Por Edmilson Siqueira
terça-feira, 7 de maio de 2024
Sergio Mendes, um perene sucesso
segunda-feira, 6 de maio de 2024
Belchior forever
Por Ronaldo Faria
Mas, para ele, pouco ou tanto faz. Facínoras invadirão seus sonhos e pesadelos sem mazelas ou fábulas de aprendiz de sonhador que só quer um dia dormir em paz. Para Cândido Homero, o frescor de uma infância que nunca teve, a juventude partida entre a busca da sanidade e a idade que viria depois. A fuga constante da inconstância prematura, a sentença natimorta de saber que felicidade não há. A gargalhar nos frangalhos da emoção, ele caminha enquanto houver caminhar.
Nos dias de Cândido Homero, minutos nostálgicos e nevrálgicos, palavreados atávicos, metonímias que nem a rimas sabem o que são. Feito sermão de padre pedófilo, a oração que atabaques ecoam num espaço quente e enlouquecido de uma mulher de cabelos negros e longos, peitos grandes, ancas de dar bons filhos. E nunca mais. E o amor que se foi se evadiu e fugiu nos trilhos de trens que somem em ruídos ensurdecedores, fugas de amores e odores, lábios e crenças mil.
quinta-feira, 2 de maio de 2024
No concreto, de volta àquilo que crê-se seja concreto (a ouvir Tom Zé)
Píncaros.
Quais?
Fatais?
Hoje ou nunca mais?
Nos amemos?
Ou Amemo-nos?
Na esquadria do concreto, tanto faz.
Prosopopeias?
O que será isso?
O autor despirocou.
Há São João ou Augusta?
Súplica que haja.
Senão, não há razão de escrever.
Tesão?
O que é isso?
Ter o senão?
Viver o quão for?
Se este for ou não.
Cidade de concreto.
Dejetos a sorver.
Descobertas a viver.
Deus, se houver, salve São Paulo.
Onde vivem Severino e Saulo.
Suavemente, salvem-se todos.
Na Cracolândia, a Disneylândia do pó.
Armagedom do preto e do judeu.
Do pobre e do plebeu.
Do rico além da riqueza do judeu.
Réplica da tréplica que não há.
Varejo e venda sem cifrões.
Da mulher e do travesti da esquina.
Da sina que vem do Sinai.
Dos parques e parquímetros.
Botecos e meros afetos.
Artistas de rua e moradores que nem.
Viadutos e seres putos.
Milagres surgidos na sarjeta.
Mutreta de repassar o pó.
Mureta entre a riqueza e a pobreza.
À fome, cães e humanos mil.
Fodam-se os artistas da vida...
Jardins e vilas segregados.
Todos vilões em si.
Nuns os abastados.
Noutros os eternos chinfrins.
Chamuscados de poluição, beijam-se.
Parcimônias da amônia geral.
Filhos de uma mesma vida no fim.
Vilipêndios no sol a frigir.
Como meros fugitivos de si.
Na mesmice do bagulho carmim.
Crendice da chegança sem mimimi.
São Paulo será um por fim.
A comer milhares de reais.
A sorver o que há de mim.
Embriagado, tragado até o fim, faço-me sim.
E foda-se o restante que há.
No subterfúgio da vida, o que haverá?
Talvez uma esquina ou uma sina.
Mas quantas milhões existirão?
Na insônia da isonomia, o silêncio.
Num bar, o cliente chama o garçom Inocêncio.
Na sentença da demência, a clemência...
E ponto final, afinal..
terça-feira, 30 de abril de 2024
Gonzagueando
Por Ronaldo Faria
A terra carcomida pela vida e
a seca ressecam os olhos que sequer podem mais chorar. No lugar, a se largar de
solidão e remissão, beatas choram a morte como se a vida fosse algo a se
esquecer no limiar. A parir fetos natimortos, crianças que sorvem na farinha a
rinha que a vida dá como sabor, elas se vestem de negro e oram para um Deus que
se esqueceu de lá chegar. O padre, quando raro passa, raramente tem na Bíblia a
resposta pela dor que se segue e se firma. A fungar no cangote da próxima mulher,
o homem pouco se importa com a cria que no bucho venha se embuchar. Sobe e
desce, penetra e tira, goza feito sanguessuga e vai, no trote do cavalo sedento
de um poço.
