Por Ronaldo Faria
O bom da vida às vezes é sequer relembrar seja o que for que tiver de lembrar.
Por Ronaldo Faria
O bom da vida às vezes é sequer relembrar seja o que for que tiver de lembrar.
Por Ronaldo Faria
A quebra da taça de
vinho mal usada (culpa de um DVD) em pleno junho de festa nordestina e
sertaneja é mau agouro ou a bênção de que algo novo vai chegar?
Na madrugada tragada de
faíscas e ciscas de fuligem que permeiam beijos e lábios sedentos o casal roda
em volta da fogueira revoltada por ter sido morta para virar carvão, para ela
com certeza em vão. Mas, creiam, os amantes nem sequer ligam e bebericam línguas
e rodopios, pé de lá e de cá, sorvem de si mesmos o líquido que precisam para a
vida. No vai e volta que revolta o forró para quem não conhece a prece de quem sabe
tracejar suas pernas e bofes.
No meio do dia que a noite faz
escurecer para saber que pode clarear, o homem olha ao longe a amada que ainda
não é ou nunca foi. E se esbanja de desejos e falta de amor, fornica em
pensamento com a menor formiga que corre desesperada para o formigueiro e vê,
ao longe, o sertão calcinado e queimado como fosse certeza a finita prece de
ser feliz na mansidão. Lá longe da colina o vaqueiro busca o gado perdido do patrão
que vocifera na sua escuridão.
Mas na cidade que se ilumina
de lampiões de querosene há o cheiro de festa, zabumba, sanfona e triângulo. Tem
o limite entre a crença e a certeza, entrementes, quem sabe, da própria vida.
Meio perto e saber-se-á na trilha, bêbados se juntam numa mandrágora em que o
fim é irreal. Mas ficarão sons, zumbidos, cheiros e tons urdidos, ardidos, coisa
que crava no coração e caminhadas em perfídias tresloucadas e ensandecidas no candeeiro
sem luz.
Por fim, se algum fim existe
entre o começo e o derrear, ficam o som do carro de boi, o aboiar do vaqueiro,
o acordeom a tocar defronte o casario, o tomar de banho em cuia, a areia branca
do rio que morre e mata a cada estação, a sensação de paz, encontro e solidão
que permeia até hoje. Senão, existirá a chama que se inflama em quadros que percorrerem
neurônios e insônias, como um junho de notícias infames e felizes de forrozar
em algum efêmero lugar.
Por Ronaldo Faria
Como será o amanhã? Que
ressacas serão? Terão nome de mulheres, paixões, emoções, dores de cabeça ou
apenas desaparecerão? Comerão um meia-lua no bar que não mais existe? Andarão
em andrajos e pés trôpegos nos sonhos calcinados? Brincarão de dois num corpo
só, solitário e em sofreguidão? Saberão ou saber-se-ão? Sei lá...
Quem de fato, ser fátuo,
saberá? Será como o sopro de um saxofone no meio de uma música do Chico? Ou
apenas um verso requenguela, daqueles que cai da página pela janela? Como o
jogador maior de futebol de mesa dedicado à iugoslava que no continente era alemã?
Na verdade, essa vida é só mera esfera de sequer poder brincar?
Por que vivemos numa vivenda
esférica de onde a água não cai se sequer sabemos quando cairemos quicando para
um mundo melhor? A pedir logo à madrugada que se esfalfa para chegar fechamos
um saco de lixo reciclável para sermos um ser a mais afável ao mundo que não
depende daquilo que acreditamos sermos nós no logo após.
Na foz da poesia, a azia se faz profana, ainda mais para quem nem vesícula
tem mais... Obrigado Celso Fonseca por ser eterno e terno professor.
