Por Ronaldo Faria
Para onde ir? Entre perdas,
prisões, perpétuos amores, paixões desgarradas, o frenesi que a nada dá de
prazer. Talvez uma espera, uma rara quimera, tudo à vera. Inverossímil, milimétrico
no desajuste que a vida dá, em devaneios, permeios, pernas à espera de outras
pernas abertas, na plenitude e quietude que só a solidão dá. Dádivas e
devaneios mil, raros momentos de quartos escondidos onde vale um documento em
plástico roto e quase rasgado. No degredo do coração, um ser degredado nos
olhos da mulher. No segredo da fala que se esvai, em vala qualquer, o incêndio
que na madrugada se apaga de viver.
Como rir de si? Nos sofismas
dos abismos que se formam aos pés, prévias de um dia a mais, mágico e místico, prosopopeia
de luares perdidos numa beira de mar, escritos proscritos de tanto permear, sorriso
perdido na preamar, sol a esquecer de voltar para com o outro lado do mundo
prosear. O lugar? Aquele que vaticina o corpo desgarrado da mulher e menina que
corre nos pés que pisam a areia branca que voa para se juntar ao limiar que existe
entre a vida e o torpor. No tropel que ouço à distância, entranhas fogem do
corpo para a noite em escândalos poder fingir parar. Daqui ainda é possível
fugir para o despertar.
-- Tira a camiseta e o sutiã. Deixa, porém, a tiara. Vamos nos travestir de corpos nus, daqueles que sentem saudade imensa do calor, das veias que se escorrem em sangue, dos medos que nos dominam e desafinam quando estão numa cama que rebrilha em luzes estroboscópicas e disléxicas. Sejamos seda e seduções, soluços e goles, danças e lábios, carícias e corações translúcidos e lúcidos de que as horas são poucas e ocas no acaso que ocaso faz. E mais uma e outras separações chegarão. Talvez nunca haja nada mesmo além do que o degredo. Por certo, até decerto, pode nem haver ou existir um porto de chegada, daqueles que juntam dois num só e jogam em garrafas ao mar tudo que foi negado pelo destino em desatino.