Por Edmilson Siqueira
O disco começa com uma voz apresentando a cantora à plateia. Depois da apresentação, palmas e ela começa a cantar, a princípio sem qualquer acompanhamento. A música é um clássico: "Over The Rainbow" E. Y. Hairburg e Harold Arlen). A voz é segura e a interpretação beira à perfeição. Quando o acompanhamento se faz presente, melhora ainda mais. Se você está ouvindo sem saber do que vem a seguir, vai pensar, certamente, que se trata de uma ótima cantora e que o repertório será de músicas lenas, com violinos chorosos e uma performance vocal muito boa, mas parecida com outras cantoras que vivem da gravação de standards da música norte-americana.
Mas, quando começa a segunda música, já dá pra perceber que toda a qualidade da primeira tinha algum significado: a cantora é Jane Monheit e seu repertório é ótimo.
Gravado ao vivo para um DVD, no Rainbow Room, que fica no 65º andar do Rockefeller Center em Nova York, em 2003, de onde foi extraído o CD, já na segunda música, que começa com um contrabaixo suingado, Jane explora as possibilidades jazzísticas de "Just Squeeze Me" (Duke Ellington e L. Gaines), mostrando qualidade de improvisos das grandes cantoras de jazz.
E Jane continua com a nossa música na quarta faixa, onde ela canta a letra de Ray Gilbert para a mús8ca de Jobim e Aloysio de Oliveira, a maravilhosa "Dindi". É outro momento marcante no disco.
A quinta faixa é "More Than You Know" (W. Rose, E. Vincent, E. Eliscu e Youmans) mantém o clima de jazz e também serve para Jane mostrar suas qualidades vocais com alguns scats muito bem colocados.
O disco todo acaba sendo, pra quem não conhece a cantora, uma grande e agradável surpresa. E para os brasileiros, ela volta a encantar na décima faixa. A introdução séria da orquestra, em tons graves, prepara o clima para o hit de Ivans Lins e Vitor Martins, "Começar de Novo". E ela canta em português! Outro show de interpretação que chega a emocionar.
Mas bom mesmo é quando, na décima-quinta faixa ela ataca de "Waters of March" de Jobim. Antes de cantar ela diz algumas palavras elogiosas citando Antonio Carlos Jobim, como uma reverência ao nosso maestro soberano. A interpretação de "Águas de Março" é de uma cantora com total intimidade com o a complicada letra e os mais complicados ainda caminhos da melodia, com suas modulações todas. Não fica a dever nada para as melhores gravações da música, inclusive com um final totalmente inesperado e diferente.
Por fim, "Some Other Time"(Betty Comden, Adolph Green e Leonard Bernstein) fecha um disco sob aplausos demorados da plateia.
Tanto o DVD quanto o CD ainda estão à venda nos bons sites do ramo. E o show pode ser ouvido e assistido na íntegra no YouTube em https://www.youtube.com/watch?v=1N3_s-dyRPs .