Por Ronaldo Faria
Rita mínima, ali...
26/06/2017
No sorriso de não saber quem se é, vamos juntos a voar na lua cheia e na fé.
Por Ronaldo Faria
Rita mínima, ali...
26/06/2017
No sorriso de não saber quem se é, vamos juntos a voar na lua cheia e na fé.
Por Ronaldo Faria
Marias da vida, Marias tantas, antevistas, revistas, revisitadas, caladas, dramáticas, atávicas, translúcidas, coloridas de mil cores, dissabores, desamores, fervores, paixões, milagres, encontros, bailes de anos novos, escadas, cansaços. Marias de arriscadas caminhadas, camas desfeitas, afetos desdobrados em vidas paralelas, favelas e ruas pequenas de cidades quase nenhumas. Quiçá quadriláteros que se formam em formas e fôrmas para formar. Alguma coisa de sei lá o quê, nos tantos acentos que esse que tem, esteja certo ou errado. Que seja somente um tempo antevisto, cheio de premonições e unções, beijos largados e ungidos de passado e presente, algo ausente de um futuro que se espera, à quimera, nem que seja num lar regado de idosos famintos de tempos atrás, desses que só cada um saberá contar e recontar, se a memória deixar. Afinal, Marias são tantas e têm tantas têmporas para se ver e beijar que perpassam e passam tantas vezes que às vezes a gente nem vê. Surgem de repente, em rompantes, em meio a luzes e vórtices que nem sabemos se são verdade ou serão, senão. E ficam e permanecem, se esvanecem de tomar contar conta do outro, sabem que são donas e doutrina, que far-se-ão tatuagem eterna. E nós, míticos e místicos amantes à busca de um colo, de um ventre, espaço entre duas pernas e beijo rasgado de saliva e suor, um coração em diapasão igual, nos entregamos lúdicos e vorazes. Sem saber do que iremos nos envolver, ver e ser. Talvez uma gota em meio a um temporal, uma pétala perdida num campo de girassóis, um planeta esquecido numa galáxia irreal, sem ar sequer para respirar o último suspirar fatal. Mas, a vida não será isso: um eterno buscar aquilo que não se sabe o que se é? À busca da madrugada que se faz tragada em lufadas nada, um resto de lucidez para o tanto de loucura que vaza da tez. Daqui, vamos, à busca da verdadeira Maria, a brincar de ser ator, dor e morbidez. A certeza da lua que virá crescer fica pra depois. Diáspora que brinca de deixar de ser. Quem sabe um universo que vira verso somente porque o reverso mente pra si...
Por Ronaldo Faria
Mil, novecentos e setenta e oito. Início da faculdade de Jornalismo, depois de um vestibular maluco, com diarreia salvadora nos mais de 40 graus do calor da Piedade (nome próprio para um bairro suburbano carioca e cheio de mistérios que a vida dá e deu). Ano doido, pra variar doído, do medo de não saber como enfrentar tanta matéria deletéria e as portas do anfiteatro que se abria para receber a confirmação de matrícula. Como saber driblar as matérias obrigatórias previstas? Cada nome difícil. Cada etapa maluca em dois anos gerais, com sociologia, história, direito, economia, outras coisas mais. Depois, seguir mais uns dois de coisas loucas e direcionais. Optar, viver feito festa sem fim, em dias de chumbo e medo, luta e alforria. Valeu? Valeu. Passou? Passou. Ficou? Pra sempre ficará... no campus da PUC/RJ e suas matas de mil.
Por Ronaldo Faria
Coisa agora, coisa e tal.
Minimalismo no aforismo de algo animal.
Volta, tempo. Só por passar e pausar...
Por Ronaldo Faria
Um sonho a dois, como Milton já cantava. Aqui, na calada noite quase madrugada, um trago e uma lufada de vento que foge da rua para dormir quieto no quadrilátero que emerge em cada nota que se denota única e final nesse dia de saudades e ambiguidades entre a dor e a felicidade. Mas haverá diferença nos dois? A coisa doída pede ou pode ser coisa doida? Saber-se-á. Makulelê, makulalá...
