Por Ronaldo Faria
“Quem tem amor, pode rir ou chorar”.
Vem me amar e me achar, na beira-mar.
Vem correr nos segredos e degredos da vida. Vem se descobrir semente a brotar.
Senão, seja feito demente a se debulhar de carícias e sevícias – onde tiver que
estar. No meio de tudo, a insidiosa senhora a transpirar saudades e versos mil.
Na filigrana que existe entre a alegria e a tristeza, um grama a mais. E uma
vastidão imensa de crenças e descrenças, saudades inauditas, verdades desditas.
Canções a voar pelos ouvidos, unções a cobrirem as feridas, ações a se
espelharem em espelhos incrustrados em tetos e se espalharem pelos corpos
utópicos transversos em músculos e tetas. Na madrugada suada e sem nexo,
perplexo o poeta vê-se amplexo a acreditar em tudo e crer no sexo. Nesse pouco que há,
haverá por quê?
Vem me perder e ser, no nosso
além-mar. Vem viver em degredo de futuro, em segredo permanente na semente
morta do augúrio. Vem saber onde andar e se ater. Senão, seja somente um
descrente sem verso ou repente – onde a fotografia se mistura à antropofagia de
morrer no eterno querer. No meio de tudo, tubérculos e amplexos desejos. No
quase nada que existe entre o passado benfazejo e o desejo terminal. Como
versos a escreverem blasfêmias para as fêmeas que se deitam tropicais aos
marinheiros quase animais. Na noite que já morreu, deletérios sonhos de amor.
Um náufrago maltrapilho e bêbado a suar com os raios de sol que teimam em
dizer-lhe que o além, num porto qualquer, o reencontrou. E se desvaneceu de
paixão, tesão e remissão.
Vem me antever, me descrer, no oceano a se fazer dragar e se drogar em tempos de verão. No prato a queimar no fogo, frango e estragão, na infinda sensação. No fim de tudo, cheiros mil, fome saciada, saudade amarga, brincadeira desfeita de estrelas e drama. No meio de tudo, a trama. A torrente de areias e ondas no labirinto de outra história. Degredo aqui, segredo ali. No meio de tudo, um mar sem começo e sem fim. Talvez um alvoroço rouco e destrambelhado que vem e vai, um desvão nas notas da canção que caem. Uma cachoeira banida das pedras que deixa seus pingos descaírem incrédulos e imensos, em incensos, nos credos sobre amantes fechados no quadrado e achados e perdidos num balcão qualquer. Ao longe, um mendigo delicia-se à colher.