Por Ronaldo Faria
Tijuca. Som de soul. Cercania de
morros e montes, balas tracejadas, trajetos de Zona Norte em mistura de
cadências, esquinas e sorte. Tijuca minha, do Tim que nasceu do lado, da
loucura da Maria e da doideira do Maia. Um monte de edifícios erguidos nas
décadas de anos que se perderam nos idos dourados de antigamente. Ruas agora
encravadas e cravadas nas favelas que acendem velas para os mortos das febres
vermelha e amarela, entre tiros de AR-15 e baforadas de um cachimbo de crack,
cheirada antevista, fumaça ao léu.
Tijuca berço meu, de brincadeiras sem
medo, pontapés sobre o gol e nada de chamego. Bairro de praças mil, de
bandeiras, Afonsos e Saens, todas hoje dignas de pena. Berço de cinemas,
sanduíches de atum frio, viagens loucas entre sussurros e fonemas, lambidas e
edemas. Cataclismos juvenis, prédios gigantescos de apenas quatros andares,
amores e limiares, mães de santo visitadas para dizerem o que a Leila há muito
havia dito e dava certo. Salve Maria Conga! Tomara os tambores do passado
voltem a bater no mesmo ritmo...
Tijuca de craques do futebol de mesa,
de peneiras que nos anos 70 traziam gênios por muito pouco ou nada quase
(tristeza que tão pouco também tivesse). Oblack, minha benção a ti, maior
atleta de minha vida. Mais de mil gols marcados. Tijuca de incêndios de papel
higiênico, de pesadelos malversados, de cobertas de taco, de um caminhar a
colégios públicos e mágicos, quase imaginários. Tijuca de um garoto cabeçudo e burrinho, que foi
crescendo e aprendendo meio solitário e outro tanto sozinho. Que por lá virou
rato de apelido, líder de arrimo, garoto em desatino. Pequeno de tamanho, de
sonhos e esquinas a cruzar. Um tijucano que pouco via o mar. Que até os 14 anos
era um ser da Zona Norte, entre a perseguição sobre telhados ao Cara de Cavalo e a morte insone e sem nome.
Tijuca, berço e manjedoura. Agora
digitada com o pouco de lucidez que ainda me afaga. Ao fundo, Tim Maia. Nosso,
meu e teu transverso mundo. Em passos de soul para buscar mais vodca no
congelador. Tu és, eu sou. Tijuca carioca. Agora cortada por metrô, para mim
ainda algo distante da infância, retrô. Com seus cachorros de bronze, talvez
chegada do bonde 11. Daqui, no calor abafado que te preenche na bacia
preenchida de morros, nos uivos dos cachorros a mostrarem que o bonde quer
subir na bala o ponto do senhor da favela de tal, te saúdo. Tijuca, começo de
tudo. No fim de quase nada, lembrei de ti, figura guardada no meu coração,
escondida no meu submundo. Onde o gigante, adormecido, te guarda entre esquinas
e parques, entre feiras livres e charques.
A ouvir, quase em alfa,
o Tim Maia.