Por Ronaldo Faria
Para onde ir? Entre perdas,
prisões, perpétuos amores, paixões desgarradas, o frenesi que a nada dá de
prazer. Talvez uma espera, uma rara quimera, tudo à vera. Inverossímil, milimétrico
no desajuste que a vida dá, em devaneios, permeios, pernas à espera de outras
pernas abertas, na plenitude e quietude que só a solidão dá. Dádivas e
devaneios mil, raros momentos de quartos escondidos onde vale um documento em
plástico roto e quase rasgado. No degredo do coração, um ser degredado nos
olhos da mulher. No segredo da fala que se esvai, em vala qualquer, o incêndio
que na madrugada se apaga de viver.
Como rir de si? Nos sofismas
dos abismos que se formam aos pés, prévias de um dia a mais, mágico e místico, prosopopeia
de luares perdidos numa beira de mar, escritos proscritos de tanto permear, sorriso
perdido na preamar, sol a esquecer de voltar para com o outro lado do mundo
prosear. O lugar? Aquele que vaticina o corpo desgarrado da mulher e menina que
corre nos pés que pisam a areia branca que voa para se juntar ao limiar que existe
entre a vida e o torpor. No tropel que ouço à distância, entranhas fogem do
corpo para a noite em escândalos poder fingir parar. Daqui ainda é possível
fugir para o despertar.
-- Tira a camiseta e o sutiã. Deixa, porém, a tiara. Vamos nos travestir de corpos nus, daqueles que sentem saudade imensa do calor, das veias que se escorrem em sangue, dos medos que nos dominam e desafinam quando estão numa cama que rebrilha em luzes estroboscópicas e disléxicas. Sejamos seda e seduções, soluços e goles, danças e lábios, carícias e corações translúcidos e lúcidos de que as horas são poucas e ocas no acaso que ocaso faz. E mais uma e outras separações chegarão. Talvez nunca haja nada mesmo além do que o degredo. Por certo, até decerto, pode nem haver ou existir um porto de chegada, daqueles que juntam dois num só e jogam em garrafas ao mar tudo que foi negado pelo destino em desatino.
Por Ronaldo Faria
No bar um violão se espraia às
vozes das mesas. Na letra, brinquedo de papel machê. Na janela, uma flor no
sachê. Cheiros de madrugada tragada e ensimesmada. Num canto, o casal se
acasala no quase nada que deveria ser uma sala. Não há solstício nem de inverno
ou de verão. Talvez um inferno impregnado de tesão. Na cantoria vil,
respirações, destratos e sermões. Nos pratos, salmões. No comer atrasado das
emoções, o risco de virar salmonela.
No bar um violão vai a violar
ouvidos e corações. Na música, dedos que correm as cordas. Acordados,
inebriados, enlutados de tardias lembranças, os casais se engolem em lambuzadas
lambidas e lambanças. Fora dali as cores de nuvens anuviadas diante do quadro
se transformam em labirintos que bêbados com labirintite desmaiam. Entre potes
e terras, uma flor antes morta se envermelha de todo. Dir-se-ia que ela
sobreviveu para sair do lodo.
No bar um violão estremece o silêncio que dorme nas mãos e bocas entrelaçadas de ilusão. Nos acordes, odes limítrofes entre a saudade e a dor. Uma conta aqui, outra acolá, um passear de pernas e prosas nos caminhos que as mesas transformam em mar. Rebentações nos pés curvados das mesmas. Copos que desfalecem e se esvanecem em luz. No cansaço do relógio que não para, a imensa cisão entre o paraíso partido e sua derradeira cruz.
Por Ronaldo Faria
Por Ronaldo Faria
-- Como eu vim parar aqui?
Serei eu um anjo, o demônio ou meu próprio veneno?
O homem se pergunta e assunta
sobre um ser qualquer. Se pensa morto ou à morte de uma mulher. Ser simplório a
comer sopa de colher. Ao que der e vier...
-- Como eu fui chegar aqui?
Serei eu uma metamorfose, uma coisa fóbica, a ilusão?
O poeta se questiona entre ser
humano ou linfoma. Se descrê no invólucro que há entre o desespero e o lucro. Oculto
de ser si mesmo, ensimesmado se dá...
