Por Ronaldo Faria
O realejo da praça central toca
sem parar. Dele, um periquito surge pequeno e quase efêmero a buscar o que de
melhor o cliente ou a cliente possam ler. Sem saber, ele diz à nota que denota no
papel num lumiar ou um fim cruel para sonhos e feronômios. Mas, coitado, sem
asas para voar, pouco sabe da sua missão. Sem intromissão ou permissão de no
destino mexer, sequer sabe dos mexericos que as velhas da janela soltam em profusão.
Apenas pega, solitário, um pedaço de textura de celulose que um dia foi vida.
Sua missão aqui é apenas juntar centavos para o homem que o acorrenta e, vez ou
outra, lhe dá um alpiste como fosse à vida um mero e único chiste.
O realejo, que nada de realeza
tem, entoa sons que chamam aqueles que procuram a felicidade em meio a tristeza
da cidade. Nele, o periquito, antes já descrito, é a chave do futuro, do
presente e do passado. Ausente de tudo, soturno na sua missão, apenas cumpre o
papel de menestrel. E sucumbe a cada olhar de ódio que lhe dão quando puxa um destino
em desatino com o desejo daquele que tira o dinheiro da carteira. A ferocidade
seria certeira se o seu dono não impedisse um periquiticídio. Em meio a tudo, num
maio altaneiro, a criança corre solerte e brinca de que a vida será eterna e
terna. Da sua prisão a ave pede a Deus de que ela esteja certa.
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