No alpendre, a sonhar para além do sol inclemente que chega no chão e mata e destrói como fosse Hanói em décadas atrás, a morena olha para a distância que há entre o sanfoneiro embriagado e o luar brincando de iluminar mais que o lampião que morre em cheiros de querosene e findar. Quem sabe um vaqueiro não perderá uma rês ou reza por lá. E a porteira rangerá para o amado entrar. Seu nome será Severino ou Amadeu? Pouco importa. A porta estará sem trinco ou trema. Ele poderá entrar e saciar sua sede de água e amor. Na cama de lençol branco e quarado, o sangue estará pronto para ser derramado. Amanhã, no arado, o gado suará no seu eterno trabalho.
sexta-feira, 26 de abril de 2024
As borboletas de Zé Ramalho
O derredor está escuro, sombrio, talvez. Na vez da chegada do destino, o homem/menino vê-se, em desatino, a caçar sua mesa cercada de outras tantas igualmente sombrias e escuras. De vez ou em quando um ou outro farol ofusca a negritude geral. O farol (semáforo para alguns) pisca em três cores. Da chapa vem a surgir e subir odores mil. A larica bateu e nem Prometeu conseguirá segurar.
Jairo, para o bêbado e lisérgico o Juarez, serve os clientes que restam a buscar felicidade ou matar a saudade que não se deu permissão de partir ou encerrar. Ele, que mora longe no longínquo lugar que seja, só espera o gerente do boteco mandar jogar água geral. Na frágil realidade de cada um, o último gole de rum. No local, quem conseguiu, conseguiu. Pra o resto, o desejo é só ensejo.
Muitos, quase todos, voltarão para casa na incerta realidade de que, quem sabe, o amanhã acordará de acordo com os signos, submissos em si mesmos. A esmo, vagarão no universo que versos não descrevem. Talvez uma lágrima, um vômito desgarrado, uma insônia em que qualquer Sônia seria o porvir. Bastardos de si mesmos, sorverão tristezas. Mas, na destreza dos solitários, se salvarão.
quarta-feira, 24 de abril de 2024
Na mesa de um mundo Kleiton e Kleidiriano
Na mesa que balança e trança pernas e pensamentos, a fuga do sonhador que a cada noite se encontra em pesadelos e desmazelos sabe-se lá de onde irão chegar. Certo e certamente estarão escondidos n’algum lugar, por aí, no rarefeito ar.
Na mesa que a bazófia (seja lá o que isso possa representar) se faz presente, o ausente permeia seu lugar. Nas próximas horas já estão circunscritos o soluço, as soluções insensatas, as mágicas que o poeta, apóstata, acha que pode decifrar.
segunda-feira, 22 de abril de 2024
Chico e Mônica
Vazios que nada preenchem: frases perdidas, vidas sem vida, efêmeras horas que correm ao contrário, na dor. No labor de ser feliz, copos cheios de espuma e pródigas ideias. Talvez um braço amigo, um abraço demente, um discurso veemente, desses que diz que o amanhã amanhecerá melhor. Nas letras negras do computador, ladrilhos de uma rua em ladeira a assombrear o luar e assombrar as loucuras que vêm em vagas.
Certezas que iludem a solidão: um coração torpe, um desejo cambaleando antes do tombo, uma única candura quebrada em cacos de vidro. No voltar que o tempo não refaz e desfaz em ritmos e letras que nunca se farão música ou poesia, o homem caminha em seus momentos etéreos e voláteis a achar que se achou. Mero e ledo engano – o menino que corria as terras secas a carregar um carro de bois de sabugos de milho já não há.
Verdades que se sabem apenas ecos de profecias nunca remidas: a circuncisão de esperanças, as danças tresloucadas de pares pareados em si, sinais de céus azuis ou escuros da chuva que nunca cai. Na sombra que a árvore sem galhos dá, na dádiva daquele que teve ao menos um segundo de amor, a trilha que ninguém trilhará. No trem do tempo que corre e percorre trilhos e ordenha vidas, o derradeiro apito que o surdo nunca ouvirá.
sábado, 20 de abril de 2024
Nas cervejas do padrinho, o mimo da mímica se faz (substrato do cigarro do bom sem apertar um)
Por Ronaldo Faria
Elucubrações mil num céu que há muito deixou de ser azul ou anil. No
perpétuo pensar, o novo luar. Um lumiar que a noite faz pernoite. No aconchego
final, a luta entre a embriaguez e o mal. A certeza de que a incerteza far-se-á
frugal quando o tempo se for. E ele sempre se vai e se esvai. Brinca de
eternidade quem crê que a crença poderá permear a vida da morte à sorte de cada
um.
