Por Ronaldo Faria
Cruz no credo. Credo na cruz. Josualdo,
desses que acredita e crê piamente que a vida irá um dia para o além, acabava
de rezar o terço pela sexagésima vez, quando entra Pafúncia. Apesar do nome,
desses que deveria virar denúncia criminal contra o pai e o cartório, era
linda. Dessas que o mais incapaz pintor faria a Mona Lisa virar uma mina lisa na
esquina sem ninguém reparar. Com ela a entrar sob o pórtico de madeira, a pomba
que teimava em cagar na escada se assusta. “De onde terá vindo tal obra de
arte desse que dizem ser o Criador?”
Josualdo, crente convicto, invicto nas tramas do amor, que nunca tinha tocado um lábio sequer, no passado quase um seminarista, não fosse semianalfabeto, parou aquilo que fazia. Achou que a mãe de Jesus, mulher de José e fecundada por uma pomba igual a que cagava, estava a entrar. Só de maldade, um raio de luz invadiu pelo vitral mais limpo o lugar. E bateu direto no rosto da mulher. “Meu bom Senhor, o amor será isso? Desejo, criatura e flor? Flor a nascer no louvor?” Simplório, temeu enfartar sem sequer sentir alguma dor.
À medida que Pafúncia andava sobre o mármore rosa encerado que a igreja mostrava aos pobres de espírito, Josualdo suava em cântaros e cantava loas de louvor. Mas via, no meio de sua calça, algo crescer e endurecer em clamor. “Senhor, aqui não! Tenha dó de quem sempre em ti se dedicou!” Mas a mulher, que nenhum homem com seu hímen deixaria de sonhar, se criava e surgia mais forte que o medo da morte no inferno chegar. Sem ágio de mercado, ela era o naufrágio de tantos anos perdidos. Era o lumiar e o vazio juntos e untados.
Enlouquecido, sem saber o que acontecia consigo e seu corpo, até então oco, Josualdo correu para a rua. Desnorteado, sem norte ou sul, correu para longe da egrégia igreja. Queria apenas ter respostas que a hóstias já não lhe davam. E tanto mais correu e caiu, levantou, correu. Queria ficar o mais longe possível do pecado. Era isso. Aquela mulher de seios fartos e coxas que dançavam ao vento fátuo era o demônio a lhe cobrar crença. Exausto da vida, no cadafalso que todos nós um dia subimos, não vê que um ônibus chega rápido. Mal tem tempo de dar o último suspiro. Na igreja, Pafúncia recebe a ligação de mais um cliente.
Josualdo, crente convicto, invicto nas tramas do amor, que nunca tinha tocado um lábio sequer, no passado quase um seminarista, não fosse semianalfabeto, parou aquilo que fazia. Achou que a mãe de Jesus, mulher de José e fecundada por uma pomba igual a que cagava, estava a entrar. Só de maldade, um raio de luz invadiu pelo vitral mais limpo o lugar. E bateu direto no rosto da mulher. “Meu bom Senhor, o amor será isso? Desejo, criatura e flor? Flor a nascer no louvor?” Simplório, temeu enfartar sem sequer sentir alguma dor.
À medida que Pafúncia andava sobre o mármore rosa encerado que a igreja mostrava aos pobres de espírito, Josualdo suava em cântaros e cantava loas de louvor. Mas via, no meio de sua calça, algo crescer e endurecer em clamor. “Senhor, aqui não! Tenha dó de quem sempre em ti se dedicou!” Mas a mulher, que nenhum homem com seu hímen deixaria de sonhar, se criava e surgia mais forte que o medo da morte no inferno chegar. Sem ágio de mercado, ela era o naufrágio de tantos anos perdidos. Era o lumiar e o vazio juntos e untados.
Enlouquecido, sem saber o que acontecia consigo e seu corpo, até então oco, Josualdo correu para a rua. Desnorteado, sem norte ou sul, correu para longe da egrégia igreja. Queria apenas ter respostas que a hóstias já não lhe davam. E tanto mais correu e caiu, levantou, correu. Queria ficar o mais longe possível do pecado. Era isso. Aquela mulher de seios fartos e coxas que dançavam ao vento fátuo era o demônio a lhe cobrar crença. Exausto da vida, no cadafalso que todos nós um dia subimos, não vê que um ônibus chega rápido. Mal tem tempo de dar o último suspiro. Na igreja, Pafúncia recebe a ligação de mais um cliente.
(A Anavitória)