Por Ronaldo Faria
A viola rasga o espaço que
está partido de risos branqueados das donzelas namoradeiras e rapazes
enlouquecidos pelos batons cor de carmim que bronzeiam os lábios a se conquistar.
Coitados, terão muito que esperar. Quem sabe a vida inteira. As meninas, embranquecidas
pelo pouco de sol imposto pelos pais donos de cintos às mãos e ciúmes atrozes,
apesar de suas artroses, sabem que dançar um forró colado é coisa que há de se
privar. “Painho, é só um chegar junto sem encoxar. É uma dancinha só.” Com
olhos vermelhos de aguardente e ódio pelo pequeno garanhão que quer chegar, o
velho, a mascar fumo de rolo e bater a espora no chão, só diz um simples e definitivo
não. “Esse bosta que vá carpir um terreirão!”
O violeiro, que nada tem com a
cena, chama o sanfoneiro pra ajudar. Aí a festa vira um festão. E as coitadas
das meninas, de pernas finas de tanto ficarem sentadas sem aceitar uma
dancinha, vão vendo o tempo passar até as dez da noite chegar. “Está na hora de
moça direita parar.” E lá se iam todas, com seus progenitores a ver uma
esperança feminina sucumbir. No salão ficavam os moçoilos prestes a buscar a
casa que queimava lampião com celofane vermelho ou o que desse para esquecer
mais esse sombrio viver. No palco, sem microfone ou infames, os músicos faziam
aquilo que podiam para deixar o dono do forró sorrir. No balcão, Zé Formiga
gritava que a pinga estava em promoção final. Era só achegar e tomar.
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