Marcelo Maldonado Peixoto, o D2. Quem saberá o nome real? Saber-se-á. Será que vale saber E foda-se aquilo que não é rima! Na cisma da cidade que une beleza e escória, a história vitrifica a retórica que chega nos sons milenares que o coração brinca de florear para Poliana ficar de boa. Mas nem tudo que entoa é a realidade que o gueto traz em verborragia. Afinal, ele não traz à cor negra ou preta as ruelas das favelas, as coisas comuns de comunidades. Na correção da insônia que a isonomia da vida faz destrato no trato que a madrugada traz, seja chegada a malandragem que a zona norte dá.
O beijo da mulher que se
aninha sobremaneira no abraço que parece o sargaço que cola no barco esquecido
no porto destruído para nunca vir a ser. No cerzir que junta saudades e nunca
existir, a loucura da benfazeja chegança num rolê. E vamos no sapatinho que o
ardil do próximo minuto faz a troca da grana e do pó na esquina que se eterniza
na sina que ninguém fará parar. Loas aos incrédulos que creem nas cédulas a
remissão final. Rima surgida na mijada largada num banheiro aberto em duas
opções.
Nos pesadelos que surgem
loucos e tresloucados no submundo que é estar vivo, os versos vazam em sons que
os ouvidos ainda ouvem. Nos olhos que já não sabem mesmo que veículos chegam de
um lugar perto, o acerto do certo que, tão presto, nem parece estar no verso
que, transverso, vira rima para uma conexão entre o morro e o asfalto. No desabafo
que ainda bem nas letras enviadas não têm cheiro, surge o esmero que a vida
arrestada não traz sobremaneira na rima do apito que ainda soa fatal.
Tivesse sobrevivido à sogra filha da ... que queria a filha casada com herdeiro de uma fábrica de guarda-chuvas, teria vivido uma vida de maior sorte? Nas esquinas sangradas das zonas sul e norte, no subúrbio banal de algo sempre animal, o menino se jogou no jogral. Vale o que for. Na época do telefone que pedia sinal para ser real, das cartas cravavam o tempo das emoções, a incerta certeza que poucos sabem o que ser. No dedilhar do agora, incrédulo e crédulo, o mundo que não disseram antes que um dia viria.
(Para o Marcelo D2)
quinta-feira, 18 de abril de 2024
o frigir de ovos e óvulos
Por Ronaldo Faria
Sinfrônio, codinome de bêbado que não sabe dizer se veio daqui ou se irá para lá, bambeia nas letras e sabe que no dia seguinte será pedinte de si mesmo. Mas, pouco importa. Às portas da noite quente e fria, pragueja ser alguém aquém do que se é. Benfazejo no ensejo madrigal, se entrega ao nada, a nadar e saber que se afogará. O lugar é algo que se pode rimar. Os dedos já não respondem. E nem sabem de onde vêm. No limiar da loucura, a insensatez delimita a conexão entre a derradeira centelha e a vez.
Lulu Santos a surfar na lembrança em desandança
Por Ronaldo Faria
Na zona que o sul de um lugar faz ser eu em mim, minúsculo ser na vida que chegará logo longe e depois, o garoto brinca de marcar etéreos gols, dá golpes nas facas que matam sem rasgar e sangrar, se vira no silêncio ensurdecedor que a história faz brilhar a cada noite do depois. E há bares no embriagar de baixos que o Leblon fez de um chacareiro francês milhares de cachaceiros do amanhã. No som sintomático e dramático que cada frase desnuda em si traz, a amorfa forma de se transmutar e se largar. Um lagar haverá de existir em qualquer lugar. E terá cheiro de renovar, morte ou jasmim. No quadrado que vira a vida, um retângulo trará álgebra ou aritmética para a métrica da poesia. No papel, Papai Noel sabe que não virá este ano porque o menino se fodeu.
