Por Ronaldo Faria
Vendetas de amor, blasfêmias
de dor, canções consternadas e adernadas entre copos de vinho e olhares vagos, entrecortados
na noite que permeia os afagos e tragos. Pares trocam pernas e pés pisados no
salão. Entre tantos, está Romão. Homem de idade longeva, dessas que já não conta
aniversário e vira anedotário, está sentado, solitário, na mesa que se esconde
numa canto sem luz. A cena em si sem traduz. Não passa garçom, não chega um chamego,
ninguém olha nem de viés. O revés é total. O Romão é somente mais um animal.
Houvesse licença de caça, sequer alguém ousaria encher com ele um embornal,
gastar um pavio de pólvora, buscar a trilha em que ele se embrenhou. Na
verdade, sequer qualquer fêmea emprenharia no local. Ele era um apêndice,
desses que não cabe em dicionário e nem obituário. Que não se extrai do corpo e
deixa a vítima morrer. No seu além, dos anjos nem um desdém. Talvez, quem
saberá, um universo sem verso e a nobreza que há muito está na mágica do aquém.
Mas Romão estava lá, a cantar
larari ou larará. Cantava só, num assombroso silêncio que nem a madrugada mais
calada poderia ouvir. Na parcimônia cômica, a antagônica agonia que frigia como
ovos de uma galinha que punha nova vida sem sequer cacarejar. Um sanfoneiro
toca brejeiro para um casal dançar. Nos ouvidos que olvidam o mundo encontrar,
uma nota ou outra denota que mais um dia irá acabar. Logo, outro surgirá e
urgirá as verdades que Romão não quer escutar. Pegar um novo ônibus, subir e
descer atônito como fosse um ator cômico. Tentar desvendar, em tantos tentáculos
que tentam pegá-lo para no breu jogá-lo, de quais fugir no urgir de um tempo
que sua úlcera não deixará viver. Mas, para ele, tanto faz. Chama o garçom que,
por fim, decide vê-lo chinfrim e pede a conta. Sai trôpego e sôfrego. Logo ali,
na distância sem equidistância, cairá para nunca mais ser, ver ou respirar. Em
volta, o lugar testemunha o vendedor que prega que a pupunha é o melhor a se comprar.
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