Por Ronaldo Faria
Um piano geme nos dedos
daquele que mal consegue beber o seu uísque entre uma música e outra. Que mal
fez quem tentou fazer da música o seu labutar? Poucos o ouvem. O som das mesas
é apenas gracejar ou conquistar o final e letal. Meio que esquecido num canto de
bar, adormecido e quase carcomido em teclas pretas e brancas, o piano gorjeia
notas musicais feito sinais que apenas o amor deixa fluir. Como beijos em
solfejos, peles nuas e suadas a se embrenharem nos lençóis que branqueiam o
negror que vem de fora. Como mãos de dois amantes, passeiam sem limites a um
lugar para chegar. Tocam seios róseos e brancos, olham olhos fechados ao
acalanto de um gozo seminal, sem embrenham em pelos engrenhados de barba e
cabelos genitais. No ar, As Time Goes By.
E o piano continua à espera da
mulher nua. Brinca de acordes (sem acordar quem já dorme), notas que denotam o
arfar de ambos, partituras dessas que se partem e desapartam brigam de pernas e
braços tentando o outro engolir e conquistar. Lá fora, o mar arrebenta a santa
água benta de sal e acreditar. Na janela cheia de maresia e poesia, insanas
paixões serão somente senões. Mas ficarão o calor dos dois, a doidivanas centelha
que o amor faz brotar em cada chegar. Quem sabe, na próxima tarde, o entardecer
não se faça somente saudade. Na aurora boreal, que nunca avançou um sinal sequer,
a mulher lambe o corpo do amado. Embrenhados em si, ensimesmados de um tudo
torpe e louco, apenas descobrem aquilo que o tempo soube em teclas de marfim
metamorfosear.
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