Por Ronaldo Faria
Helena Meirelles, uma musicista raiz, uma mulher incrível. E é só.
Por Ronaldo Faria
Ele pegou o primeiro ônibus que veio. Com hora marcada para ir e voltar. No ato, o asfalto pipocava milho transgênico e torrava ovo quebrado de sobressalto. A fumaça subia feito mato queimado. Tinha cheiro bom e fuligem ruim. Mas cadê a coragem de andar mais do que aquilo que se anda para viver? O sol, milimétrico e hermético em sua inconsequente forma de cozinhar neurônios, despeja suor pelo corpo e deixa sua trilha de passos largos e difíceis no subir e descer de ladeiras e benzedeiras.
Por Ronaldo Faria
Por Edmilson Siqueira
Emílio Santiago foi, sem dúvida, um dos melhores cantores que o Brasil já conheceu. Sua voz segura, afinadíssima e a presença marcante fizeram desse carioca nascido em 1946, um grande vendedor de discos e um criador de vários sucessos e, além de levar novamente às paradas ótimas regravações de músicas mais antigas.
Mas nem sempre foi assim. Contratado pela Phillips-Polygram em 1975, depois de gravar um LP pela CID, ficou por lá durante dez anos, lançando um LP por ano e vendendo, no máximo, 10 mil cópias, um número bem baixo para o tamanho do Brasil.
Seu produtor à época era Roberto Menescal que, segundo depoimento dado ao programa Starling Cast, jamais conseguiu que Emílio gravasse um disco do jeito que ele pensava ser melhor. "Meu público não aceita esse tipo de música", dizia Emílio a Menescal.
Roberto Menescal era um produtor de sucesso e só saiu da Polygram para se associar a um amigo e criar uma produtora própria. E o primeiro cantor que procuraram para um novo projeto foi justamente Emílio Santiago. Por quê? Menescal disse que foi um guru que lhe soprou que, não havendo nada de novo já perto do fim do século, ele teria de apostar em algo já existente para fazer sucesso.
Emílio hesitou a princípio abraçar o projeto de Menescal e seu sócio, dizendo que não era seu estilo e que seu público não iria gostar. O sócio, segundo Menescal, foi mais incisivo: "Que público, Emílio? Aquela meia dúzia de pessoas eu vi ontem na plateia?" Diante da realidade, Emílio pediu para pensar. Menescal aproveitou: "Você tem até amanhã para decidir. É pegar ou largar!"
Acho que os deuses da música interferiram na cabeça de Emílio naquela noite e, no dia seguinte, ele topou.
Resultado: o disco do projeto que recebeu o nome de Aquarela Brasileira foi um sucesso e vendeu 850 mil cópias. E o projeto que era pra ser de um disco só, virou mais seis, vendendo perto de 6 milhões de cópias.
"A ideia era simples: regravar músicas que foram sucesso, sem solo praticamente, é um show em que o cara canta o tempo todo", revelou Menescal no programa. E disse ainda que Emílio, que "dormia num sofá-cama", um ano depois estava morando numa cobertura duplex em Copacabana e ficou milionário, tantos foram os discos vendidos e os shows que fez pelo Brasil afora. Depois dos sete Aquarela Brasileira, Emílio ainda gravou mais treze LPs, até 2011.
No dia 7 de março de 2013, Emílio deu entrada no Hospital Samaritano, em Botafogo, onde ficou internado na UTI após sofrer um acidente vascular cerebral. Ele morreu às 6h30 da manhã do dia 20 de março de 2013, aos 66 anos, por complicações no quadro clínico de AVC isquêmico, na falta de circulação sanguínea no cérebro.
Muitos dos discos de Emílio Santiago estão disponíveis tanto para compra, nos bons sites do ramo, como para ouvir no YouTube e outras plataformas de música.
Por Ronaldo Faria
(Ao som do Barão Vermelho)
Perto, perto, perto, muito perto e tão longe, tantã no afã, híbrido e louco. Pesadelos reais e recorrentes a cada dia, insofismáveis verdades que irrompem de dentro, sabe-se lá de onde. Aos poucos, a chegada da ferida que não sara, a vontade insana de rever a filha, a tristeza que lateja e sobrevive sem derrear. Talvez falte pouco, bem pouco, num desejo inclemente e profano de sair do jogo. Como fim de campeonato, não importa sequer para aonde a bola rola. Mesmo se há bola. Resta agora a vontade da degola, do gole inquieto, do despertar do feto da morte. A saudade é maior do que tudo. O vazio é impreenchível. E foda-se o que for dito depois que eu me for. Doente, depressivo, inconsequente, doente mental. De boa, caguei geral. Quero apenas juntar as cinzas de um e do outro animal. Depois e daí, seja o que for, na alegria que vier ou na obscura e verdadeira dor...
