terça-feira, 5 de novembro de 2024

Nas odes das ondas

 Por Ronaldo Faria


A onda bate quieta na areia que requenta no mormaço da noite que veio depois de seus 40 e tantos graus que horas antes a cidade vivera. No balaústre que divide o asfalto do fato, Ana analisa o que seria se, no passado, sua mãe tivesse optado por chamá-la Luiza: “teria sido, ao menos, homenageada pelo Tom Jobim.” Mas, qual, lavrada a certidão, ficou só Ana. Assim, nome pequeno de uma sílaba agregada quase em si. Sonora denominação, sem a sonoridade de um nome composto. Somente, solene, Ana. Porém, pra onda que termina de chegar e a espuma redundante e junta que cabe numa terrina que embriagará o pelotão de apaixonados que caminhará a ouvir do som que quebra nas rochas, isso pouco importava. Fosse ela Ana ou Quitéria, Maria ou Ofélia, Tânia ou Amélia, tudo ficaria igual. Aos oceanos basta ser um caminho de rios ou encontro de águas. Não uma aquática lamúria noturna. E assim, assimétrico em sua vastidão, o mar não vê que Ana deixa os olhos marejar de lágrimas que igual a ele têm sal.
Do alto dos prédios, logo abaixo das nuvens raras, televisões brilham em 4K e HD. O que existir agora tem que existir em multivisão que nunca seria quadro assinado de Salvador Dali. Portanto, Ana decide ir buscar seu rumo. Longe de Roma, deixa que o vento a leve. Na avenida que flutua na imaginação e se prende ao asfalto graças à lei da gravidade, segue até sua casa. E lá, no desaconchego do lar, dorme nua e lívida. Sem não antes se questionar: “Por que cargas d’água tinha que ser apenas Ana na hora de registrar?” Da rua, um bêbado regurgita seu próprio despudor.

 (Ao som de Jorge Vercilo e Tom Jobim)

Acabou...

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