Por Ronaldo Faria
O homem, na aquiescência que o abstrato no substrato de nós dá, caminha nas areias de Ipanema como se fosse na eternidade um simples fonema. Algo que brinca de tracejar pra lá e pra cá aquilo que não sabe denotar de par. Já andou por sobre trilhos de trem, escapou de pivetes, correu ladeira abaixo de um ladrão do Méier, vagou embriagado onde o diabo jogou o pão que amassou, se escondeu em colcha de retalhos para crer que não seria estraçalhado. Foi, fortuito, fugitivo, famélico de querer. Quem sabe, quilombola de um quilombo perdido nas perfídias de história qualquer, encontrou, por fim, sua derradeira mulher. E deitou quieto, aquietou num lugar apócrifo e, creiam, sequer vomitou. Foi apenas ele, enlouquecido e aquecido de goles ou roupas do Vietnã. Foi viajar na Jamaica, baseou seu universo num pedaço de papel o seu véu e se esvaneceu de porvir seu por vir numa data inusitada da menor fé.
O homem, menino na verdade de
quem quiser crer, até acreditou pudesse domar os ventos, a foz do rio, falar
com Deus. Mas qual, era apenas ínfimo ser, sem palco, orquestra e vocal. No
desterro do fugaz enterro frugal, a fragilidade que sequer a maldade sabe desenhar
ou desdenhar. Afinal, qual será o lugar final e fetal? À espera da próxima
música, a versejar, o aprendiz a sonhar descobre que nem o mais pobre dos mortais
se enternece da noite clarear.
Por Ronaldo Faria
Venham sombras da noite e os açoites que nos percorrem em pesadelos sem
zelos num tentar dormir em paz. Cheguem, porém, na aquiescência da vida,
generosos e zelosos. Deixem-nos, ao menos, memorizar em mármore de carrara a
fugaz fervura de algo ser. Afinal, quantos anos, dias ou minutos mais? De
quanto tempo a eternidade se perfaz?
No canto do bar que se derrama na esquina onde qualquer quina serve de anteparo para um bêbado trôpego poder viver, o pranto não tem lugar. Talvez saudades travestidas de mulheres vestidas de lingerie e toques de almíscar a esvoaçar nas nuvens que esperam gotas de chuva chegar para parirem seu viver.
-- Tocar violão de ser bão.
Tentei aprender para viver o mundo de uma morena clássica. Não consegui. Hoje resta
babar por quem sabe fazê-lo...
Na imensidão que um quadrado
dá, sob a luz de milhares de pontos de uma tela esteta, o pseudo poeta vai a
vomitar saudades, calamidades e chamados vãos, em vão. Quem sabe um dia uma nova
anestesia não permita tudo esquecer, reencontrar o rabinho peludo a balançar, saber
que nada mesmo há de saber.
-- Cantar, como é bom cantar.
Desopila o fígado, tira as rugas do rosto, oxigena a frágil mente, deixa a
gente a crer que vale a pena ser.
Na ilusão premente que cada um
mente pra si, os dormentes de um trem que nunca chegará na falta de casais a
chorarem o despedir, na loucura daquele que busca o vagão de onde chegará seu
repente, quiçá réquiem e refém. E assim, assintomático, em sofisma, vamos a
ouvir quem nos diz que ela é carioca...
Por Ronaldo Faria
Com a lua cheia no céu, seara
qualquer, num canto recôndito São Gonçalo faz abençoar o violeiro que dedilha
sua música e seu cantar. Num lugar onde o lagar e só o largar da pinga goela a dentro,
adentro a vida como fosse fermento a ver o bolo sovar. Como fosse um ébrio que
se desgarra da reta e cai, soberbo, num meio fio que apenas frio tem. Tênue, o
homem busca o hímen notívago que não existe e persiste solitário riste e firme.
Como um marujo perdido no derradeiro cais do porto. Talvez um atávico ser que
tenta apenas, a duras penas, sobreviver com altivez. Senão, um inócuo binóculo
que apenas enxerga entre lentes, vidros e frigidez.
