terça-feira, 17 de setembro de 2024

Uma trilha sensacional

Por Edmilson Siqueira


O filme "Feitos um para o outro", com Meg Ryan e Billy Cristal nos papeis principais, fez muito sucesso, sendo apontado como uma das grandes comédias românticas de todos os tempos. A cena do orgasmo simulado por Meg no restaurante se tornou clássica. 
Em inglês o filme se chama "When Harry met Sally", mas o nome em português até que não ficou ruim. Todo o roteiro e os diálogos levaram algum tempo para ficar prontos e tiveram a participação efetiva tanto de Meg quanto de Billy, este como comediante, inclusive, pode contribuir bastante.
Ou seja, o filme saiu redondo, caiu no gosto do público, arrecadou multo mais do que gastou; A roteirista Nora Ephron recebeu um British Academy Film Award, uma nomeação ao Oscar e uma nomeação ao Writers Guild of America Award para seu roteiro. O filme está classificado em 23 na lista das melhores comédias norte-americanas segundo o American Film Institute e número 60 no Bravo em sua lista dos 100 filmes mais engraçados. No início de 2004, o filme foi adaptado para o palco em uma produção estrelada por Luke Perry e Alyson Hannigan. 
Mas, além de tudo isso, o filme tem uma extraordinária trilha sonora. E quando eu digo extraordinária, não é um elogio qualquer. Afinal, ela foi toda feita com clássicos do jazz na voz de um excelente cantor: Harry Connick, Jr., que também é pianista e comanda um trio de jazz.  
O produtor Rob Reiner chegou ao cantor por uma indicação de Bobby Colomby, o baterista do grupo Blood, Sweat & Tears. Colomby deu a Reiner uma fita do cantor. Reiner ficou impressionado e considerou que Harry soava como um jovem Frank Sinatra.
O disco com a trilha foi lançado pela Columbia Records em julho de 1989. A trilha sonora, como disse, é composta por standards do jazz, cantados por Harry Connick, Jr., com uma big band e orquestra de Marc Shaiman. Pelo trabalho, Connick ganhou seu primeiro Grammy para melhor performance vocal masculino de jazz.
Grandes sucessos de jazz ganharam nova roupagem com Connick, ora cantando com grande orquestra, ora com seu trio com Benjamin Jonah Wolfe no baixo e Jeff "Tain" Watts na bateria. Também aparecem no álbum o saxofonista tenor Frank Wess e guitarrista Joy Berliner. A trilha sonora ficou em primeiro lugar na revista Billboard no seu top de jazz tradicional e dentro do top 50 na Billboard 200. Connick também excursionou pela América do Norte em apoio a este álbum, ganhando inclusive um disco de platina.
A trilha abre com "It Had to Be You", uma canção muito popular, composta em 1924 por Isham Jones, com letra de Gus Kahn. Os grandes acordes iniciais dão um molho especial para a entrada discreta do cantor. 
A segunda faixa e "Love Is Here to Stay", outro grande sucesso desde 1937 quando foi escrita por George Gershwin, que a completou pouco antes de sua morte Ira Gershwin fez a letra. 
A terceira é "Stompin' at the Savoy", que teve inúmeras gravações desde 1933 quando foi composta por Edgar Sampson, em homenagem ao famoso nightclub do Harlem. No post anterior que publiquei aqui ela também aparece, nas vozes de Ella Fitzgerald e Louis Armstrong. Mas aqui é apenas tocada, numa ótima performance do trio de Harry Connick, Jr.



Outro da dupla George e Ira Gershwin foi escolhida para ser a quarta faixa: "But Not for Me" também fez sucesso desde quando apareceu pela primeira vez, em 1930 no musical "Girl Crazy".
A quinta faixa é "Winter Wonderland" escrita em 1934 por Felix Bernard com letra de Richard Bernhard Smith. Ela é tocada até hoje em parte dos Estados Unidos como uma canção de Natal. 
"Don't Get Around Much Anymore" é a sexta faixa, mais um standart de jazz, composto por Duke Ellington em 1940, que primeiramente o chamou de "Never No Lament".  O título que a consagrou depois foi dado por Bob Russell, que escreveu a letra em 1942.
A seguir temos "Autumn in New York" composto por Vernon Duke, na cidade de Westport, em Connecticut no verão de 1934. Ela foi pura inspiração, sem nenhum outro objetivo, mas foi oferecida por Duke para o produtor Murray Anderson para o musical da Broadway "Thumbs Up!" 
A oitava faixa é "I Could Write a Book", essa escrita para um musical ("Pal Joey"), em 1940, por Richard Rodgers com letra de Lorenz Hart. No musical, ela é apresentada por ninguém menos que Gene Kelly e Leila Ernst. É um clássico, claro. 
Os irmãos George e Ira Gershwin est]ao novamente na trilha com a nona faixa,  "Let's Call the Whole Thing Off". Composta em 1937 para o filme Shall We Dance (teve um remake em 2004), no original ela é apresentada simplesmente por Fred Astaire and Ginger Rogers. 
A décima faixa é a versão instrumental, com o trio, da primeira - "It Had to Be You", - numa interpretação mais que correta e plena de suingue. 
A trilha se encerra com "Where or When" outra da dupla Rodgers e para o musical "Babes in Arms (no Brasil "Sangue de Artista"). Aqui, só Harry Connick, Jr. e seu piano dão à música uma singela e excelente interpretação. 
Para quem gostou do filme ou mesmo quem não assistiu, mas gosta de jazz, trata-se de um disco essencial. Ele está à venda por aí, nos bons sites do ramo e pode ser ouvido na íntegra no YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=Cmg5scf0Ilw&list=PLBj--Mdk6WTlZmiKG9O3QerVOna1p52Vy .

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