Por Ronaldo Faria
Aonde irá parar a violência que nem a ciência da mais próspera chegança
dá?
Na estrada que se faz
estardalhaço em um 190 qualquer que põe a sirene a gritar, passa um camburão
que carrega preconceitos e balas prontas para disparar. Ele não estremece. “Nada
devo, ou se devo não sei. Aperte o play”. Vai devagar, com um passo a cada
próximo passo que pesa nos pés. É foda seguir os rumos em desaprumo que a vida
dá. Mas ele segue. Exangue, cumpre a complacência de cada dia no bagulho.
Logo estará a chegar. Mas, a
qual lugar? Se tiver onde deitar, largar o corpo cansado e passado, já está
bom. O dia foi marrento, quase sangrento. Ponto a bater, salário mínimo a ver, esperança
de virar o jogo a perder nas quatro linhas do crer. Mas não há que se desistir.
Algum dia o vir há de vir. Acreditar é preciso, assim como retirar o siso nunca
nascido e que um dia irá apodrecer e doer feito filho pródigo e nascituro.
Assim, nessa chegança
qualquer, avista a casa de reboco à vista. “Um dia termino a obra”, pensa pra
si mesmo, a esmo. E acelera o passo, quase descalço do chinelo grudado com
prego. Sabe que um dia o dia amanhecerá distinto. Senão, basta apenas olhar no
horizonte, naquele monte de nada que se vê. O importante é seguir a rima, o rumo,
o prumo. Como diz a rima, cabeça vazia é a oficina. Quero somente uma vacina.
Ao chegar, abre a porta. Entra
no quadrado presto, quieto, sombrio e funesto, Acende a luz, abre a geladeira a
gelar poucas cervejas e algumas coisas rasteiras. Acende um do bom e dá boas
vindas para a próxima jogatina. Sabe que pouco haverá amanhã. Mesmo acordar, ônibus
cheio igual, patrão filho da puta a achar que faz tudo na moral. Antes de
apagar, ora aos santos e exus e pede apenas que Deus exista ao menos no final.