Mas a lua cheia que se esgueira
no céu escuro se faz calada, sob uma árvore caiada e quase caída, de branco, sombreia
a luz que o luar irreal derrama na terra onde brota o impassível amor. Em flor,
as plantas transplantadas em fulgor se espalham no chão que espelha o rosto da
moça mais fagueira que a figueira centenária viu. Como um socó que dorme e
ressona na copa esverdeada, o sonhador olha para o céu e vê pequenos pontos de
luz, clarões esparsos e dispersos como disparos de um bacamarte qualquer. Não
muito ao longe, o rosto avistado da mulher. Lívida, quieta, faz-se presta ao
violeiro que anuncia o amor altaneiro, primaz e primeiro.
Contudo, creiam, a lua de São
Gonçalo haverá de reaver a fé na infinda e benfazeja crença do novo alvorecer.
Quem sabe não existirá um louco a gritar nalgum lugar feito profeta de um
esteta a voar e revoar seus incertos incestos entre a poesia e o jogral que desvanecem
na voz do imberbe que crê no mero flerte. Na praça onde o coreto deixa a banda
tocar, um bêbado lança seu olhar além-mar, mesmo que as ondas batam somente milhões
de pés após. E pensa o escrevinhador: “caberá apostrofe só para rimar?” No
dedilhar da viola, formosa moda se faz em corda. E lá onde o mundo se acaba a
festa e se refastela de crenças, descrenças, inhambu chitão e xororó.
Por Ronaldo Faria
Ah, meu Nordeste... por quê estás tão longe milimetricamente se existe
em mim na carne que ainda bate simultaneamente? Onde estão teus cheiros,
esmeros, fontes de água límpida e risos destravados de dor, como imagina o
filho desterrado de cá?
Embriagado de desejar ser e
estar, a vagar, Juvêncio corre entre árvores mortas, capim seco, cabeças de
gado já descarnadas por carcarás, pequenas covas que guardam corpos de gente
que nem vingou. Seu cavalo percorre picadas, foge de espinhos que sangram o
mais forte dos vaqueiros, vira sem eira e nem beira à vontade das mãos que o
chicoteia. Para ambos, uma estrada à vista, onde a vista anseia caminhos nunca
trotados, tratos nunca criados, vontades nunca feitas. Em cenas refeitas e
desfeitas, a fresta de uma porta esconde a mulher posta em trejeitos nus e
beijos perdidos e urdidos, ardidos, feito a ferida que vislumbra, translúcida,
a certeza de nunca sarar.
Mas Juvêncio não para. Segue
em frente sempre, fronte molhada de suor e rasgada de rugas profundas que lhe
correm a face. Sabe que em algum momento, nem que seja em lamento, seu destino
chegará. “Ave Maria de lá”. No alpendre da fazenda deixada para trás, o pai
dorme na rede dependurada de acordo com o lastro de sol. No poço logo perto, de
água salobra e quente, os animais matam a sua sede de querer na Terra ainda
ficar. O vento traz uma brisa tênue e fugaz. Em algum lugar deve haver o nunca
mais. Resta somente saber se será aqui e agora ou para depois de algo que se
esvai. Na crina molhada do cavalo descem gotas que abrandam a chegança mansa.
Feito ser imperfeito, Juvêncio
trilha um universo onde há de tudo, menos verso. Talvez sílabas soltas, rotas,
feito louças que se quebram em translúcidos cacos que cortam o quase anoitecer.
O sol lhe queima os olhos, a poeira traz uma névoa dispersa que parece ter
pressa de dispersar. Seu cavalo, único amigo de agora, corre enlouquecido nas
derradeiras forças que restam. Mais um pouco, cairá decerto. Feito decreto
divino de algum feitor, roubará os últimos minutos, nas notas de uma canção
dedilhada em anginas mortais, desfará as certezas que nem o maior ébrio do
lugar poderia crer. Cansado, depauperado, Juvêncio para seu animal e, descrente,
nada mais anseia.
