Por Ronaldo Faria
Cansado da vida, magoado com o
tempo que não lhe avisou que o derrear iria chegar, Raimundo andava de bar em
bar na busca da cerveja gelada, da vida passada, da nostalgia que a orgia em
devassidão um dia foi feita. Acobertado de um tempo que há muito se foi, mesmo
que perdido entre medos e devaneios que chegam a cada copo perdido, o homem
caminhava cambaleante nas esquinas que a própria sina ensinava que nunca mais
deveria se emaranhar. Mas qual, sua decisão não era a errada e atávica sina do então.
Há muito ele vivia entre o perdão e o senão. Misto de fugitivo e ser altivo na
altivez que a loucura dá, à certa altura descobriu que o esmeril era cego e sem
fogo a brilhar.
Do lado de lá, muito longe da paixão, perto de cifras e cifrões, ia Adélia, formosa passageira das tragédias que a vida dá. Não haveria como culpá-la daquilo que a loucura trouxe no berço da imensa e derradeira centelha que a loucura traduz em fim. Nua, a se despir de trajes e andrajos, a mulher vai a entortar suas lembranças e andanças, numa comiseração sem fim. Na perfídia que nem a ferida mais profunda traz, a tradução de um sonho que se abstrai. Atrás de tudo, no mais profundo e enigmático enfim, um conto que o tempo dá o desconto do encontro atrasado e calado na esquina antes da viagem tardia, a certeza de que o passado é um eterno retardo. Na história de cada um, aforismo de lugar nenhum.
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