriores. Claro que nenhuma gravadora esperava que esses lançamentos tivessem grandes vendas, mas o custo de produção era baixo e mesmo que o sucesso fosse pequeno, poderia valer a pena. 


Deve ter sido isso - e otras cositas mas - que fez a Movie Play lançar, lá pelos anos 80 do século passado, a coleção "A Jazz Hour With". Não me lembro qual dos 24 exemplares da coleção que tenho foi o que comprei primeiro. Houve um tempo em que eu andava com a lista que dos CDs comprados no bolso, pois uma vez comprei um que já tinha...  


Também não sei, apesar de pesquisar no Google, quantos CDs foram lançados com o selo. Encontrei alguém vendendo, no Mercado Livre, uma coleção com 39 CDs da série, mas um dos CDs que tenho, mostra nada menos que 55 títulos sob o manto "A Jazz Hour With". 

Bom, tudo isso é pra dizer que a coleção é ótima. Se alguém se deparar com um CD dela e gosta de jazz, não hesite: pode comprar que, além de um bom panorama da obra, há sempre um excelente texto (muitos deles assinados por Famke Damsté), em inglês, situando o artista e sua arte no tempo e no espaço. 


Com isso, início aqui meus humildes comentários sobre essa coleção. Não pretendo fazê-lo sempre, mas intercalando com outros discos, de outros gêneros ou não, mas sempre voltando à coleção, na sequência em que estão guardados no meu arquivo. E começo hoje com George Benson. 


Guitarrista por excelência, mas também cantor, George é um dos poucos da coleção que ainda estão vivos. Está com 79 anos, completados em março passado. É considerado um dos grandes "guitar heroes" dos EUA. Aos 19 anos, estudou guitarra com Jack McDuff. Aos 22, formou seu próprio grupo e, alguns meses depois, já estava gravando com seu próprio nome e, aos 25 tocou no Spirituals to Swing Aniversary Concert. A partir daí, seu nome ficou conhecido no mundo do jazz, iniciando uma carreira de sucesso. 


No CD da coleção, há muita coisa boa, do mais puro jazz, pra ser ouvida. Como por exemplo "All Blue", Li'l Darling" e "Oil", músicas que fizeram a fama do George Benson Quartet. Mas outros clássicos como "Witchcraft", "Love for Sale" e "There Will Never Be Another You", todas com o toque mágico da guitarra de Benson e performances muito boas de seu grupo, formado por Mick Truck ao piano, George Duvivier no baixo e Al Harewood na bateria.  

No Youtube você pode ouvir o disco na íntegra em https://www.youtube.com/results?search_query=%22A+Jazz+Hour+With+George+Benson%22 . E ele ainda está à venda nos bons sites do ramo. 

Saudade ao som de baião

 Por Ronaldo Faria Saudade, essa maldade intrínseca e seca que devora a gente em cada pedaço de ser. Que não devolve a vida que nos faz fa...