Nas areias que arestas de lembranças já nem sabem se de verdade existiram num estiro e respiro de tríades, os corpos tomam pingos de chuva caída só para lavar o passado destronado nos goles que se engolfam de realidades mil. O primeiro beijo de paixão verdadeira, a prostituta a ganhar seus mil réis sem trabalhar, a insensata asneira de se achar num lugar. Hoje, sabemos, que tal chegar se fará em cinzas e fogo para um renascer que nem a Fênix saberia criar. Pelos, penugens, vertigens, loucuras mil, desejos infindos, escorpiões em nascer e ascendência, caminhões a correr em madeira a terra do Nordeste de pó e perdões. À saber que dezenas de anos depois o amor sobrevive. Do infante virgem surge Romeu que a Julieta nunca se esqueceu nas asas de Prometeu.
terça-feira, 16 de abril de 2024
Iluminado Dominguinhos
Por Ronaldo Faria
Na casa de pau a pique e sapê, a mãe chora o filho, quase ainda feto, que se foi. Um caixãozinho pequeno e de madeira quase calcinada pela seca é o primeiro e derradeiro leito do menino que dorme num nunca acordar. No lampião que suplica por um pouco de querosene para queimar na sua sina que só quem viveu no passado sabe existir, um ou outro mosquito se joga para arder em chama escura e amarela, que qualquer avó de nome Amélia saberia ser homenagem de filho antes maltrapilho à sua matriarca sem ter tido sua fuzarca. No longínquo perto demais, o bezerro berra o brotar de um leite que derrama das tetas murchas da sua mãe. Sem entender, o boiadeiro grita para o gado se recolher. No fogão de lenha, que faz os galhos antes vivos gritam em crepitar a sua morte final, a senha da sanha da fome.
Na noite que chega e se achega devagar, uma estrela ou outra brilha de ser branca no negror que o torpor dos raios de sol que descasam e descansam num lado qualquer. No corpo nu da mulher, o mundo que tantas rotas deu às mãos que acariciavam a solidão se transmuta de cores e seus odores, sabores que só o universo de lábios sedentos de línguas e dentes dá. Talvez uma rede largada ao luar que viaje para o poema desejar. A pele lavada de pingos de prazer e suor. A maneira de quem sabe, em talagadas, que amanhã será um dia de dizer a si mesmo o desmazelo que as letras e as teclas agora dão. Na diáspora de cada segundo que sempre é passado há a incógnita de casas caiadas e caladas, metáforas que a vida faz em si mesma à eternidade que a saudade faz – invólucro de poemas que se formam em fonemas e letras mil. Quem sabe algo possa rimar, pela rima, com céu pueril e de cor anil...
sexta-feira, 12 de abril de 2024
Vozes e melodias
Por Ronaldo Faria
quarta-feira, 10 de abril de 2024
No samba que gira as pernas a sambar
Por Ronaldo Faria
Agripino, desses que a gripe
passa feito poça d’água cheia de girino, batia o tamborim na madrugada cercada
de cervejas e mulheres de pele que a África, graças a Deus, deu. Filho de ogã,
batizado e confirmado, ele viajava acordado nos acordos que fez, mesmo sem
saber, com a vida. Entre acertos e erros, sofismas e solfejos, versos e beijos
de testa e língua, à mingua, ia a seguir a estrada do samba de breque, a brecar
em cada ir e chegar. Pra, no fim de tudo, com o cavalo já cansado de tanto
poeta receber pra virar escritura ou poesia, terminar na voz de Vinicius de
Moraes.
Pra virar o dia com Caetano
Por Ronaldo Faria
-- Manda a saideira aí,
Germano! O dia já vai virar! Que nossas gargantas, enquanto elas puderem beber
e falar, nessa vida que morrerá logo ali ou acolá, possam se esmerar e
satisfazer os poucos prazeres que ainda restam a nós, meros subservientes seres
de nós mesmos.
