Por Ronaldo Faria
Por Ronaldo Faria
Por Ronaldo Faria
Por Ronaldo Faria
“Sorte ou morte? Onde existirá o limite que existe e define a definitiva e imprecisa lasca que há entre o trincar e o quebrar?”
Manduca se perguntava há algumas décadas como era estar e viver nesse vendaval que a brisa de fora não fazia nem pétala de roseira tremer e ser. Intransmutável, seu tempo corria milésimos que os anos vindouros ou findos não sabiam nem sequer contar. Os dedos das mãos eram poucos para recontar. No mar, longínquo e raso, apenas os tolos de amor morriam afogados a pedir por clamor. Marinheiros da tristeza e da solidão nunca viram seus barcos lá se perderem. As sereias, brejeiras e faceiras, sequer chegavam perto da areia. Sabiam elas que a poesia a tudo espanta, menos a dor. Em meio ao mundo, nascia nalgum lugar uma flor.
Por Ronaldo Faria
Põe óculos, troca óculos,
ajeita óculos numa espera de ósculos que foram, vêm ou virão. Na poesia que
entardece, a noite aquiesce e se aquece. Na brancura da ternura da poesia ainda
não escrita, o imbróglio que se desmancha na mancha que não some entre sabões
em pó e um pós caminhar de estrada onde a terra sucumbe aos pés perdidos e
ardidos de sol, urdidos em lençóis. Entre a cama, o drama e a trama, Cesarino,
feito quando o vaqueiro, de facão ligeiro, rompe a carótida do bicho, se embrenha
feito vaca prenha que toma banho num poço qualquer à espera da cria logo
chegada. Nas letras da vida abstrata de quem trata as troças do mundo como um
vazadouro de vertedouros, sucumbe a si mesmo. A esmo, se esmera em aços que
brincam de brilhar em esmerilho. Parte de um todo que não tem início e nem meio
e nem fim, vive em parcimônia que cheira amônia. Sentencia e chantageia o
tempo, vive trôpego e banal como fosse marginal, desses letal ou/e coisa e tal.
Num aforismo que cabe num quadrilátero enfiado num triângulo que existe no retângulo
que a esfera faz, seguimos em rodopios e centenas de pios do pássaro preso na
gaiola de gravetos. Feito substrato de quem espera receber um trato, o tratado
do tempo que blasfema ao destino. Em desatino, uma tina de álcool se derrama à
madrugada concebida.
-- Que ideia mal concebida. Acho que a nossa cabeça está mesmo fodida.
Por Ronaldo Faria
Por Ronaldo Faria
Por Ronaldo Faria
Por Ronaldo Faria
Um piano geme nos dedos
daquele que mal consegue beber o seu uísque entre uma música e outra. Que mal
fez quem tentou fazer da música o seu labutar? Poucos o ouvem. O som das mesas
é apenas gracejar ou conquistar o final e letal. Meio que esquecido num canto de
bar, adormecido e quase carcomido em teclas pretas e brancas, o piano gorjeia
notas musicais feito sinais que apenas o amor deixa fluir. Como beijos em
solfejos, peles nuas e suadas a se embrenharem nos lençóis que branqueiam o
negror que vem de fora. Como mãos de dois amantes, passeiam sem limites a um
lugar para chegar. Tocam seios róseos e brancos, olham olhos fechados ao
acalanto de um gozo seminal, sem embrenham em pelos engrenhados de barba e
cabelos genitais. No ar, As Time Goes By.
E o piano continua à espera da
mulher nua. Brinca de acordes (sem acordar quem já dorme), notas que denotam o
arfar de ambos, partituras dessas que se partem e desapartam brigam de pernas e
braços tentando o outro engolir e conquistar. Lá fora, o mar arrebenta a santa
água benta de sal e acreditar. Na janela cheia de maresia e poesia, insanas
paixões serão somente senões. Mas ficarão o calor dos dois, a doidivanas centelha
que o amor faz brotar em cada chegar. Quem sabe, na próxima tarde, o entardecer
não se faça somente saudade. Na aurora boreal, que nunca avançou um sinal sequer,
a mulher lambe o corpo do amado. Embrenhados em si, ensimesmados de um tudo
torpe e louco, apenas descobrem aquilo que o tempo soube em teclas de marfim
metamorfosear.
Por Ronaldo Faria
A viola rasga o espaço que
está partido de risos branqueados das donzelas namoradeiras e rapazes
enlouquecidos pelos batons cor de carmim que bronzeiam os lábios a se conquistar.
