Por Ronaldo Faria
Tempos loucos e perdidos, entre
os minutos e o desatino. Coisa sem graça e gracejos, ensejos e beijos mil,
lambidos e jogados a esmo aos corpos no cio. Cânticos e vozes vorazes entre o
ser e estar, ficar e deixar, feito gato e sapato, capacho. Tudo tão perto e desperto que
parece o limite de tempo entre o sexo e o feto. Talvez um copo despejado e
desejado nas pernas da amada, quem sabe um pólen disperso de qualquer fada.
Tempo de exorcismos, de
crenças descrentes, enchentes desbragadas e passadas, ansiadas, caladas, presas
em cada peito que sonha com sinhá para despertar sem algemas, grilhões e pelourinhos
cheios de corações pelados. Tudo em algoritmos que não juntam alhos e bugalhos,
fagulhas e fogos em brasa, gracejos e graças louvadas. Talvez um devaneio sem
razão. Um razoável momento de embriaguez entrecortado de segundos que logo são,
foram e nunca mais serão.
Tempo de Verão, de praias
espraiadas entre ondas e espumas, corpos jogados na areia e embebidos de vodca
e cerveja, madrugadas ritmadas de sons do mar e a brisa de um coqueiro que o
poeta chamaria de fagueiro. Tudo entrecortado de delírios alcoólicos, sonhares
melancólicos, gestos fálicos, silêncios eólicos. Na folia da mansidão, a mansa
forma de amar sabendo que nada volta dos tempos passados. Talvez um beijo
gravado em som e imagem, talvez a derradeira viagem.
Tempo de pensar e repensar:
valeu tudo? Onde querer recomeçar, como fosse a saudade um túnel do tempo? Nos
erros e acertos, certo desterro de quem fez o que deu quando deu e valeu. Sem gracejos
e sequer ensejos de podia ter sido diferente, vendo a vida de frente. Se não há
como voltar, nos volteios voláteis que o tempo nos dá, que fiquem o momento do
agora, o aforismo de outrora, a sedenta demência daquilo que há de vir para ser
o derradeiro e terno (eterno) lugar.