É noite, dessas quem não se sabe é fria ou quente. Daquelas que corre no asfalto e se dobra em esquinas infindas que terminam numa mesa de bar ou na cama. Em copos molhados de suores de cerveja ou corpos encharcados nos suores do amor. No ar, o som de Lupicínio Rodrigues. No cair de luares e vozes do vinil, a solidão de uma bola que brilha entre o amarelo e o prata, envolta num espaço que esbarra na geometria que a cidade dá e tira, que se estira em ilusões e premonições, lições que o passado não destrói.
É noite, as pessoas entoam uma
canção monocórdica onde, crê-se, a felicidade chegará. Nos trilhos que correm
em trilhas submersas, dessas que se entranham entre um coração e um pensamento,
o lamento da amada que se embrenha desnuda ao nada, a intrínseca inverdade que
teima entre viver e morrer. Ao longo do universo que se desdobra em letras, sílabas
e versos, o reverso que a solidão perfaz. Ao fundo, um som performático de
jazz. Ou será um blues ou nada que se derrama sempre no início sem começo, meio
e fim?
É noite. Abre-se o leque de
oportunidades, fortuitas saudades, imensas dores que descobrem na realidade
seus estertores. E vão-se goles, goelas secas, coloridas luzes que se misturam
de neons e faróis. Como pescadores, são lançados os anzóis nas almas que jogam
no mar na ilusão para navegarem na razão. Mas há razão nas perdas e pernas que
se envolvem na liturgia da conquista e da volúpia que se derrama nas palavras e
olhares? No cabaré, entre a lâmpada volátil e o amor tátil, a tradução do que,
em lágrimas, fez-se retrato.
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