Por Ronaldo Faria
Se ninguém vai ler, para que escrever? Saberemos lá...
Saber-se-á.
(No som da Cambada Mineira)
Por Ronaldo Faria
Se ninguém vai ler, para que escrever? Saberemos lá...
Saber-se-á.
(No som da Cambada Mineira)
Por Ronaldo Faria
Por Ronaldo Faria
Por Ronaldo Faria
Borbotões de senões entre as borboletas que se esgueiram nas flores que floreiam jardim qualquer. Nua, a mulher margeia a verdade que inexiste na vida. Já o homem transita entre o trânsito louco de memórias e histórias mil. No ninho improvisado no concreto, a andorinha voa e vai e vem num vaivém para alimentar a prole de bicos abertos e sons de piados e pios. No parafuso mental que uma paráfrase (seja lá o que isso for) faz, a ilusória memória de tempos no atrás do detrás. Na demência da ausência que se debate entre vozes esquecidas e vinho, o ventilador de teto tateia as lembranças para revolver o que não há como resolver. Talvez um revólver, um fósforo incandescente, um exército de idiotas a gritar o simplório volver. No som que sai dos alto-falantes, Fernanda Takai pede um dia ao menos na vida do amor perene. Como fosse a volta do passado feliz e amargurado, o texto testemunha que folhas amareladas esmaecem ao sol que propõe tudo brilhar. Tudo a relembrar um dia, talvez. Na tez que amanheceu em dor, um porto tão longínquo como o de Fez. Aos náufragos das tormentas da vida, na frígida bem-aventurança que a loucura dá, talvez um pedaço de ilusão, uma calmaria que muda rotas e réstias (quando as velas da felicidade se recolhem em solidão), rostos em ritos de restos, porque não...
Por Ronaldo Faria
A Primavera está à vera a ver
o calor que vem do céu e brota do chão. E respira quase por aparelhos parelhos
entre a sanidade e saudade que estariam guardadas em algum lugar. Ao som de
Cazuza, na quase penumbra do anoitecer que se faz a tecer na imensidão, surge
Doralinda a ser amada de amor e paz. No quadrilátero que o ventilador transpira
vento e fé, o poeta passeia ente si e o mundo. No balcão da eternidade, a pedra
que é apenas vidro e parecia turmalina. No futuro, o furo do cheiro que se
mistura em mar e creolina. Na janela aberta não resta nem uma nesga de
claridade finda...
Por Ronaldo Faria
Por Ronaldo Faria
Por Ronaldo Faria
Cansado da vida, magoado com o
tempo que não lhe avisou que o derrear iria chegar, Raimundo andava de bar em
bar na busca da cerveja gelada, da vida passada, da nostalgia que a orgia em
devassidão um dia foi feita. Acobertado de um tempo que há muito se foi, mesmo
que perdido entre medos e devaneios que chegam a cada copo perdido, o homem
caminhava cambaleante nas esquinas que a própria sina ensinava que nunca mais
deveria se emaranhar. Mas qual, sua decisão não era a errada e atávica sina do então.
Há muito ele vivia entre o perdão e o senão. Misto de fugitivo e ser altivo na
altivez que a loucura dá, à certa altura descobriu que o esmeril era cego e sem
fogo a brilhar.
Do lado de lá, muito longe da paixão, perto de cifras e cifrões, ia Adélia, formosa passageira das tragédias que a vida dá. Não haveria como culpá-la daquilo que a loucura trouxe no berço da imensa e derradeira centelha que a loucura traduz em fim. Nua, a se despir de trajes e andrajos, a mulher vai a entortar suas lembranças e andanças, numa comiseração sem fim. Na perfídia que nem a ferida mais profunda traz, a tradução de um sonho que se abstrai. Atrás de tudo, no mais profundo e enigmático enfim, um conto que o tempo dá o desconto do encontro atrasado e calado na esquina antes da viagem tardia, a certeza de que o passado é um eterno retardo. Na história de cada um, aforismo de lugar nenhum.
