Por Ronaldo Faria
Um coração surgiu de repente no copo de vinho após quase 20 dias sem beber. Toque do além? Nada além de uma luz qualquer? Sei lá! A ouvir Zé Renato, estar vivo e beber, nada precisa ter resposta. Ela já está posta!
Por Ronaldo Faria
Um coração surgiu de repente no copo de vinho após quase 20 dias sem beber. Toque do além? Nada além de uma luz qualquer? Sei lá! A ouvir Zé Renato, estar vivo e beber, nada precisa ter resposta. Ela já está posta!
Por Ronaldo Faria
Simbiose ou osmose? Onde se misturam as emoções e as desgarradas sensações que dobram esquinas, sinas, sanguinolentas notas que lembram a única música aprendida num violão – o Samba de nota só. Hoje, porém, é só cantada, virou nas dedilhadas mero pó. Afinal, nada mais era do que conquistar a morena artista e violonista erudita nos primórdios do amor. E ela se foi, junto com os prédios do Leblon, o tom e o som. Rio de Janeiro, matreiro e guerreiro, feito São Sebastião. Coisa de nascedouro, mistura de cheiro de creolina (que tanto amo) e de um tesouro encontrado nas areias que servem de nascedouro e morredouro de um mar que se acalanta nas coxas da mulher que desvanece no quase luar. Hoje, mais uma vez e sempre, meu Rio voltou – imenso, sedento de lembranças, ancas da índia primeira e amada do Méier, de cabelos longos, trovas e coisas alhures num sempre talvez e na vez da cascata que cai em Cascatinha. Quem sabe a musa etérea e louca de Ipanema na loucura que cada um de nós tem, ou a moça de Madureira, a outra de Olaria, aquela de uma orgia qualquer numa ilha ou no Sul do Brasil. A de Copacabana a deflorar o poeta/menino em tesão. Simbiose ou osmose? Saber-se-á. Só vou dizer, como a canção mostra: o amor foi feitinho pra dar...
Por Ronaldo Faria
Por Ronaldo Faria
O mar se derrama em ramas de espumas, idas e vindas. Transborda na areia e pés, brinca de frio e verve. Serve ao movimento pleno e sorve emoções, unções e porções de paixões. É um universo de frases soltas, roupas soltas, rotas rotundas. Na entrega que se desfaz em urgências e premências, a incerteza da razão.
Quem sabe um beijo translúcido
e opaco, um abraço desfeito de fato, uma nuvem que se esconde do sol que morre embriagado
e volátil, impregnado de parafernálias mil. No pouco de anil que resta, a
festa. A chegança malfadada de mais um dia que se esvai, a loucura da noite que
se entrega à regra do nunca mais.
Por Ronaldo Faria
Cheiros, luzes e odores, vapores
e descarregos ao luar minguante, infante e à natureza secular. Quem sabe um
quase inverno entre o paraíso e o aluar. Desses momentos que a gente sabe que
existe entre o que é o real e a realidade. Como um coração, diria o poeta,
ainda batendo dentro do peito. Presto ou afeito às besteiras que eclodem e
explodem em sinergia que diz apenas, às penas, que o momento é afeito ao feito
que um dia poderíamos ter feito no proveito ou aceito. E o tempo nos impediu,
impeliu, implodiu sem sequer perguntar se o melhor foi ou pior será. Do trono
do destino o grão-mestre estava, nessa hora, está a cagar.
E o amante que habita no santo
que desce pensou: “No dançar do forró/festa a que fomos levados, lavados e
enlevados nos corpos de dois num só, na brincadeira intermitente da felicidade
que nos foge entre os dedos e medos de saber que a vida também possa ser algo a
se reverenciar, cravamos nas claves de sol que certamente a mente e instrumentos
sorveram a derradeira felicidade sem maldade ou tempo.” De volta à realidade, na
fragilidade destemperada e temperada do tempo, somente a cruel vista do incenso
queimado e fátuo que sobe sabe-se lá para aonde. Nas ondas que em algum lugar batem,
o ser sou só eu e você.
(Ao grande encontro de Alceu Valença, Geraldo Azevedo, Zé Ramalho e Elba Ramalho)
É noite, dessas quem não se sabe é fria ou quente. Daquelas que corre no asfalto e se dobra em esquinas infindas que terminam numa mesa de bar ou na cama. Em copos molhados de suores de cerveja ou corpos encharcados nos suores do amor. No ar, o som de Lupicínio Rodrigues. No cair de luares e vozes do vinil, a solidão de uma bola que brilha entre o amarelo e o prata, envolta num espaço que esbarra na geometria que a cidade dá e tira, que se estira em ilusões e premonições, lições que o passado não destrói.