-- Como eu nunca mais durmo? Serei
eu lobisomem que acorda a cada pesadelo que a falta de zelo faz surgir?
O esteta de si mesmo eterniza a inglória fórmula da felicidade no cantar febril. Um dia, quando não houver mais dia, o sono eterno há de sentenciar sua finda sina...
Por Ronaldo Faria
Restos de sons sugerem uma
dança inf(v)ernal, mas ainda estamos no outono. Inverno ainda há de chegar. O
inferno também. Qual virá primeiro? O derradeiro, será? Nesse tocar de singular
incongruência que a ciência dos homônimos dá, que vivam o músico, o ator, o
lume ou o violão e os versos de quem possa brilhar. Nas peças dos nomes, que se
preguem o derrocar e o eterno criar.
Por Ronaldo Faria
A vida se esvai na urina de um
banheiro de bar. No autoflagelo das noites que se madrugam enternecidas e
entorpecidas, num tanto de saideira, outros tantos de saudade, mais um pouco de
inverdade, maldade dos neurônios que se fazem e perfazem em simbióticas sinapses
neuróticas. Sob a ótica do meio vazio e meio cheio, o recheio de piano a untar
e juntar as bolhas do copo a borbulhar. No olhar da urna que guarda a vida, o
vento do ventilador que ventila a dor. O quadro dependurado, azulejo azulejado
e impresso, a pressa do impreciso até quando. Afinal, tudo na vida é mero
desmando. Talvez um xote, um baião ou um xaxado. Achado, quiçá. Hoje nesse
mundo, quisera estar na Ilha de Itamaracá. A ver Lia, esteja ela onde estará. E
nos acordes de um mundo de cifras e notas denotar que existe e sempre existirá
um novo lugar, um lagar, um largar. Na largura da métrica da semínima ou da coisa
mínima, a semiótica que há muito a ótica esqueceu. No lavradio de uma serra que
escapou da sanha da serra eletrificada, a espera da esporádica e errática
poesia que surge do nada. Que faz de um aprendiz de poeta que pouco leu e sabe
apenas um misto de alguma coisa um algo a se decifrar. De onde virá? Quem, na
verdade, escreverá? De onde surgem palavras, métricas, rimas, rumos e falar?
Como um engodo ambulante pode saber se expressar?
Mas a vida se esvai na urina de um banheiro de bar. Vaticina gotas e jatos no jorrar de lembranças, anchas e achadas sabe-se de onde lá. Liquefaz em cor de ouro o tesouro que cada um tem e traz. Transfixa o olhar inebriado da fila vencida, da porta que se abre para o universo de gotículas esparramadas no chão, histórias sem começo e fim, senão. Quem sabe um réquiem àquilo que termina, uma ode à esperança que germina, uma valsa para qualquer coisa que se acredita seja a próxima sina. Talvez novo amor, trocar de carícias e camas desfraldadas de fadas e fatos incertos e certos no limiar de do calor que só dois corpos entrelaçados sabem compor. E nova história será criada, nova lembrança será gerada, nova orgia escancarada. Para cada uma, a múltipla magia de acreditar que depois da noite vem o dia. Senão, a insensata crença de que o novo será novo de novo, como a galinha pensa a por o seu ovo. Mesmo que ele, choco, não gere a vida em colostro. Mas, de onde virão as ideias, as prosopopeias (seja lá o que elas queiram ser), as efemérides que dormem n’algum lugar e, de repente, surgem para se fazer par? Mistério etéreo e que naufraga no nosso mais íntimo e ínfimo mar, um dia, qualquer um desses que ainda teimamos percorrer e vivenciar, nos dê uma mera e simétrica resposta, nem que seja póstuma, só por dar ou, ao menos, tentar nos enganar.
Por Ronaldo Faria
Escada que faz dois cortes na
busca de um cortês documento pra provar que nada há. Mesmo como carioca daquela
gema que geme no asfalto de 50 graus do Rio de Janeiro e se faz ovo frito é
difícil decifrar as cifras que vêm de um Jorge a ser Mautner ou mais num mal
ter. Nas trevas que tentam turvar o violino do trovador há o sol que brilha
como um brilhante sem cor.
