Por Ronaldo Faria
Com a lua cheia no céu, seara
qualquer, num canto recôndito São Gonçalo faz abençoar o violeiro que dedilha
sua música e seu cantar. Num lugar onde o lagar e só o largar da pinga goela a dentro,
adentro a vida como fosse fermento a ver o bolo sovar. Como fosse um ébrio que
se desgarra da reta e cai, soberbo, num meio fio que apenas frio tem. Tênue, o
homem busca o hímen notívago que não existe e persiste solitário riste e firme.
Como um marujo perdido no derradeiro cais do porto. Talvez um atávico ser que
tenta apenas, a duras penas, sobreviver com altivez. Senão, um inócuo binóculo
que apenas enxerga entre lentes, vidros e frigidez.
Mas a lua cheia que se esgueira
no céu escuro se faz calada, sob uma árvore caiada e quase caída, de branco, sombreia
a luz que o luar irreal derrama na terra onde brota o impassível amor. Em flor,
as plantas transplantadas em fulgor se espalham no chão que espelha o rosto da
moça mais fagueira que a figueira centenária viu. Como um socó que dorme e
ressona na copa esverdeada, o sonhador olha para o céu e vê pequenos pontos de
luz, clarões esparsos e dispersos como disparos de um bacamarte qualquer. Não
muito ao longe, o rosto avistado da mulher. Lívida, quieta, faz-se presta ao
violeiro que anuncia o amor altaneiro, primaz e primeiro.
Contudo, creiam, a lua de São
Gonçalo haverá de reaver a fé na infinda e benfazeja crença do novo alvorecer.
Quem sabe não existirá um louco a gritar nalgum lugar feito profeta de um
esteta a voar e revoar seus incertos incestos entre a poesia e o jogral que desvanecem
na voz do imberbe que crê no mero flerte. Na praça onde o coreto deixa a banda
tocar, um bêbado lança seu olhar além-mar, mesmo que as ondas batam somente milhões
de pés após. E pensa o escrevinhador: “caberá apostrofe só para rimar?” No
dedilhar da viola, formosa moda se faz em corda. E lá onde o mundo se acaba a
festa e se refastela de crenças, descrenças, inhambu chitão e xororó.
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