É noite, as pessoas entoam uma
canção monocórdica onde, crê-se, a felicidade chegará. Nos trilhos que correm
em trilhas submersas, dessas que se entranham entre um coração e um pensamento,
o lamento da amada que se embrenha desnuda ao nada, a intrínseca inverdade que
teima entre viver e morrer. Ao longo do universo que se desdobra em letras, sílabas
e versos, o reverso que a solidão perfaz. Ao fundo, um som performático de
jazz. Ou será um blues ou nada que se derrama sempre no início sem começo, meio
e fim?
É noite. Abre-se o leque de
oportunidades, fortuitas saudades, imensas dores que descobrem na realidade
seus estertores. E vão-se goles, goelas secas, coloridas luzes que se misturam
de neons e faróis. Como pescadores, são lançados os anzóis nas almas que jogam
no mar na ilusão para navegarem na razão. Mas há razão nas perdas e pernas que
se envolvem na liturgia da conquista e da volúpia que se derrama nas palavras e
olhares? No cabaré, entre a lâmpada volátil e o amor tátil, a tradução do que,
em lágrimas, fez-se retrato.
Por Ronaldo Faria
Teu corpo é uma música aos meus lábios. Tua voz vive em meus alfarrábios. Como uma árvore se arvora a vencer o azul do céu.
Por Ronaldo Faria
No sertão crispado de mortes e pequenos fetos que viraram fátuas pétalas a forrarem o solo seco, vozes vazias e cavalos magros e tordilhos se foram a trotar em dança as valas mortas. No salão, numa valsa, a bela brindava corpos e notas, ia às mesas mais tortas de copos e garrafas pesados, sentava-se com seu vestido de um azul lilás, bebia um ou dois goles, engolia palavras e frases, se esvaziava de sangue no choro escorrido dos olhos carcomidos pelo vendaval. Na cozinha, o mestre-cuca sujava de gordura o seu avental. Lá fora, entre aforismos e calçadas cheias de gente a esperar o trânsito parar, luzes chapiscavam de negror as gotas que brincavam de se atirar no chão. No todo, um ônibus, desavisado da poesia do tudo, as jogava para longe, conspurcando de realidade o quadro final. Num apartamento acima, onde se guardava a morena mais brejeira do lugar, duas mãos trançavam de ilusão e emoção a pincelada final. Da portaria, o interfone chamava o sono para acordar. A vida chamava para o tempo se fazer renascer.
Por Ronaldo Faria
Mandingueira feira de vozes e odes, profecias de algozes, canseira de torpes e alforjes. Na estradeira que se dá sem eira e nem beira, sobra, calcinada, a derradeira madeira. No meio de tudo, decerto haverá uma esteira para repousar o corpo cansado.
Assanhado, o poeta vira
desafeto da vida e meio profeta. Esteta de si mesmo, vive a esmo no que der ou
vier. E, se não der, que se vá entre vãos e qualquer lar. Afinal, para uma alma
perdida não há muito a seguir para onde for ou mesmo um lugar no lagar.
Por Ronaldo Faria
A noite se espreita lá fora à espera da madrugada que se desenrola entre canções e abóboras. A cidade ressona quieta entre um ou outro gemido, carros passando ligeiros, luzes que piscam solitárias num ou noutro lugar. No bar da esquina, os olhares e a sina. A assimétrica vertigem perdida entre o sorriso e os olhares que viajam por copos e goles. À frente do poeta, a mulher de voz e saudades perdidas. No arredor, o som do silêncio se faz apenas um pormenor. O mundo brinca de girar e se largar inerte e derradeiro.
A noite se entrega dissonante e arfante aos dois corpos. A pele, o cheiro, o gosto, os lábios unidos e vadios, a incerteza sempre certa do depois. O poeta, esteta de si mesmo, sabe que nem tudo haverá de sê-lo. Embriagado, partido em cansaços e emoções tão sonhadas e agora entregues, ele redescobre que a vida, ávida de si mesma, brinca de quadrantes que nem sempre são o que se quer. Mas, no fim de dia, diante dele, lá está ela: bem mais do que apenas uma mulher. A quem poemas não podem quantificar.
A madrugada, a brincar de
querer esperar o sol voltar de uma bebedeira qualquer, traz um vento frio e
esquecido entre as esquinas que descansam ao luar. Solitário, num solilóquio
entre o quarto vazio e um armário, o poeta cheira seu próprio corpo para
reviver o mundo dela. Se promete, criança que é, que nunca mais se lavará. Que
a resguardará em cada poro e porto da paixão. No dia seguinte, que chega quente
e ardente sem requinte, acaba por descumprir sua trama. Entre e a realidade e o
desejo, urge o drama.
