Por Ronaldo Faria
Página com algumas letras
estapafúrdias que brotam sem saber porque e nem sequer se ali deviam estar.
Mas, estão. Fixas, claras, negras, deitadas sobre o fundo branco e sob os dedos
do poeta que nunca foi. Como um corpo estirado no estrado a fazer amor, entre orgia
e dor. Do alto, santos mil, negros e pretos, cheios de força e luz, jogam
pétalas de flores vermelhas e molhadas de gozo e ilusão. Senão, quem sabe a
inócua incerteza que a vela que agora veleja traz benfazeja a paz. Coisa de
corpo e alma, tragédia disseminada e livre só por ser. Brinquedo de cores que
buscam o inexistente e perplexo mar.
Página completa, transversa e
musical, dicotômica e atônita apenas por sê-la e ser. Algo próprio e perverso
no verso que vai e vem num vaivém. E notas trocam o traste do violão para
vestir de prazer e gozo que cada velho e cada moço se joga às vísceras abertas
da vida para apenas viver sem sangrar. Mas há amor sem sangue e sofrer? No desvanecer
da hora que dorme entremeada de lua e escuridão, as pedras no asfalto rebrilham
no chão. E vem e vão os minúsculos lábios que se tornam abertos para o
impossível que existe no real. E chega o fim, o derradeiro fingir e o saber que
a solidão estará sempre aqui.
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