Coitados, terão muito que esperar. Quem sabe a vida inteira. As meninas, embranquecidas
pelo pouco de sol imposto pelos pais donos de cintos às mãos e ciúmes atrozes,
apesar de suas artroses, sabem que dançar um forró colado é coisa que há de se
privar. “Painho, é só um chegar junto sem encoxar. É uma dancinha só.” Com
olhos vermelhos de aguardente e ódio pelo pequeno garanhão que quer chegar, o
velho, a mascar fumo de rolo e bater a espora no chão, só diz um simples e definitivo
não. “Esse bosta que vá carpir um terreirão!”
O violeiro, que nada tem com a
cena, chama o sanfoneiro pra ajudar. Aí a festa vira um festão. E as coitadas
das meninas, de pernas finas de tanto ficarem sentadas sem aceitar uma
dancinha, vão vendo o tempo passar até as dez da noite chegar. “Está na hora de
moça direita parar.” E lá se iam todas, com seus progenitores a ver uma
esperança feminina sucumbir. No salão ficavam os moçoilos prestes a buscar a
casa que queimava lampião com celofane vermelho ou o que desse para esquecer
mais esse sombrio viver. No palco, sem microfone ou infames, os músicos faziam
aquilo que podiam para deixar o dono do forró sorrir. No balcão, Zé Formiga
gritava que a pinga estava em promoção final. Era só achegar e tomar.
Por Ronaldo Faria
Incelências se iluminam nos olhos das beatas que rezam com seus terços e véus. As velas a queimarem na capela cobrem de amarelo o tanto que parece e se enaltece negro nas roupas das mulheres com suas peles velhas e enrugadas. Andrajos, homens aboiam o pouco gado que sobrou e a seca ainda não levou. Vão devagar a divagar o despropósito que há entre o irreal e o ilógico. “Nascer pra quê?” - questionava Longuinho. Mas, no sertão da caatinga sem começo ou fim, senão, não há o que se perguntar.
Por Ronaldo Faria
Geovenildo (mistura de Genoveva
de mãe e Hermenegildo de pai) cruzou o trilho do trem devagar. Na quentura do
Méier, era só uma rampa para outra. Coisa que até o Zé da Muleta Meia Boca conseguiria
como fizesse salto à altura em Olimpíada. Tinha acabado de arrancar dois dentes
no dentista paraguaio que atende num sobrado encarquilhado onde la garantía soy yo. Sob efeito da
anestesia e duas cafungadas, o caminho reto parecia chegada de barco em marina
cheia de maresia. “Calma que você logo chega lá”, dizia a si mesmo, nos tantos
mesmos de si àquela hora e altura. Vendedores de biscoito Globo e Chá Mate,
longe da praia, muambeiros com capa de celular e raquete de muriçoca,
trabalhadores cansados de ralar se cruzavam atabalhoados. Para Geovenildo, Gegê
ou Nildo aos íntimos, aquilo era um mercado persa. Ou será um persa em mercado
suburbano? Com esforço sobre-humano, chega ao ponto desejado. Por sorte, não
esbarra num despacho. “Porra, entrega pro santo agora não tem mais cachaça?”
Disperso desse mundo, não viu o malandro que corria com a garrafa debaixo do
braço. Pensou em pegar o frango, mas ele estava cheio de penas e bem mal
passado. Desistiu. “Esse deve dar dor de barriga e pouca sorte”, à conclusão
chegou.
Geovenildo, Gê ou Ni para os
mais íntimos ainda, pegou o primeiro trem que parou. Conseguiu ao menos subir,
meio empurrado pela massa e outro tanto pela sorte que Deus dá aos desvalidos e
combalidos, quiçá fodidos do mundo. De pé, seguro pelas outras tantas centenas
de passageiros nada fagueiros, foi de estação em estação. Engenho de Dentro, Piedade,
Quintino, Cascadura, Madureira, Oswaldo Cruz, Bento Ribeiro. Marechal Hermes e
Deodoro. No fim, não tem jeito. “Ô, meu irmão, acorda! Tem que vazar!” Geovenildo
desembarca da barca e segue pela passarela para chegar na rua. No centro
espírita perto o incenso corre solto. O atabaque ressoa e a Pombajira (diria o Houaiss)
gira sem parar. O cambono segura o refrão e Zé Pilintra dá risada. “Entro ou
não?” Batizado e confirmado no ambiente, decide ao menos bater a cabeça para o
santo. “O que não é mal feito, mal não tem.” Senta no banco de madeira, faz sua
oração e pede socorro. “Meu Oxalá, cuida de mim, que te peço tão pouco”. Sai de
lá meio torto e trôpego e serpenteia pelas ruas e ruelas, becos e biroscas,
pontos de venda de produtos importados de La Paz ou Bogotá. No céu, uma lua
redonda se faz rotunda para seu drama sem segunda sessão marcada e a cortina
voltar a fechar.
