segunda-feira, 12 de junho de 2023

Gilviandando 2 (para boêmios, aposentados e doidões da madrugada)

 Por Ronaldo Faria


 

Aonde escrever os últimos versos, desses que se deixa como epitáfio e coisa grafada na cova que não existirá?

Aonde perpetrar as últimas ideias, aquelas mesmas que surgiam sabe-se lá de onde vieram no vocábulo finito?

Aonde frigir os derradeiros versos, cataclismos perplexos de uma existência entre a lucidez e o hermético plexo?

Aonde cantarolar a saudade que não passa e perpassa nos istmos que unem lugar nenhum até nenhum lugar?

Aonde ondear as ondas que batem na praia que se espraia feito passageiro que perdeu sua última viagem?

Aonde perpetrar a infundada e estapafúrdia prosopopeia deletéria que se faz infausta e quase delirante aquiescência?

Aonde reverenciar nossas loucuras, agruras, semeaduras e viver como enfeitiçados de uma única e sublime mulher?

Aonde reviver um viver a quem não daremos explicações, satisfações, emoções derramadas como esmola de ter?

Aonde conquistar o palco que irá desabrochar a cortina vermelha em centelha que não se apaga ou se apega quiçá?

Aonde viver o lugar em que o passado e o futuro, nesse presente ausente, far-se-ão uniformes e algozes apenas por ser?

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