Germano, garçom e camarada,
que apresentou tempos atrás a amada, responde rápido e ávido dos dez por cento do
pedido de Beraldo. As mesas já quase vazias em volta, revoltas nas emoções que
surgem em turbilhões depois de muitas doses e toques, olhares e desejos, esperam
igualmente a garrafa chegar. “O último gole não tem como se largar”, pensam
todos aqueles que resistiram heroicamente e historicamente. Um dia os escritores
do futuro irão trata-los como resistentes dignos de verbetes e, quem saberá,
falsetes de alguma inteligência artificial.
A sorver mais um líquido
liquefeito de poesia, saudades e santos que descem para escrever no cavalo embriagado
e tragado de suas lembranças e lambanças aquilo que deixaram de falar em vida, o
tempo se esvai e vai nos segundos fecundos que viram passado em si a cada
escrever. A ver, o que tiver de ser. Com Caetano a tornar veloz um Veloso que
brilha entre estrelas, resmas e réstias, versos e versículos, o cara detrás da
tela branca se acha escritor. Na esperança nunca vinda e no imenso mar de dor.
Da Bahia o padrinho prometeu visitar a sede do Olodum.
-- Germano, abre outra saideira!
De número qual? Sei lá! Mas já bateu no recorde normal. Isso é bom porque garante
que a gente, mesmo que de forma mentirosa, volte a crer que o tempo vira
estigma que só a lembrança de cada um faz passado parecer. Eu, por exemplo, me
sinto agora no Gattopardo da Lagoa a beijar a índia do Pará ou a comer feito
louco o Meia Lua do Natural. Deixe, por favor, assim ser.
Germano, cordato e corado no
rosto de tanto receber o sol que o português não impede de chegar por se negar
a colocar um anteparo, logo traz outra garrafa. A madrugada já chegou. Os
pássaros dormem dependurados nas poucas árvores que restam, os amantes se esculacham
notívagos nos colchões que descobrem vaginas e colhões, as estrelas curtem o
pouco tempo que a primavera com cara de verão traz. O importante é saber que
algo irá se transmutar e viajar milhares de quilômetros nas luzes de fibras
óticas e cruzar mares, oceanos, continentes e mentes. Metamorfose feito entorse
mal tratada.
-- Germano, decidi hoje não
saber quantas linhas tinha cada parágrafo ágrafo. Chega de seguir limites!
Deixemos a loucura sobressair! Portanto, não esqueça de mim.
No novo dia do dia novo, como fosse um ovo a chocar ou frigir, Beraldo lembra da camaleoa que se rapta. E se adapta. E se se faz amante para uma eternidade que não há. Que pode virar a mulher a bel prazer que se entrega no prédio esférico do Centro ou dormente na rede de uma casa onde uma cabeça cadavérica de boi surge no quintal de luar. Bel, a que será que se destina? Com certeza parte de um escrito pequenino, longe da tua intacta retina.
segunda-feira, 8 de abril de 2024
Sua máquina do tempo
O bonde se bandeia para um bairro qualquer onde os trilhos o possam levar. E Maricota viaja em seus pensares e pesares. Vestida de camisola de cetim, cabelos presos por presilhas mil, ela brinca de ser o desejo de mil homens. Embriagada em suas mágoas, vítrea na pele e virgem no sonhar, ela brinca como fosse somente efeméride atávica. Entre as suas pernas surge até hoje o cheiro bom de jasmim.
Na eletrola emerge o som de Nelson Gonçalves. De algum lugar alguém aplaude num salve a voz que surge de um gago embriagado. Aos poucos, transpassadas de solfejos e arpejos, as notas ganham sons externos, divagam e vagam pelas ruas e esquinas, amores mil e mil sinas. Certamente, na mente de um poeta, asceta de algo maior, a soberba da métrica sobressai ao limite de um mero dissabor.
No mundo que é sobremaneira infindo e infinito, retretas e serestas brilham nos coretos carcomidos de teias de aranha e descaso. Ao acaso, sonhadores imunes à tristeza ainda cantam suas sonoras e furtivas saudades. Para eles, a maldade é algo insone, mas que prefere ressonar nos fins de uma estrofe incólume. Da virada dos 50 do século já morto, torto, o escriba dedilha à trilha finda.
Uma modinha e uma ou outra serenata entoam o sortilégio da derradeira dor...
O ótimo Quarteto Wynton Marsalis
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