sábado, 3 de agosto de 2024

O eterno Otis Redding

Por Edmilson Siqueira


Ninguém cantou soul music como ele e, dificilmente alguém cantará. Ele saiu de um emprego comum onde ganhava pouco, aos 15 anos para entrar na banda de Little Richard e ganhar algum dinheiro a mais e ajudar a família. Onze anos depois, ele morreu num acidente de avião. Nesse curto espaço de tempo, se transformou num dos maiores cantores do EUA e, com certeza, no maior, até hoje, de soul e  rhythm and blues. 
Estou falando de Otis Redding, nascido na cidade de Dawson, na Georgia, em 1941. Sua carreira foi meteórica. Após participar do grupo que acompanhava Little Richard, dois anos depois juntou-se à banda de Johnny Jenkins, The Pinetoppers, com quem fez uma excursão pelos estados do Sul como cantor e crooner. Uma apresentação em uma sessão de gravação da gravadora Stax, levou-o a assinar um contrato para gravar seu primeiro single, "These Arms of Mine", em 1962.
A própria Stax lançou o álbum de estreia de Redding, "Pain in My Heart", dois anos depois. Inicialmente popular principalmente entre os afro-americanos, Redding mais tarde alcançou um público mais amplo de música pop americana. Junto com seu grupo, ele fez pela primeira vez pequenos shows no Sul dos Estados Unidos. Mais tarde, ele se apresentou no popular clube noturno de Los Angeles Whiskey a Go Go e viajou pela Europa, se apresentando em Londres, Paris e outras cidades importantes. Ele também se apresentou no Monterrey Pop Festival em 1967, poucos meses antes do fatídico voo.
A Spotfy anuncia sua discografia de estúdio completa em dez álbuns e, claro, ele não pode ter gravado mais que isso em apenas onze anos, já que sua principal atividade eram as excursões, inclusive fora dos EUA.
Seu estilo único, derivado do gospel e sua facilidade de interpretação, aliada a uma voz marcante e sincera, fizeram dele, rapidamente, um ídolo. Sua facilidade em enveredar pela música, fazendo improvisos que poucos conseguiram ou conseguem, deram a ele um lugar de destaque num mercado musical que já era gigantesco na metade dos anos 1950. 
Seu primeiro disco já continha cinco composições suas, provando que ali estava nascendo um fenômeno. Acompanhado de uma banda enxuta - três metais, guitarra, bateria e contrabaixo - Otis colocava sua voz como mais um instrumento, sem jamais perdeu a profundidade de seu canto e a sinceridade de interpretação.
Um dia, navegando pela  Amazon, deparei com uma oferta de uma caixinha com cinco CDs de Otis Redding e outra de Sergio Mendes. A dos brasileiros já foi assunto aqui. Eu me lembro que dei uma vasculhada na oferta e descobri que eram cinco discos de estúdio de Otis, todos eles com as capas originais - o que, aliás, torna impossível ler os textos das contracapas que, na cópia para o tamanho CD, ficaram quase microscópicos. 
Mas eram os cinco discos iniciais de Otis, o que me daria, além do prazer de ouvi-lo cantar, uma boa ideia da carreira desse fabuloso astro. 



Além de "Pain in my Heart", a caixa traz "The Great Otis Redding Ding Soul Ballads", "Otis Blue - Otis Redding Sings Soul", "The Soul Album" e "Complete & Unbelievable - The Otis Redding Dictionary of Soul". 
Entre as 59 músicas - são 12 em três discos e 11 nos outros dois, que era o que cabia nos LPs - estão alguns de seus maiores sucesso, como "Pain in my Heart", "Stand By Me", These Arms of Myne" e Lucille", todas do primeiro disco. No segundo, destaques para "That's How Strong My Love Is", Nothing Can Chance my Love" e Home in your Heart". No terceiro, logo na segunda fa0xa, "Respect", um megassucesso de Otis e, na quinta, "I've Been Loving You Too Long", que depois foi gravada também pelos Rolling Stones.  E ainda há "My Girl" (outra gravação dos Stones) e, invertendo o jogo, "Satisfaction" o eterno hit da banda inglesa, que nunca escondeu suas origens no soul e rhythm and blues. Aliás, essa gravação de Otis virou cult e até hoje é lembrada pelos amantes do rock. 
O quarto disco traz um texto na contracapa, sem identificação do autor, que começa assim: "Há muitos cantores de soul, mas grandes cantores são raros. Otis Redding é um dos grandes. Em poucos anos ele se tornou conhecido, através das suas gravações de sucesso e suas excitantes apresentações, como um digno sucessor dos legendários cantores de blues do passado.  É um disco onde as interpretações de Otis atingem quase um ápice.
O quinto e último disco da caixa, começa com outro sucesso: "Fa-Fa-Fa-Fa-Fa (Sad Song)", mas contém uma das melhores interpretações de Otis, que até hoje é muito tocada em rádios voltadas ao jazz e ao soul: "Try a Little Tenderness", grava por muita gente depois dele. Outra, digamos curiosidade do disco, é a versão dele para "Day Tripper", de Lennon e McCartney. 
Os discos lançados depois desse, ou eram gravações que ele já havia feito em estúdios para lançamentos futuros, ou gravações ao vivo de seus muitos shows, não só nos Estados Unidos.



E do seu maior sucesso, a composição sua e de Cropper, "Sittin' on the Dock of the Bay", que a tantos encanta até hoje, ele não desfrutou. Seu lançamento foi póstumo, como póstumos foram muitos prêmios que ele recebeu, bem com a criação de prêmios com seu nome, a inclusão em vários Halls of Fame e a colocação de seus discos em muitas listas de melhores de todos os tempos.
Enfim, o mundo perdeu, precocemente, um artista que, com certeza, tinha muito ainda a nos mostrar nas décadas seguintes. Se vivesse até hoje, teria 83 anos, só três anos a mais que Mick Jagger que ainda está por aí, esbanjando energia e talento.
A caixa com os cinco CDs está à venda por aí, nos bons sites do ramo. Vale a pena.

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