Lembra o passado, sua filha a
buscar os raios da manhã, num olhar distante de quem sabe a morte infame e sórdida
logo chegará. Seu mundo desgarrado, destratado e desamparado, partido entre
meios, entremeio atado, parece um poema que nem em prece perceberá ser sagrado.
Untado de pó marrom e segregado, Juvêncio já não cavalga. Apenas senta,
encarquilhado, e vê as primeiras estelas chegarem. Achega-se a si mesmo e, a
esmo, dilacera o que, além da serra, pode se ser vida ou vastidão. E apenas
fecha os olhos, chora seu mundo final e descobre, afinal, que tanto trilhar termina
sempre, invariavelmente, num escuro, infértil, inexistente e inócuo lugar.
Por Ronaldo Faria
Vem meu anjo ou santo da poesia e letras, acordes e alforjes do passado, e me tragam do que falar ou vociferar. A ouvir um perdido Em cantos e poesia volto à minha tese de que Pernambuco é, sem dúvidas, o maior berço musical do Brasil.
E o tempo? O que é? Tão rápido
e inócuo, desses que vem e voltam em invólucros que nunca saberemos, é somente um
parágrafo ágrafo num turbilhão de letras e sílabas, balbuciadas e expostas em
postas de carne viva e viúva numa esquina qualquer.
Talvez uma filigrana de
emoção, uma inaudita razão sem amores em cisão. Quem sabe a calada e tardia
madrugada que se expõe, os corpos que latejam em ilusões. Às açucenas ou
falenas, a certeza de que inebriantes canções se abraçarão na noite.
A sentir o sabor das ruas de
Olinda, dos seus casarios e ladeiras nos tambores da madrugada, da dança descoordenada,
a incerteza profética de que o fel pode dar mel. Do vinho à cevada, a certeza
de que no mundo, inócuo, há fantasmas e também fadas.
Por Ronaldo Faria
Afinal, haverá algo depois
daqui? Só saberemos após fugirmos daqui. Se fuga há, saber-se-á. Certamente,
pelo que já vi e vivi, não. Só um juntar de cinzas pai e filha, nada mais. Mas,
como diria qualquer ébrio recente, haveremos de nos enganar. Na noite quase
fria que chega, o aconchego trôpego da amante que nunca se dá, a paráfrase do
que não se abstrai jamais.
Nas plêiades da vida (eita
palavra velha), a performance de uma peça que resistirá ainda até a cortina
derradeira baixar. Mais alguns atos performáticos, aplausos de casa cheia,
merda no camarim, bilheteria chinfrim e sem aplausos do depois. Mas, foda-se!
Cada um em seu cada qual, desigual, informal, impreciso e abismal. Apenas um na
noite que enseja o amor.
Na mesa de canto, quieta e
tresloucada, onde dois se fazem um e perfazem o suor que virá no depois do ser nenhum,
só dois, a nuvem de cigarros acesos tem acesso ao ar fresco da quase madrugada
que afaga a cena translúcida à vida. Como qualquer paixão, a insana cena flui
entre um misto de tristeza, perda e tesão. Às próximas horas caberá a derradeira
sofreguidão.
Por Ronaldo Faria
Descobri que sobre ele pouco há, mas o seu CD já é cotado a R$ 45. Ou seja, quase uma dúzia de cerveja em lata. Contudo, não vale vendê-lo além de ouvi-lo. É pouco dinheiro para tanta poesia. Assim como é pouca a certeza de que haverá quase nenhuma leitura de texto escrito além de parca legenda. É foda o tempo passar tão ligeiro que não deixe nem quase baião ou mera canção ficar no derradeiro centeio de um trigo que não florescerá. Daqui, às três horas e algo de um domingo feminino e de mães, mamo outra vez a revelia da sangria que desabrocha na flora que aflora nalgum lugar. Do seu canto (coisa de lugar) Arlindo Ricarte Jr há de tal lembrança reverberar. Senão, fica a declaração de amor à Iolanda.
