Por Ronaldo Faria
Vida, premência
premida a si.
Tempo, no que há
meses se foi.
Vida, cataclismo e
cismo.
Tempo, sem espera
ou era.
Vida a verter
secundária.
Tempo, vaticínio e
declínio.
Vida no emaranhado
do nada.
Tempo, anuência da
ausência.
Vida de voltas e
versos retos.
Tempo de limites em
prestos.
Vida insípida e
tortuosa.
Tempo, cadafalso
sem volta.
Vida de notas em
notas ao piano.
Tempo embriagado
de si mesmo.
A esmo, ambos num
só e em dois.
Senão, tempo e
vida entremeados.
Ritmos
tresloucados do fado.
Inférteis reversos
do que se foi.
Beijos largados em
um sem dois.
Madrugadas vazias
e o logo depois.
Inexistente
alegria à alegoria da manhã.
No silêncio, vida
e tempo – travestidos de si.
Talvez um poema
sujo e rasgado.
Um taciturno
amante carrancudo.
A mulher de seios
nus ao sol do mar.
A vastidão de um
eterno luar.
A canseira de eira
e beira, a se beirar.
Um tanto de areia
e olvidar.
Ir e seguir, à
vida e no tempo.
Seguir e voltar,
ao tempo e a vida.
Um deixar para
velas ainda singrar.
O barco que
afundou sem aportar.
Âncora jogada às
pedras de qualquer lugar.
O tempo a dormir,
a vida a acordar.
Ao som de João
Donato, morrer para despertar...