Por Ronaldo Faria
Vou pensar algo de bom. Não me acordem, mesmo que a morte dê o seu tom. Daqui de onde estiver, vale o que for ou houver. Esteja eu embrenhado na maior tristeza ou no corpo de uma mulher. Seja, portanto, o tanto de poesia e cordel que der. Quem sabe, um dia, um sábio dirá para o sabiá que é preciso cantar diferente. Se não o disser, pouco importa: os sonhos não param diante da porta primeira.
Vou crer em algo que valha.
Seja o dia estar no final ou no corte derradeiro da navalha. Decerto, na
têmpora do vento haverá uma tectônica falha. Atônita, a mulher se desfará em
farfalha. Senão, sobrará um poema rasgado e tragado em goles e foles do
acordeom que se desdobra entre sol, céu e sal. Talvez um descrédito que desça
em féretro a estrada cheia de poeira e pasmaceira. Haja canseira.
Vou desatar nós e cozer roupas que possam vestir a maior nudez que se espalha na tez. Tocar cada pedaço de curva, tecer imbróglios e solitários solilóquios que nada enaltecem. Vou ficar ensimesmado a brincar de bolas de gude, sabugos de milho, caminhões de madeira já morta. Distante, o carcará se fará cantante para a morte do carneiro que mama calado. Do ar, descerá o derradeiro anjo infante.
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