Por Ronaldo Faria
Na nau catarineta, perdida em tempestades e sonoras vagas de algum lugar, o náufrago vagueia sobremaneira na junção de um rio e um mar. Seja onde for e tiver de ser, certamente é um lugar. Pedacinho de terra, lugar escondido entre velas acesas e valas cercadas de água - fétidas e finais. Senão, o cais. Caso esquecido. Chegança do depois de tanto navegar. Entre dois pontos há um lugar. Ou, quem sabe, um derrear. Na estrada mais perto do fim do que do começo, o marinheiro far-se-á grumete, marujo e quem dá o grito de terra à vista. Proscrita, essa quantidade de areia saberá saber-se fim de caminho vadio e fantasma que foge das sereias nas ondas do entardecer ou do melro a revoar.
Na nau catarineta, um
proxeneta parece nadar em naufrágio árduo para chegar onde for que tiver de ser
ou dar. No céu que brilha acima, uma nova rima. Um pássaro a singrar de nuvem em
nuvem, um azul a sangrar entre o que nunca foi e aquilo que jamais será. Na
melancólica ilusão prostrada em si mesma, a resga e o resto que não colam mais.
Ao longe, canaviais. Sombrias lágrimas que caem no final da tarde, inexatas
frases que se espalham e se espelham ao sol que arde. Um cansaço estranho às
entranhas que brotam em cada palavra perdida. A ferida aberta em sangria
ardida. A certeza urdida de que nada dormiu além do coração de cá. Na brisa
sopra um vento que vem do Leste.
-- Capitão, acho que vi terra ao longe! Põe a vela mestra como fosse abelha a voar...