Por Ronaldo Faria
Ele subia o moro quando parou, entre a bebedeira da madrugada finda e a feira que já se montava, para garantir centavos e alguns avos tardios na caderneta do homem que vendia desde a mãe até a vadia que nele grudara pelo insensato feto que paria. Subia e parou porque um sambista sorvia um gole de cachaça e entregava ao vento sua voz que cantava a derradeira morte na horizontal.
Mas ele continuou a subir. Cambaleante
e trôpego, translúcido ao último luar e itinerante de emoções sem noção, coisa
de quem titubeia em praguejar nas mesas de bar e o inaudível cantor da própria
solidão. Em vão, dá bom dia à lua tardia que se esconde e sequer sabe que há
desvão. Certamente, no barraco, uma morena o espera para redescobrir o amor que
ama em apenas ser bom.
E assim continuou, nas
sinuosas ruelas cercadas de tijolos e telhas de amianto, como tudo fosse um
simples pranto disperso. Um subir quieto feito incesto e cataclismo, perplexos
de sê-lo. Tem vontade de lamber um selo e mandar carta à amada para que ela o receba
com carinhos e beijos, café quente na mesa e desejos de “rolar”. Mas, qual
nada, há somente a chegada do mesmo nada.
Mas lá foi ele, a pensar que
um Deus que deixa tantos morrerem à mingua, ainda pode existir ser bom. Mas, ao
menos, tem o lampejo de ver que está sob o domínio de goles e golfadas e diz
com sua razão: “Fodam-se as regras do mundo, já que estamos lá no fundo”. E
subiu os últimos metros de terra, cheirou os derradeiros cheiros que o dia que
nasce dá e brincou de poeta ainda poder ser.
Parou defronte ao barraco que teimava
em não descer ligeiro morro abaixo e agradeceu o pouco que derramava dos olhos encharcados
de saudades e riquezas inexistentes. Por sorte, a birosca do Noca estava a
fechar as toscas portas. Pediu a última cachaça, sorveu o penúltimo gole e
deitou sob a árvore morta no tempo a ver o sol que rebrilhava no chegar
qualquer que vertia num sequer.
Começou a cantar sem uma letra saber e fez-se Pavarotti num samba eclético e profético nunca cantado antes ou decantado entre alas e baianas cariocas na avenida. Apenas o foi, nas falácias que a vida dá. Achou que era, viu-se em quimeras, sorveu o fel e o mel que a vida dá. Porém, sem saber, morreu. No jornal popular do dia que enxugava o suor, virou pé de página: “Malaco torra na dor”.
Por Ronaldo Faria
Cazuza na madruga. Mandrágora que dá gargalhadas diante do nada da troca de óculos e da falta de ósculos da amada. Uma ou outra sensação na pulsão do coração. Que o assim seja e se anteveja nas vestes largadas e tragadas das ilusões que invadem corpos e mentes nos espaços e percalços que a vida dá. Que os panos da derradeira cortina do palco que impõe tragédias e comédias no teatro atávico da casa/maternidade até a sepultura/forno venda seus ingressos pregressos e futuros para a plateia ateia e crente de que cada “verdade” emergente é real ou ausente. Se for ou não, que o falsete das notas e versos se faça num aríete que destrua minaretes sem fim... ou a fuinha que tem no focinho o saber de morrer ou amar. Madrugadas, botecos, poesias e afins, um dia chegaremos ou findaremos lá.
Ps.: as melhores camas não são as hospitalares, mas as que dão paixão ao invés de drenos e as que se enrolam de corpos, peles e suores ao invés de pessoas de branco em cancros de parecer de boa para pagar as contas que irão cair.
Por Ronaldo Faria
À espera da próxima cerveja
gelar, o limite entre a alegria e a amargura. A finitude e a plenitude. A vacância
dos próximos dias e a dialética tardia. Haverá? Em qual diapasão? Na dialética
métrica da razão ou na irracionalidade do senão? Saber-se-á. Mas, afinal, algo
sabemos do próximo segundo? Será ele fecundo ou findo? Notas, acordes e um
acordar sonoro ou o silêncio discrepante e infante que nos desdobra em lençóis
que nos deixaram descobertos feito fetos a chegar no mundo?
