Às vezes o meu Rio de Janeiro volta incerto e brejeiro. Com rodas de umbanda, corridas na praia, porres sem saber. Um tanto de amanhecer e até ver o poeta maior, outro pouco de entardecer por detrás do morro que se enche de vidas e vozes.
Às vezes o meu Rio de Janeiro
se entrega em cheiros de creolina, odores de bares, fragrâncias da amada. Com
rodopios e pios do santo que baixa e sobe a cada cantar. E uma maresia que sobe
e fica, se larga e passa, entre o fim e a alegoria.
Às vezes o meu Rio de Janeiro se desvanece e se entorpece de relíquias mil sob um céu de anil. E pede a contradança à mais bonita mulher que pode ser par. E roda, rodopia, ginga e se joga para cada esquina infinita e finda que não sabe acabar.
Às vezes o meu Rio de Janeiro
nem sabe quem é. Talvez seja uma cidade ou, senão, apenas o corpo de uma
mulher. De Deodoro a Marechal há muito a seguir. Do Leblon até o Jacaré tem
quem dá adeus e quem nunca aceita dar sequer uma ré.
Às vezes o meu Rio de Janeiro
me deixa entregue ao léu. Meio Maracanã em dia de Flamengo, meio saudoso do
dengo da índia que vivia depois do Irajá. Afinal, a Cidade Maravilhosa não tem
muito lugar. É em cima do morro, no asfalto e ou só acolá.
Às vezes o meu Rio de Janeiro
surge em novembro, fevereiro ou dezembro. Pouco importa, desde que haja entrada
e, na saída, uma porta. Daqui exilado, não troco o samba pelo tango, mesmo a
ter todo o respeito pelo som imortal de um frevo.
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