Por Ronaldo Faria
O rio corre quieto nos vórtices que a natureza dá. E brinca de viver entre as pedras que tanto pingaram que até furaram. Nos atabaques que batem sob o tocar forte que sangra as mãos, se fazem frenéticos os amantes que buscam onde trilhar na estrada de veias e sangue que o coração dá. Quem sabe uma sala de cinema onde mãos buscam os seios sedentos de mãos, o sorver de línguas que saem das bocas para parear outras línguas famintas, a incerteza do limite entre a morte e a vida.
Vestida de branco, a mulher se
despe na pele mais branca e branda ainda que lhe cobre o corpo desejado. E
sorri como se o amanhã não pudesse chegar ou se aconchegar no corpo do amado.
Como uma febre que nos toma a cada noite e faz os cheiros mágicos da poesia
florescer, a branda chave que fecha o coração para novas emoções se quebra e,
inodora, junta harmonia e tardia centelha a fugir entre rimas e réstias. Quem
saberá se amanhã, em ressaca, não abreviaremos o retorno?
No torno que dá acabamento às
letras o poeta perpetra a orgia que um dia teve. E lambe pele e pelos, suga sons
perdidos em camas que recebem milhares de desamores e brinca de algo qualquer.
À sua lembrança, a mulher. Na inocência da pueril incerteza, a leveza da vida.
Essa coisa triste que tem início, meio e fim. Como uma pedra azul a rebrilhar fulgurante
no desejo do amante a ser. Do seu canto finito o poeta antevê a brincadeira sem
graça que é viver para poder somente sobreviver...