Por Ronaldo Faria
Notívagas e vagas vogais que
se misturam em consoantes, recondicionadas de emoções e junções nas sílabas que
sibilam entre as frestas que todas as festas trazem e traem. Entre a comédia de
uma Cinédia ou a dor de um tordilho que corre na vastidão. Na transpiração do
amor que o sexo dá, a transposição da cisão entre o passado e a passagem para a
vida que perfaz. No entremeio e no meio de tudo, a canção. Unção e remissão.
Lambidas e beijos num quarto
de cama redonda e luzes que invadem a cena encenada há anos nas centelhas que a
lembrança não desfaz. E perfaz a performance que falha na ansiedade que
transpõe a vontade de ser e estar no restante que o restart dá. Coisa de um Quasimodo que é quase – quase ser, quase torto,
quase modo. Simbologia da orgia que desvai nos segundos e põe dois a se entreolharem,
nus, no espelho que mostra pelos e peles.
Imaginação que sopra no cangote
feito fagote em orquestra numa sinfonia apócrifa e gótica. Na lógica do amor, a
dor da separação que se transmuta em algoritmos que não têm ritmo e nem razão. Mas
se trocam e se tocam à distância na infame realidade que prescinde da verdade.
Dois juntos na louca razão de sentimentos e pensamentos, como fossem ambos unguentos
de uma fantasia dessas que se conta entrecortada de separação.
Na superação do longe estar,
uma estrela fulgura como star. E
chega aos dois como uma rachada recheada de rompantes ilusórios e retóricos,
que superam a própria dor. Dor de mais um dia longe, de mais uma junção
desfeita, da perfeita treta que corre em cama de rodas, chão sem tapete, vinhos
enviesados e derramados na ação. Na canção, a mansidão que só se faz no sossego
do depois, na trama que a tramoia transpôs na curva da ilusão.
E assim, no acidente que todo
Ocidente traz, nos seus pecados de afagos e amores desvairados, pegadas que se
afundam no redemoinho de moinhos de ventos e ventres, o brincar de esconder e
se fartar, à espera de um asilo juntar e untar. Senão, que a hora, que já é,
seja a certeza de sensações cruzadas, emoções resvaladas, brincadeiras caladas.
Até que o verso do poeta resvale no momento em que a vida nada mais seja do que
imensidão.