Por Ronaldo Faria
Incelências se iluminam nos olhos das beatas que rezam com seus terços e véus. As velas a queimarem na capela cobrem de amarelo o tanto que parece e se enaltece negro nas roupas das mulheres com suas peles velhas e enrugadas. Andrajos, homens aboiam o pouco gado que sobrou e a seca ainda não levou. Vão devagar a divagar o despropósito que há entre o irreal e o ilógico. “Nascer pra quê?” - questionava Longuinho. Mas, no sertão da caatinga sem começo ou fim, senão, não há o que se perguntar.
Mas as rezas enraizadas como a última esperança de quem nem sabe o que é dança, saídas de bocas sem dentes e dentaduras, tomam conta do lugar. Próximo, um último poço d’água marrom encharca a cacimba. Gargantas carcomidas de nada esperam nadar entre barro e líquido qualquer. No curral, a égua prenha prossegue seu parto em dor. Ao longe, uma queimada traz de volta e mata a terra que um dia o santo prometeu. Tudo como uma viagem travestida de solidão e redundante solitário lumiar.
Em meio a tanto entremeio, mágica ilusão sonha em brotar do chão. Quem dera e quisera fosse como estrela que vem, brota, aparece e desaparece num céu sem fulgor. No lamento sangrento do porco que é cortado de facão na barriga, a fadiga do boiadeiro que espera que o dono da terra batize outro petiz. No fogão de lenha, o cheiro é de comida que não foi carcomida pela realidade que existe em chiste. No quadro final que nenhum pintor criará, o pouco que, como diria o louco, faz de tudo um lugar.