Por Ronaldo Faria
No sertão crispado de mortes e pequenos fetos que viraram fátuas pétalas a forrarem o solo seco, vozes vazias e cavalos magros e tordilhos se foram a trotar em dança as valas mortas. No salão, numa valsa, a bela brindava corpos e notas, ia às mesas mais tortas de copos e garrafas pesados, sentava-se com seu vestido de um azul lilás, bebia um ou dois goles, engolia palavras e frases, se esvaziava de sangue no choro escorrido dos olhos carcomidos pelo vendaval. Na cozinha, o mestre-cuca sujava de gordura o seu avental. Lá fora, entre aforismos e calçadas cheias de gente a esperar o trânsito parar, luzes chapiscavam de negror as gotas que brincavam de se atirar no chão. No todo, um ônibus, desavisado da poesia do tudo, as jogava para longe, conspurcando de realidade o quadro final. Num apartamento acima, onde se guardava a morena mais brejeira do lugar, duas mãos trançavam de ilusão e emoção a pincelada final. Da portaria, o interfone chamava o sono para acordar. A vida chamava para o tempo se fazer renascer.
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