Por Ronaldo Faria
Passadio frágil que percorre o
passado feito coisa que pode voltar de onde se sabe lá meu Deus. Talvez numa
cantiga antiga, num frouxo acorde que acorda memórias que mitigam por parecerem
reais, mesmo esquecidas num canto qualquer que ninguém sabe onde está ou de
onde vem. Um samba, um Verão que se faz chuva entre nuvens e águas que desaguam
meninas e infindas, a refrescarem o mato que cresce e desvanece feito coisa
qualquer, como fosse a vida apenas calor, torpor e algo sem fim.
Manhã passageira e fagueira,
frágil e fátua, feito amor que se desmancha em beijos perdidos na mata que desabrocha
línguas e lânguidas saudades frouxas e enfastiadas de ser. Talvez, num talvez
sem vez, a volta de passos corridos num subúrbio distante, equidistante entre a
realidade e o além. E lá se vão dias que nunca voltarão, sensações que se
perderam em senão, sombrias orgias em estradas que se enredam de ilusões e
tesões espremidos ente mantas e mantos nas mãos da amada que acariciam em vão.
Corridas da rua até a linha de
trem, do trem para a avenida, da avenida para a vida entorpecida de medos e
magias e tragédias mil, feito céu que se desbota ente o cinza e o anil. Igual
imaginação que se perde entre os seios e o quadril, numa velocidade que em
segundos vai de zero a mil. Coisa que brota às madrugadas e se desfaz num
assento sem acento como se o vocabulário fosse banal. Como palavras enviesadas
e fadadas ao fado que se arrasta numa rua de paralelepípedos e epítetos soltos
ao tempo.
Mares e marés feito barco
perdido nas torrentes e correntezas que jogam ondas e rios com trejeitos de
cores e odores, adoradores de vestes jogadas ao chão nas peles desnudas e
surdas para tudo que foi largado do lado de fora, afora e em aforismos. Quem
sabe lá um pernoite entre os afagos e os afogados de saliva e línguas, aqueles
que se misturam entre anzóis de braços jogados nos lençóis e abraços perdidos
na partida que delimita o que há além do cais que a tantos assusta e a outros
tantos apraz.
Num salão de baile, a rodar e bailar,
o casal se esquece das luzes que brilham lá fora entre faróis e alforrias, sombras
esguias de um sol que teima em se esgueirar nos quartos que escondem a condessa
e o conde, condecorados pelo imperador que antevê a dor. Mas quem saberá o momento
certo de antever aquilo que nem a vertente do vento denota às vórtices da voz
que mente e desmente aquilo que vem à mente em letras e frases, prosopopeias e epopeias,
finitas e derradeiras, à beira do caos.