Na madrugada, porém, ficam a saudade e a realidade. Um ou outro ébrio ainda caminha em linhas tortuosas pelas esquinas que se repetem quadrantes e sinas, um casal enfim consegue se aninhar em trejeitos e esmeros, o mundo corre redondo e célere na busca de um sonho. Insone, o poeta fecha os olhos e revê o corpo nu e irreal. Afinal, pôde algum ser criar tal universo expresso em tanta beleza quase sobrenatural? Mais cansado do que o cansaço que o deixou não ser ele adormece para no dia seguinte tentar reviver...
Por Ronaldo Faria
Rita mínima, ali...
26/06/2017
No sorriso de não saber quem se é, vamos juntos a voar na lua cheia e na fé.
Por Ronaldo Faria
Marias da vida, Marias tantas, antevistas, revistas, revisitadas, caladas, dramáticas, atávicas, translúcidas, coloridas de mil cores, dissabores, desamores, fervores, paixões, milagres, encontros, bailes de anos novos, escadas, cansaços. Marias de arriscadas caminhadas, camas desfeitas, afetos desdobrados em vidas paralelas, favelas e ruas pequenas de cidades quase nenhumas. Quiçá quadriláteros que se formam em formas e fôrmas para formar. Alguma coisa de sei lá o quê, nos tantos acentos que esse que tem, esteja certo ou errado. Que seja somente um tempo antevisto, cheio de premonições e unções, beijos largados e ungidos de passado e presente, algo ausente de um futuro que se espera, à quimera, nem que seja num lar regado de idosos famintos de tempos atrás, desses que só cada um saberá contar e recontar, se a memória deixar. Afinal, Marias são tantas e têm tantas têmporas para se ver e beijar que perpassam e passam tantas vezes que às vezes a gente nem vê. Surgem de repente, em rompantes, em meio a luzes e vórtices que nem sabemos se são verdade ou serão, senão. E ficam e permanecem, se esvanecem de tomar contar conta do outro, sabem que são donas e doutrina, que far-se-ão tatuagem eterna. E nós, míticos e místicos amantes à busca de um colo, de um ventre, espaço entre duas pernas e beijo rasgado de saliva e suor, um coração em diapasão igual, nos entregamos lúdicos e vorazes. Sem saber do que iremos nos envolver, ver e ser. Talvez uma gota em meio a um temporal, uma pétala perdida num campo de girassóis, um planeta esquecido numa galáxia irreal, sem ar sequer para respirar o último suspirar fatal. Mas, a vida não será isso: um eterno buscar aquilo que não se sabe o que se é? À busca da madrugada que se faz tragada em lufadas nada, um resto de lucidez para o tanto de loucura que vaza da tez. Daqui, vamos, à busca da verdadeira Maria, a brincar de ser ator, dor e morbidez. A certeza da lua que virá crescer fica pra depois. Diáspora que brinca de deixar de ser. Quem sabe um universo que vira verso somente porque o reverso mente pra si...
Por Ronaldo Faria
Mil, novecentos e setenta e oito. Início da faculdade de Jornalismo, depois de um vestibular maluco, com diarreia salvadora nos mais de 40 graus do calor da Piedade (nome próprio para um bairro suburbano carioca e cheio de mistérios que a vida dá e deu). Ano doido, pra variar doído, do medo de não saber como enfrentar tanta matéria deletéria e as portas do anfiteatro que se abria para receber a confirmação de matrícula. Como saber driblar as matérias obrigatórias previstas? Cada nome difícil. Cada etapa maluca em dois anos gerais, com sociologia, história, direito, economia, outras coisas mais. Depois, seguir mais uns dois de coisas loucas e direcionais. Optar, viver feito festa sem fim, em dias de chumbo e medo, luta e alforria. Valeu? Valeu. Passou? Passou. Ficou? Pra sempre ficará... no campus da PUC/RJ e suas matas de mil.
Por Ronaldo Faria
Coisa agora, coisa e tal.
Minimalismo no aforismo de algo animal.
Volta, tempo. Só por passar e pausar...
Por Ronaldo Faria
Um sonho a dois, como Milton já cantava. Aqui, na calada noite quase madrugada, um trago e uma lufada de vento que foge da rua para dormir quieto no quadrilátero que emerge em cada nota que se denota única e final nesse dia de saudades e ambiguidades entre a dor e a felicidade. Mas haverá diferença nos dois? A coisa doída pede ou pode ser coisa doida? Saber-se-á. Makulelê, makulalá...
Por Ronaldo Faria A noite rolava meio emblemática e meio trágica na sua atávica forma de ser e sobreviver. Casais se lambiam, se falava...