Por Ronaldo Faria
Por Ronaldo Faria
Visionário e atávico, homicida
de si mesmo e crente de uma religião que não há, Juarez segue entre a avidez e
a tez da amada, aquela procrastinada em não ser. Cavaleiro solitário, à espera
do erário inexistente, desses que o avarento arranca junto com o dedo do lazarento,
segue a perder a visão, o chão, o futuro, de antemão. No saber destemperado e desagregado
que dá a candura, submerge em si e emerge em cada letra, sílaba e frase
desconexa que se ligam entre brancos de papel ou tela atrelados em alguma
sinergia que não há. Nas ruas, milhares de seres que se dizem nação gritam num
berro que ninguém ouve. Talvez um bêbado enlouquecido de sua sórdida melancolia
aflita e fugidia, um saudoso pai a beijar sua filha morta em cinzas, um poeta
que profetiza a imaginária realidade que não há nessa vida. Entre recônditos de
cada um de nós, entre nós que ninguém desata, no emaranhado de liberdades que
estão presas em caminhadas sem pressa, o cidadão segue nas ruas e esquinas,
reentrâncias do senão.
Penitente e ausente de si
mesmo, num frágil invólucro que cobre a cada um de nós, louco desde nascença, exacerbado
e cabisbaixo, no esmeril da sobrevivência diária, Juarez, sem julgar nem a si, segue
passo a passo os dias que faltam. No asco da dívida que a dúvida traz, permeia a
lucidez de um profeta e a ignorância de um asceta. Pernicioso e cioso da
saudade de um dia ter sido feliz, sabe que agora não vale nem o quilo pesado de
uma perdiz. Mas vai. Vai entre goles e golfadas, malversas colheitas do nada, perfídias
de um coração que tão maltratado não sabe diferenciar axé de fado. No sonho
bisonho interrompido na madrugada, essa coisa tragada da vida, a certeza de que
o amanhã será de ignóbil perfídia. No poste, um cachorro urina feliz com a pata
levantada. A olhar sem enxergar direito, com uma catarata que consome seu olhar,
Juarez apenas diz: “Feliz do cão que cumpre seu ritual sem se preocupar com
aquilo que a Dona Joana amanhã irá dizer da poça que defronte da sua porta se
fez”.
Por Ronaldo Faria
Dança esquizofrênica e frenética numa “casa de dança” de pais de santos tântricos, loucos de bebedeiras mil, enganadores do destino, simplórios em desatino e um ou outro que de lucidez não têm nada e nada têm. Logo abaixo, um oceano inteiro e uma cidade que olha o quanto é linda, entre ladeiras, paralelepípedos, epítetos mil. Sob o escuro da lua dorme um céu de anil. No quarto de pedras, que um dia foi celeiro de escravos ou cova de barris de aguardente, corpos ardentes e queimados de sol vivem o solstício de um algo qualquer. Homem e mulher. João e Maria, Petrônio e Andriele, Sebastião e Franciele, os nomes são somente um arauto do cordel que se esvai. Ambos sequer sabem por que estão lá. Fora, um bêbado canta algo que traz larilalá... Nos ladrilhos que o tempo tombou como da humanidade, um misto de pássaro que canta a saudade que lhe apraz. Detrás de tudo, segundos profetizam o istmo que há entre o amor e a ilusão. Ao fim, no fim, a solidão. A mansidão das ondas que quebram em sofreguidão na praia. Ao nada, olhares múltiplos e brisa quente que logo farão do sono um sonho caliente. Na esquina, o apaixonado carente cochila na Ladeira da Misericórdia e rola abaixo num frigir de corpo matinal.
Por Ronaldo Faria
A vida passa rápido pra
caralho. Uma dicotomia sem início preciso, meio efetivo, fim determinado. Uma
ou outra visão. Quiçá, algum momento, efêmero. Nalgum momento. Juras de amor,
beijos lânguidos e um eterno e terno adeus, num pouco depois que nunca chega.
Tudo como um fotograma em filigrana qualquer. Na finitude de tudo, um homem e
uma mulher. Um desespero feito enterro promíscuo e solícito, desses que um
adeus já basta. Num quase muito e tanto nada. Quasímodo, o personagem sem papel
permeia o tempo que está e que ainda resta, em réstia. O fim, uma promessa
nunca cumprida, uma comprida trajetória que finda em lugar nenhum. No fundo do
mar, uma concha ouve o barulho do vento que nunca terá. Na areia, a morrer de rir
com o fim do seu tererê.
Por Ronaldo Faria
Por Ronaldo Faria
Por Edmilson Siqueira Sabe aqueles músicos que são uma fonte inesgotável de talento, que tudo que fazem e gravam se torna clássico? Pois W...