Por Ronaldo Faria
Marias da vida, Marias tantas,
antevistas, revistas, revisitadas, caladas, dramáticas, atávicas, translúcidas,
coloridas de mil cores, dissabores, desamores, fervores, paixões, milagres,
encontros, bailes de anos novos, escadas, cansaços. Marias de arriscadas caminhadas,
camas desfeitas, afetos desdobrados em vidas paralelas, favelas e ruas pequenas
de cidades quase nenhumas. Quiçá quadriláteros que se formam em formas e fôrmas
para formar. Alguma coisa de sei lá o quê, nos tantos acentos que esse que tem,
esteja certo ou errado. Que seja somente um tempo antevisto, cheio de
premonições e unções, beijos largados e ungidos de passado e presente, algo
ausente de um futuro que se espera, à quimera, nem que seja num lar regado de
idosos famintos de tempos atrás, desses que só cada um saberá contar e
recontar, se a memória deixar. Afinal, Marias são tantas e têm tantas têmporas
para se ver e beijar que perpassam e passam tantas vezes que às vezes a gente
nem vê. Surgem de repente, em rompantes, em meio a luzes e vórtices que nem
sabemos se são verdade ou serão, senão. E ficam e permanecem, se esvanecem de
tomar contar conta do outro, sabem que são donas e doutrina, que far-se-ão
tatuagem eterna. E nós, míticos e místicos amantes à busca de um colo, de um ventre,
espaço entre duas pernas e beijo rasgado de saliva e suor, um coração em
diapasão igual, nos entregamos lúdicos e vorazes. Sem saber do que iremos nos
envolver, ver e ser. Talvez uma gota em meio a um temporal, uma pétala perdida
num campo de girassóis, um planeta esquecido numa galáxia irreal, sem ar sequer
para respirar o último suspirar fatal. Mas, a vida não será isso: um eterno
buscar aquilo que não se sabe o que se é? À busca da madrugada que se faz tragada
em lufadas nada, um resto de lucidez para o tanto de loucura que vaza da tez.
Daqui, vamos, à busca da verdadeira Maria, a brincar de ser ator, dor e morbidez.
A certeza da lua que virá crescer fica pra depois. Diáspora que brinca de deixar
de ser. Quem sabe um universo que vira verso somente porque o reverso mente pra
si...