Por Ronaldo Faria
Tiro e bala para lá e para cá. Manda
ver, saravá. Fique de frente para o crime, mas não esqueça que muito ainda tem
que ser e outro tanto há de chegar. Para além do Pará, fica aqui e depois de
lá. Pega a primeira prostituta que não dorme na labuta. E escuta: em algum
lugar deve ter um pássaro a cutucar madeira e cantar. Deixa o corpo e deixe-se
levar. Receita segura: madrugada e meia garrafa de uísque a tomar...
Não se lembre de prosopopeias,
paródias ou gonorreias. Regozije-se de saber diferenciar a moça da velha. Viva
as madrugadas. Dê vivas à vida. Acredite que é possível o destino voltar. Veja
a amante como namorada loquaz. A enxergue entre fumaças quentes e fumacês
labiais. Fale francês. Libere o desatinado ato de querer. Lave-se de sêmen e
semântica, oratória e mera mixórdia. Não esqueça, no domingo, de ingerir a
hóstia.
Hostilize a morte. Beatifique cada
segundo vivido como o seu mais recente passado. Passe diante dos poderosos e
diga de peito cheio: “Sou um ignorante e analfabeto, sim! E daí? Vai querer
encarar?” Dê a cara para os tapas e esperneie como fosse seu único estertor.
Eternize os bons momentos, quando ela estiver contigo, nua, gemendo, ouvindo e
vendo. Penetrada e te engolindo de amor e prazer.
Se não souber o que fazer, não faça.
Coma Doritos! Siga os ritos e rituais. Cante em duetos e se esconda nos
próprios e próximos guetos. Grite! Amplifique o coro dos aflitos. Seja um
número a mais, se isso lhe apraz. Aprecie o próximo como um gótico. Saiba onde
fumar o derradeiro ópio. Em degredo, descubra a melhor forma de viver o ócio.
Mande o síndico tomar no cu. Aos domingos, não se esqueça de orar e introduzir
a hóstia.
Invada as madrugadas perdido de si e
do mundo. Afinal, não há ninguém mesmo para resgatá-lo, ampará-lo ou escondê-lo
entre grandes seios e lábios pequenos. O temor da solidão, saiba antevê-lo. E
esconda-o num canto qualquer, esperando chegar a mulher. Se puder, robotize-se.
Vire um genoma a ser estudado, um boi a ser castrado, um feto a ser abortado.
Mas não espere a morte chegar. Se não puder impedi-la, só de sacanagem antecipe-se
a ela. Quem sabe, de saco cheio pela sua traição, ela não te deixe viver!
E cante e dance. Pegue um travesseiro,
o mesmo que ela usa nas manhãs de amor, e rodopie pelo minúsculo salão. Sinta o
cheiro da amada e não se ressinta da falta da pele. Feche os olhos e, enquanto
der e puder, creia que ela logo irá substituir as penas de ganso. Afogue-o, se
tiver chance. Chantageie sua emoção. Diga para si mesmo que cinco contra um
pode ser uma seleção. Mas, por favor, por tudo o que há de mais sagrado e secreto,
derreta, aos domingos, a hóstia na sua boca, mesmo se essa tiver gosto de nada
ser.
Feliz tempo novo a todes nós!