Por Ronaldo Faria
Maria Bonita acorda desesperada. Talvez soubesse que uma bala irá lhe
dar bom dia. Não haverá mais choro, trilhas com plantas carcomidas e secas do
sertão, nem mesmo um cantão na grota de Angico. Nada sobrará. Nem calangos,
cangaceiros ou macacos. Talvez, no futuro, um augúrio. Quem viver, verá.
Nas vertentes das veredas que se
embrenham na lua que se esconde no céu, trabucos soltam o som da morte e descobrem
no sangue derramado a trama que nenhuma viola saberá tocar. Depois da matança, cabeças
expostas ao vento, os homens e mulheres, alhures, viram apenas festança e
esperança de cordelistas pelo mundo. Sejam eles primogênitos ou geneticamente
curtidos no sertão do passado, de lampiões de querosene e luares imensos ao som
de um gado que vai parir e morrer, seguem no precipício que há entre o nascer e
findar. Serão fotos, decapitados de seus corpos antes andantes e amantes,
viverão em histórias mil. Serão cantados, declamados, difamados, afortunados
por sobreviverem aos tempos que cada vez menos tempo nos dá. Como parte de um
país senil e febril, semearão amores e ódios, ordinárias vertentes de sementes
que, com certeza e presteza, brotarão. E caberá a cada um desdenhar ou regar o
que disso puder sobreviver... Daqui, do mundo moderno, vejo, sem credo, que
como diria o poeta, a mula pula. Ou seja, nada sei e sei que nada nunca
saberei.