Por Ronaldo Faria
A tez da mulher parecia ter
saído uma orgia, dessas que a gente nunca mais esquece e o corpo padece de se
recuperar. Seu olhar, na sombra da tarde que entardece e enternece quem de
longe olha só por olhar, vê a foto que o som extraído de um fotograma perdido e
urdido no passado que o naufrágio da paixão deixou afundar no mar mais morto
que o próprio Mar Morto não sabe denotar.
A face da mulher, sem a flacidez
que logo lhe chegará, é como a faceta que existe entre o amor e o marujo que se
perdeu no mar do amar. Suas mãos buscam os lábios do amado como fossem beatas
na beira de um altar. Mas não há onde tocar. Sôfregas, como samaritanas de uma
procissão, seguem a desdenhar o desejo. Na insólita chegada do insólito
anoitecer, um cão uiva sua solidão ao luar.
Os braços da mulher, à espera
de um abraço avassalador, desses que curam e cicatrizam qualquer dor, cansaram
de se estender. Na verdade, não há muito que entender. Na ilusão da frágil
imensidão que existe entre ser e querer, o coração bate em retidão na espera de
um dia parar. No frigir de ovos que a panela ou a procela dão, só a cadela já
morta descansa quieta naquilo que a eternidade dá.
Na boca da mulher, o desejo e
o ensejo de que um dia o universo há de se descortinar como um palco sem cortina
final, onde o público aplauda a mais ridícula sanha que nem uma edícula
deixaria morar. Nos tragos que se fazem farrapos e num escrevinhar tresloucado,
o homem que o hímen dela não vê, traça versos e versículos e apenas repete, em
verve, a primeira canção solar que surge ao amanhecer.
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