A ver e ouvir Novos Baianos,
antes de dupla morte em falta de sorte, vem a incerteza sincera e deletéria que
não quer derrear. Desde meu passado atávico e territorial, quase um armorial,
até a chegança do tanto faz ser, estar ou ficar letal. Na verdade, os da casa
não sabem a joia que tem. Nos ritmos dos inexatos e nem sei, vamos caminhando
em andrajos e lantejoulas, para o mesmo mundo que era de um El-Rey. No copo em
cópulas com o borbulhar da cerveja, a infinita chegança do até onde poder
chegar.
Sonoridade e sororidade em idades uma hora já não nos cabem. Ou não? A resposta, posta, só a alguns caberá... Aqui, estou de peito aberto a descobrir.
Por Ronaldo Faria
Aonde escrever os últimos versos,
desses que se deixa como epitáfio e coisa grafada na cova que não existirá?
Aonde perpetrar as últimas
ideias, aquelas mesmas que surgiam sabe-se lá de onde vieram no vocábulo
finito?
Aonde frigir os derradeiros
versos, cataclismos perplexos de uma existência entre a lucidez e o hermético
plexo?
Aonde cantarolar a saudade que
não passa e perpassa nos istmos que unem lugar nenhum até nenhum lugar?
Aonde ondear as ondas que
batem na praia que se espraia feito passageiro que perdeu sua última viagem?
Aonde perpetrar a infundada e
estapafúrdia prosopopeia deletéria que se faz infausta e quase delirante aquiescência?
Aonde reverenciar nossas
loucuras, agruras, semeaduras e viver como enfeitiçados de uma única e sublime
mulher?
Aonde reviver um viver a quem
não daremos explicações, satisfações, emoções derramadas como esmola de ter?
Aonde conquistar o palco que
irá desabrochar a cortina vermelha em centelha que não se apaga ou se apega quiçá?
Aonde viver o lugar em que o passado e o futuro, nesse presente ausente, far-se-ão uniformes e algozes apenas por ser?
Por Ronaldo Faria
Na passagem do passado, ultramarino
e largado, ladeado de tempos, temperos e prosa, vem do fundo a frase em grifo: “É
foda!” É foda seguir sem querer, ter que ir sem ter porque, caminhar até que o
corpo não possa tremer ou temer.
Na verborragia que se intromete
entre a sede e a orgia, picos de glicemia, os entreveros daqueles que versejam como
marinheiros sem porto ou canção. Moribundos senhores a quem se pede apenas a
pena a troçar e escrevinhar, aquém.
Na costa aonde a onda não
bate, a poesia que se traveste de azul e de verde para deixar a terra mais
viva. Para sorrir de soslaio para qualquer vida, dizer que não se fez aguerrida
apenas por ser. A somente crer e, quem sabe, até descrer.
Ser talvez um pedaço de atabaque
e tamborim, afoxé e até coisa chinfrim. Ou nada ser. Algo que parece prece e parafernália,
dessas que a gente quer somente um amor que se chame Amália. Quem sabe, no fim,
Amélia também valha.
E destemperar como louco ao ver
o tempero fazer da gororoba mais do que uma alucinógena sobra. Pedaço de
arquétipo milimétrico e aquiescente de toda uma vida. Sentimento alucinógeno de
bolhas, colarinhos e sabores mil.
Porque, enfim, no sempre fim que sempre há de se caminhar nas cruzes e obuses que varrem o chão, descer dias transversos. Como o aprendiz de poeta que passeia no passado e anseia a ceia de sexo, amor e tesão que dorme na criação.
Por Ronaldo Faria A noite rolava meio emblemática e meio trágica na sua atávica forma de ser e sobreviver. Casais se lambiam, se falava...