Por Ronaldo Faria
Como é difícil largar tua mão com os dedos a correrem sem querer se largar. Se deixando e se agarrando, pedindo “não se vá”. “Não me deixe”. “Não me deixe te deixar”. A palma molhada, o coração a palpitar. Paixões passadas, presentes, pedintes, ausentes. À espera de um tempo que virá e verterá uniforme, único, sôfrego, escondido num canto qualquer do coração.
Por isso é difícil largar tua mão.
Como é impossível não querer estar em teus lábios, entre línguas e afagos. Como
é improvável dormir longe do teu corpo, a me esconder num velho e inacabado
sonho louco. A ver que os dias passam voando, onde os segundos são nada e a
eternidade soa como uma prostituta vestida de cetins e purpurina, como uma
velha e pichada rima num muro da vida.
Por isso, lutando para ficar, a pedir tuas carícias, teu toque de dedos pequenos e rituais amenos, me vejo a grudar na tua mão sem querer mais largar. Entre carícias maldadas, olhares roubados, risos guardados, emoções desmedidas. Como poema feito num só fonema. Entre todo o vocabulário, apenas Zé.
Talvez dobrado, como retreta em praça de interior. Na
conta do que vier. Assim, um dia, nesta ou noutra “vida”, se prepare: não vou
mais desgrudar das tuas mãos. Vou domá-las, vê-las ao meu corpo correr, me
acariciar, tocar, brincar de dar prazer, gozar e chorar. A minhas farão o mesmo,
como o disparo de um cavalo a levar-te nua em pelo. E nossas mãos serão uma
única canção, nossos corpos verão o amor e a eternidade nos pedirá “tem dó”.
Senão, irá apenas implorar: “Tenham dó por ser o amor maior apenas um só”.
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