Por Edmilson Siqueira
Foi um desses encontros em que dois gênios se entendem. Um nasceu em 15 de agosto de 1925. O outro, mais velho, veio ao mundo em 4 de agosto de 1901. O mais velho morreu em 1971 e o mais novo morreu em 2007. O que ambos representam para a música em geral e para o jazz em particular não cabe numa enciclopédia. Mas eles se encontraram em julho e outubro de 1957 e gravaram um disco. Ou seja: além de tudo que fizeram com e para quase todos os outros músicos do mundo, deixaram um exemplo de harmonia, sofisticação e puro entendimento musical.
Já Oscar Peterson só mereceu, em sua longa carreira até aqui, elogios os mais variados. Uma unanimidade ao piano, um clássico do jazz que, com seu talento e elegância, já se inscreveu definitivamente na galeria dos gênios musicais.
As 16 faixas do CD (no LP eram 12) nos dão 70 minutos e 21 segundos do mais puro prazer musical. À voz rouca e deliciosa de Armstrong se junta o piano exato, preciso, econômico de Peterson e a gente ainda ganha, de lambuja, vários solos de trompete, daquele modo de passear pelas notas das melodias como se elas fossem suas íntimas conhecidas (e eram mesmo), explorando todas as possibilidades de cada música, inventando caminhos e voltando ao rumo na hora exata.
That Old Feeling, Let’s Fall in Love, What’s New, Sweet Lorraine, Let’s Do It, I’ll Never Be the Same e outros clássicos do jazz são visitados pelos dois, mais Herb Ellis na guitarra, Ray Brown no baixo e Louie Bellson na bateria. Uma aula cheia de prazer é o sentimento que fica após ouvir todo esse Louis Armstrong Meets Oscar Peterson. A produção do LP eu não conheço, mas a do CD é coisa de gente grande. Além de uma caixinha que se abre em três partes, com grandes fotografias dos dois, procurou-se mais espaço para manter o projeto original. O texto de Leonar Feather que saiu na contracapa do LP está lá, em letras miúdas. Mas, além disso, acompanha também um encarte de 10 páginas, com todas as informações possíveis sobre o trabalho, tanto o LP de 1957 quanto o CD de 1997, inclusive um longo texto de John Chilton, escrito especialmente para o CD em junho de 97.
Cá entre nós, só a música dos dois já bastava, mas a Verve é dessas gravadoras onde o respeito pela obra de seus artistas está acima de tudo.
O CD inteiro está disponível no YouTube neste endereço: https://www.youtube.com/watch?v=A5mZJ1Y9eLo