Por Ronaldo Faria
A noite, como diria o novo poeta
Salomão (não o Waly), insiste em não passar. Talvez, quem sabe, uma felina leoa
poderá nos tocar, beijar e amar. Certamente encontraremos uma tal em alguma esquina
de algum lugar. Num bar? Será? Nas calçadas que a mulher-menina anda
despreocupada a viver? Quem irá saber? Talvez numa trama que se entranha em
meia hora ou na eternidade que destoa da realidade que nos jogará aos vermes ou
ao forno quente que traz ausente às cinzas finais, frugais, o esmaecer da vida
finda. Agora, pouco importa. A porta fechada e o som restrito nos faz ao menos
crer. A poucas horas iremos orar saber-se-á para o que. A vida, efêmera, surge
como a fêmea que habita em cada alvorecer. Senão, seremos perguntas atávicas a
pincelar dúvidas antropofágicas e letárgicas que destoam de ser em si.
Por isso a noite é o fim da tarde. Aquela que traz o que já se desfaz na possível chegada de mais uma madrugada. A alvorada, ao coração que ainda bate será a nossa grande pergunta. Chegará? Far-se-á? Irá saber lidar com as ressacas, com o céu a transmutar-se e o sermos somente por sermos? Nalgum lugar uma semente certamente brotará. Senão, que sejamos feito feijão e pão. Comidos no dia que sucumbe apenas para no calendário podermos existir e viver. Na existência extrema de sempre aprendermos naquilo que hoje há e naquilo que virá, sejamos prosa e poesia, cantada, escrita ou declamada. Senão, possamos aprender que a vida se renova e se faz nova, queiramos ou não. Ainda bem que a morte perpétua do passado e do presente perpetua o renovar de um criar que deita no peito nosso antes de dormir.