Por Ronaldo Faria
Lua lunar que vagueia no crescer dissonante como uma balada no asfalto, porque escondes o rosto em desgosto de abandonar o lar que era uma pocilga proscrita em indelével quadro de fotograma só? Jeito de frágil e ágil na fuga para o nada, onde estarão teus beijos sem amor? O que dizer da saudade e o que falar da volátil realidade de se estar vivo por segundos e dor? Hoje, perguntas se fundem e se unem em quadrantes alcoólicos e torpes, entorpecidas lacunas em plêiade singular na busca do melhor verso, em presto, pronto para dizer tudo sem nada falar. Tudo como um irreal e volátil desejo de ser. Sem asco, o mendigo dorme nos beirais e esquinas da vida.
Por Edmilson Siqueira
Na contracapa, uma apresentação dos dois músicos autores desse disco, mostra bem o que se ouvirá quando a música começa: um trabalho da melhor qualidade que mistura as raízes da música popular brasileira com a qualidade de dois instrumentistas que, sozinhos, já seriam antológicos. Juntos, formam uma espécie de parceria perfeita.
Zé da Velha e Silvério Pontes têm vários discos gravados, mas vamos falar aqui de um só, cujo título é "Ele e Eu", o que já diz muito sobre a afinidade de ambos.
Mas, diz o encarte: "A nossa grande afinidade musical resulta num trabalho novo, com uma sonoridade contemporânea, sempre em busca de novos caminhos. Alegre e vibrante, nossa música é boa para ouvir e boa pra dançar. Não vamos deitar na sombra do boi. Queremos estar sempre renovando nosso trabalho, sem fugir às origens." (Zé da Velha)
"É um casamento perfeito. Um olha para o outro e a música sai, espontânea. A cada vez que ticamos uma melodia, ela sai diferente." (Silvério Pontes)
O repertório é recheado de choros e sambas clássicos da nossa MPB. São 13 faixas que começam com "Flamengo" de Bonfiglio de Oliveira e segue com "Ela e Eu", de Pixinguinha e Benedito Lacerda; "Voltei ao Meu Lugar" de Ivan Paulo da Silva; "Pecado Capital", de Paulinho da Viola; "A César o que É de César", de Bonfiglio de Oliveira; "Cordas de Aço", de Cartola; "O Trombonista Romântico", de Carlos Lima do Espírito Santo; "Falsa Bahiana", de Geraldo Pereira; "Degraus da Vida", de Nelson Cavaquinho, Antonio Braga e César Brasil; "Sem Compromisso", de Geraldo Pereira e Nelson Triqueiro; "Cheguei", de Pixinguinha e Benedito Lacerda e "Alvorada", de Cartola, Carlos Cachaça e Hermínio Bello de Carvalho.
Uma coleção de músicas irrepreensível, que mostram não só a riqueza melódica da música brasileira como o talento de dois instrumentistas que representam, junto a um excelente time de músicos, a resistência da boa MPB que ultrapassa e supera qualquer modismo passageiro.
Por Ronaldo Faria
Por Edmilson Siqueira
"Quando Eric Clapton e eu nos conhecemos, começamos uma amizade baseada no amor pela música, nutrida na herança mútua que compartilhamos e, em última análise, expressa na maneira como lidamos com os outros. Desde a nossa primeira interação, reconheci sua intensidade e fidelidade sobre a música."
O trecho acima faz arte do encarte do disco e é assinado por um dos artistas, ninguém menos que Wynton Marsalis. O disco se chama Wynton Marsalis & Eric Clapton Play The Blues. E, claro, a união desses dois comandando uma sessão inteira de blues, com o grupo de Marsalis do magnífico teatro do Lincoln Center de Nova York, só podia ter um excelente resultado.
A segunda faixa, "Forty-Four" (Chester Burnett), já é mais lenta, mas sem perder a intensidade de um vocal bem mais próximo do blues tradicional.
Depois de dois blues pesados e rápidos, muito bem interpretados, o clima se acalma um pouco para "Joe Turner’s Blues" (Willian Handy e Walter Hirsch). É a deixa para Wynton soltar o sopro em seu trompete e a guitarra de Clapton chorar sentida.
Um clássico clarinete solta as primeiras notas para ser seguido pelo firme trompete de Winston na quarta faixa - "The Last Time" (Bill Ewing e Sara Martin). Depois de um solo aplaudido do clarinete, entra a parte cantada do blues, acho que na voz de Clapton.
A quinta faixa é "Careless Love" (Willian Handy, Martha Koenig e Spencer Willians) e, não fosse a parte cantada, poderia ser confundida com aqueles velhos blues que acompanham enterros de artista no sul profundo dos Estados Unidos.
O disco prossegue com ótimas performances não apenas dos dois principais astros, mas de todo conjunto que atua sob o comando de Wynton Marsalis no Jazz AT Lincoln Center, uma escola de jazz das mais notáveis, encravada no portentoso prédio do Lincoln Center, ao lado do Central Park em Nova York.
Quando dois artistas geniais se encontram e se propõem a gravar um CD/DVD ao vivo e se cercam de ótimos músicos, o resultado não pode ser menos que sensacional.
O DVD está inteiro à disposição de quem quiser ver e ouvir o ótimo show dos dois: https://www.youtube.com/watch?v=8s7xUCe89qk .
Por Edmilson Siqueira Sabe aqueles músicos que são uma fonte inesgotável de talento, que tudo que fazem e gravam se torna clássico? Pois W...