Mas que coisa mais louca essa
coisa de se mutilar sem querer só para rever algo que não há. No solstício de
um novo chegar, o agregar de um gaguejar do mudo que nem sabe que existe linguajar,
o vaticínio do equino que transborda de bolos de cocô a estrada de terra e pó.
Certamente ter-se-á no terço sem contas, na oração da canção, a se ver um
cavalo sem dó.
Mas que escada sem graça,
dessas de alumínio retilíneo e cortante, a nos pegar desprevenidos em procuras
e agruras. Logo ela, invenção do homem para ajudar o mesmo a subir na vida, nem
que seja de forma difusa e contumaz. Daqui, com Jorge Mautner a cantar, o José vai
ao fim de mais um fátuo dia, coberto de rimas e arrimos, a tentar voltar a falar
com os animais.
Por Ronaldo Faria
Brejeira, a mulher se despe de
rancheira veste e se joga na cama a sorrir com um desejo incomum, desses que o
mundo torce para servir de semente e se espalhar em cada amor desgarrado, em
cada espelhar frente à fronte que se une em línguas transversas a invadirem céus
da boca e do mundo. À volta, ínguas que doem a cada movimento torpe que
entorpece os amantes em prece para que nada acabe antes do fim previsto na
parafernália que invade a genitália. No absurdo do surdo que ouve além dos
sons, a sonífera amante voa entre colchas e lençóis, na perfídia a brincar de
inseto que infesta o salão de festa para estragar as lembranças do amanhã.
Altaneira, a amante infante e arfante
sobe e desce entre músculos e ósculos. Beija, boceja, se basta por ser alguém
que subjuga a fera do outro, rompe minúsculas entranhas e se faz, entrevada,
parte do tronco, cabeça e membros. Faz-se inteira, interagindo em cada
sensação, na próxima ação, na procrastinação quando tudo for somente passado, passeio
entre praias e paisagens, pesadelos e miragens. Deitado no arfar do beijo que o
tédio faz se perder derradeiro e formal, o homem nada se parece. Apenas,
solitário, faz um prece com um ser normal. No universo que se perfaz de verso, o
bêbado canta o lirismo que apenas emite o surrado jogral.
(Pro Zeca Baleiro)
Por Ronaldo Faria
Metamorfose de borboleta a
borboletear por aí, a ir e voltar, voar e revoar feito vento de soleira de
janela, que para no vidro que tudo vê e nada deixa entrar. Feito trejeito da
performance de bailarina que se despe de purpurina. Um pouco de angina
malfadada e deformada em pruridos. Passeios e anseios de ter um corpo à cama e
postergar por medos e ensejos o último e derradeiro momento isento de culpa e degredos.
Desejos jogados na estrada que nunca volta e teme a beira que se esgueira na
curva que mostra um infinito derrear. No fundo do coração saber-se-á que espaço
não há. Não há lugar para retornar, roubar de beijos extraviados, revirar
gavetas carcomidas pelos cupins que cheiram a jasmim. No mundo de universos
paralelos os versos não têm início ou fim. Não se transmutam na Babilônia com
odor de amônia e nem acordam de um sono perpetrado pela insônia. Simplesmente
viajam em andrajos de alma como almanaques escritos para vender a ilusão que se
perfaz acabrunhada como a voz esganiçada de qualquer cunhada acanhada. Nas vísceras
que vicejam um dia desgarrarem do corpo, acalantos de prantos partidos e
jogados a léu numa lenda esquecida nas páginas do livro nunca escrito, proscrito
nas entranhas da estranha senhora a gemer e gritar. “Venha, vida! Venha me
matar!” Do alto da igreja, o padre vocifera feito boi-fera a ferir o silêncio
que procrastina a derradeira sina. E o lugar adormece e padece feito o menino
que corre pelas ruas empoeiradas que um dia viram os passos da inocência
trilhar...
(Pro Zeca Baleiro)
Por Ronaldo Faria A noite rolava meio emblemática e meio trágica na sua atávica forma de ser e sobreviver. Casais se lambiam, se falava...