Por Ronaldo Faria
Por Ronaldo Faria
Encarquilhado, defenestrado, com
alguém que nem a gente (em mente) a dizer na fila do ônibus, “por favor, pode
subir”. Carros pararem nas ruas e os motoristas com um gesto de afeto a mexerem
as mãos num “pode passar”. Gumercindo estava assim: entre o começo do fim
definitivo e o fim efetivo do começar a dormir a sete palmos. “Nem fodendo,
quero ser cremado. “Do pó viestes, ao pó voltarás!” Do alto, se alto ou algo existir,
Deus briga por sua alma com Satanás. Na rua, um samba de pagode eclode.
Numa tela dessas que fica
ligada nas vitrines de loja popular pulula um vídeo do Ney Matogrosso. “Quero
chegar aos 82 que nem ele. Lógico que não terei a grana que ele tem, mas me
basta o seu pique. Não estar babando na fronha.” O pensamento de Gumercindo se
espraia pela noite que se embrenha numa futura madrugada tragada de mais um
dia. E brota de notas que se denotam ao silêncio quieto que surge feito grotão
escondido num pequeno senão. Como a grota em Angico que matou Lampião.
Sonoro, bêbado, embriagado,
feliz por ter comprado dois reais e vinte centavos de bala de canela, Gumercindo
se refastela nas vielas que separam seu dilema da trama grandiloquente que
sobrevive sem trema. Na trama subsequente (e cadê a trema de novo?), está no
barraco a ferver um ovo. Beberá um gole de pinga barata e logo dormirá naquilo
que deitar de bruços vale um largar. Ney canta que vale romper tratados e trair
os ritos. Na vida de caminhos tortos, que sobrevivam os poucos e derradeiros
sangues latinos.
Por Ronaldo Faria
Na discoteca que se entrecorta
no palco imaginário da imaginação cortada por devaneios e solidão, chacretes
rebolam como se fossem um avião em turbulência. Sentado defronte da tevê a
cores, não 4k, Climério, deletério do mundo real, viaja a cada rebolada sinuosa
de Cléo Toda Pura, Esther
Bem-Me-Quer, Índia Potira, Lucinha Apache ou Sandrinha Radical. Enlouquece com Mirian Cassino, Sandra Pérola Negra, Pimentinha,
Loura Sinistra e Suely Pingo de Ouro. Não se contém ao ver Graça Portellão,
Valéria Mon Amour, Fátima Boa Viagem, Beth Boné e Lia Hollywood. Por favor, não falem de Rita Cadillac... Assim é querer
matar do coração e tesão Climério em pleno porvir.
Nas luzes que
emanam da televisão, trevas inexistem. Se persistem, só será após o corpo
dormir e a irrealidade da mente continuar a vibrar. “Vocês querem bacalhau?”
Certamente Climério gostaria de estar no auditório para pegar um bacalhau
inteiro. Valeria o peso na testa, se ali pegasse, e o cheiro no ônibus. Se o
cobrador viesse a reclamar, que vá buscar os seus direitos imperfeitos. “O
Velho Guerreiro que mandou pra mim, otário!” Feliz, seguiria seu rumo sem prumo
a tentar aprumar a direção que vai em direção contrária ao mar. Num trilho de
trem abortará seu infeliz sonhar. Cairá na realidade promíscua que só as coxas
e peitos das chacretes ainda enaltecem. Dormirá feliz. Do sofá para a cama, num
quarto e sala, o caminho é rápido como um triz. Na vida real, Chacrinha, a
buzinar o pseudo céu, se céu de fato existirá, apenas rirá. Ao fundo, no mais
profundo limiar, alguém grita chamando T(h)erezinha.
Por Ronaldo Faria
Esperar para antes não vai dar
em nada, assim como a lua só beija de esgueiro a madrugada. Reunidos, os
foliões e foliãs folheiam na lente da máquina que espoca um flash a quebrar o
desfile que logo chegará. Na rua, um frevo desce a ladeira para logo depois
pedir para subir. Mas, no brandir de um papel, tudo virou fel...
Por Edmilson Siqueira Sabe aqueles músicos que são uma fonte inesgotável de talento, que tudo que fazem e gravam se torna clássico? Pois W...