Por Ronaldo Faria
A fagulha se espalha no céu e emparelha com as estrelas perdidas e ardidas feito xote ou baião. E haja xaxado. No terreiro, casais se acasalam antes de acasalar corpos e desejos. Há ensejos, decerto. Mas antes que o deserto da solidão de faça final há a faca do amor, letal, a dor despudorada e desprovida de uma canção qualquer, insana unção que junta zabumba e triângulo, sanfona e cantoria.
A árvore de gravetos, antes
viva, agora carvão torrando no fogo, desarvora a desandar em pares emparelhados
que logo serão um só, unidos entre beijos e ensejos, trejeitos inúmeros entre
corpos e úmeros colados e deitados, num sobe e desce indecente para crentes que
não sabem o que é viver. Na noite fria, frígidas mulheres pedem a Santo Antônio
o amor que nunca chegará nem aqui ou acolá.
A festa que incesta e se
presta ao único calor que vem de corpos e copos de quentão, mistura homens e
mulheres num desvirginar de clarividências e cadências, todas harmônicas com as
notas que enchem ouvidos e elimina pruridos que ainda possam existir. No frigir
da quase madrugada, uma mandrágora floresce entre pântanos e enche ânforas que
irão derramar suor e acalantos calados no futuro chegar.
A rebolar, a morena faz do
gingado o afago desnecessário. O frio, senhor de tudo, une e junta, unta, casais
que se aconchegam a fugir dos tremores que invadem corações e cópulas tardias,
vazias, prontas para se achar. Loucas para achegar, chegar, chorar juntas,
uníssonas, sobremaneira fatais. Assim, quiçá bisonhas, aninharão sonhos e corações.
Do altar, Santo Antônio pede o fim de tantas orações vãs.