Por Ronaldo Faria
Na viola do violeiro, o
esgueiro de um som que foge entre os ouvidos e olvida ser maior do que é. Na insônia
crua e encruada na madrugada que é tragada pelas horas, a histriônica história inglória
de Jesus Aldo, filho de Maria e José. Ou terá sido de José e Maria?
Saber-se-á...
Carregador num mercado de
secos e molhados, vive molhado de suor do seu ir e voltar com quilos de sebos e
restos fervidos. E segue em passos pequenos e cansados à espera do relógio de ponto
bater no ponto em que possa ainda, nessa sina, mesmo quase morto, viver.
Aldo, aldeão da sua aldeia
inexistente, vive como um ser premente, desses que espera tanto que o tempo não
deixa sequer sobreviver. Logo joga em cova rasa, tão rasa que nem os pés cabem
pra dentro e se largam feito erva daninha a brotar em qualquer lugar e se largar.
Mas nos dedos do violeiro,
primeiro ser a dedilhar o som do silêncio sepulcral, Jesus Aldo se prende à sua
cruz. Ao invés de pregos, pregoa aos ventos sua solidão inclemente. E mente a
si mesmo de que seguir levará a algum lugar. No ar, fuligem de mata nova se põe
a chegar.
Jesus, amado mestre, que sobrevive
a toda a peste, cuide de Aldo, no seu descalabro. Deixe que ele, assoberbado,
presenteie sua vida com a mesma chama que vem do candelabro. Num canto de sala,
na insólita glória, certamente alguém cantará um perdido tema de amor.
Mas, na viola de um violeiro, o
centeio da semente que se espraia no chão seco e carcomido de quem sabe que, em
outra era, será como serpente a correr o trilho de terra onde o pó passeia a
presentear quem, como Aldo, almeja ser apenas um Judas a moedas contar.
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