Por Ronaldo Faria
Chapação! Chapa quente e frio
com os pés no chão. Os paralelepípedos gelados são amargos para quem quer
enlouquecer e viver a correr tresloucado feito viciado em frio do Sul. Abaixo,
mas não muito mais abaixo, algo feito algoritmo traz mau agouro no que há de
duradouro. E o ouro? Onde está o ouro? No canto, a voz inumana de um louro. A alforria
espera somente a derradeira semente que transpassa veias do coração sangrar e
não brotar. Na cama, um curso particular de anatomia e alforria.
-- Alfredo, cadê o aconchego? A pegação? Aquilo que foi plantado mão a mão?
Alfredo não responde. Há
poucos minutos estava no bonde a bandear de um lugar para outro chegar. Não
tinha tempo de saber o que era amar. Sequer de ver o mar. Mas havia prometido a
si mesmo que um dia pegaria uma excursão para qualquer pé de areia, fosse essa
capa de revista ou apêndice de prospecção de poluição. “Ainda vou ver esse tal
de mar. E descobrir se ele é maior do que o poço que tem aqui defronte.”
Na fronte queimada pelo sol e poeira
que emanam do céu e do chão, Alfredo caminha e se reescreve como Caminha na carta
proscrita. “Daqui, nada se planta porque se sabe que nada dá”. A enxada,
aposentada, virou pouso de pássaro que soube resistir ao frigir de ovos no ninho.
As mãos, cheias de calos, carcomidas e sem ver comida, são apenas um par de
feridas. Mal consegue acarinhar o rosto da mulher que sobrou no casebre de pau
a pique. “Quando eu voltar à mingua, sem nada, ela ainda estará por lá?”
E assim, indo para onde ainda
se vai e se esvai, Alfredo, ser que é o paradoxo de si mesmo, olha o olhar
lancinante da coruja, esbugalhado no fátuo fardo, e continua encarquilhado. A
casa de farinha, vazia, como que diz “tire a realidade daqui que eu quero
passar com a minha dor”. O odor que sai do grande forno de ferro se espalha
como palha queimada. Na curva que o vento faz, um vaqueiro tenta juntar a
boiada que teima em se livrar da morte certa. Alfredo só pensa: “em Creta, com
certeza, bosta de boi não há.”