Por Ronaldo Faria
“Diz-se que no Lunário Perpétuo, que
correu por décadas o Nordeste do passado, se oferecia conselhos e orientações
sobre os mais variados aspectos da vida, incluindo tabelas das fases da lua, dos eclipses do sol e festas móveis, previsões do tempo, horóscopo,
elementos do Direito, navegação, Teologia, saúde, agricultura, dicas culinárias, feitiços, maneiras
de interpretar o comportamento dos animais, biografias de santos e papas, e
outros muitos dados de interesse geral. Era como que uma enciclopédia popular.”
Vai
senhor dos horizontes tardios, num caminho pelas terras que secaram de tanto
sol e chuvas que nunca chegaram. Segue nesta estrada que há muito não vê
formosura. Trilha rios que mostram a terra onde antes água havia, olha no fundo
do poço o esqueleto da jia. Seu coaxar não ouvirás. Talvez um barulho que
fluirá entre os pequenos ossos nas noites que o vento pouca paz trará. Talvez,
ainda quem sabe, irás enxergar uma nau catarineta no horizonte à imensidão da
solidão singrar. Ávido de marés e fés, grumete ou pivete desandará a buscar um
carrossel do destino.
Mas
segue senhor das brincadeiras tardias e vadias na curva turva que termina onde
começa o mar. Vai de espada em punho a enfrentar os monstros da madrugada.
Aprenderás, se o Lunário Perpétuo ler, magias mil para todo o mal poder vencer.
Senão, saberás quão difícil é ter a amada deitada em seu castelo de areia no
meio da montanha altaneira. Mas não desiste. Resiste em riste. Se cicatrizes
descobrir no rosto, faça-se louco e torto. A esse o inimigo poupa por sabê-lo
morto e roto. Mas, depois, quando te pensarem enterrado, foge das cova no
desterro de um sonho calado.
Assim,
não desiste senhor dos luares que de tão cheios se esparramam no sombreado da
mangueira que dorme entre sabores e cheiros. Descobre na enciclopédia popular
que podes ser fidalgo ou jagunço. Virgem senhora ou entregue Marília de um
Dirceu que não há. Se ler com calma o Lunário, verá que a família toda está lá.
Se não houver, erro na caligrafia haverá. E segue sob o sol intermitente que
queima a cabeça da gente. Viaja no tempo se como montasse uma nuvem ao vento.
Descobre chuvas, tormentas, trovoadas e unguentos. Para toda lágrima sempre
terá um lenço.
Logo,
nobre senhor, dono da própria alegria e sublime torpor, vai a seguir entre
curvas turvas que terminam Deus sabe no que se fará. Certamente, nas páginas do
livreto, descobrirás que podes ter o poder de tudo saber e mudar. Ao longe, no
mais longínquo pairar, algo mais do que uma cova rasa irá te esperar. Dono de
tanto conhecer em tantas lições de ser, não passarás pelo purgatório, notório
espaço de o limbo lamber. Lunário Perpétuo nas mãos, creia, entrarás por um
portal que em alguma página estará descrito como ilusão. Ao destino, um
cancioneiro de eterno menino.