Por Ronaldo Faria
Na aurora que o dia antecipa
feito pipa no alto do morro, na mira do fuzil em íris dos olhos da amada, a
fada dos dentes que faltam na boca voa doida entre prédios cinzas e janelas
entreabertas de dor e corpos suados de calor. Um ou outro vagalume (eles ainda
existem?) tentam iluminar a escuridão que cobre a cama onde amantes sussurram
em tesão. O verde do seu rabo contrasta com o vermelho do batom de Alice que
suja os lençóis de cetim. Junto dela, porém, Germano pensa em Doralice e nos
gerânios que comprou e nunca entregou. No meio da Tijuca, na Rua das Flores,
pessoas passam a cheirar crisântemos e rosas. E deixam perpassar seus passos
rasos nas rajadas que cobrem de barulho algum lugar do céu.
Translúcido no púlpito da igreja forrada de bancos de madeira, imagens de santos e orações fálicas, o padre ora pela salvação dos transeuntes que passam depressa pela rua na pressa de quem sabe que o próximo minuto será menos um. Nas praças prosaicas se misturam mães, babás, bebês e bêbados largados nos bancos. Os cheiros de almoço futuro permeiam tudo. Haverá peixes fritos, linguiças picantes, bifes e fritas, feijão por cima ou debaixo do arroz. Teremos também sinas insolúveis: “Odeio jiló, você sabe! Quer me foder ou se separar?” No final, uma xícara de café solúvel. Sofrível, um solilóquio se fará de duas vidas. Para quantificar tudo que acontece no lugar, somente o ganido do cão abandonado pelo tutor.
Nos pudores da Tijuca, tragicômica pantomima de um passado desgarrado da sina, Germano lambe Alice, mas se pensa no meio das pernas de Doralice. A se entregar ao furor do sabor do sexo e volatilizar sua solidão sem nexo por onde for. A migrar de cinema em cinema, nas sessões ininterruptas e góticas, a chupar dropes de anis ou hortelã. Em casa a sua avó tenta terminar o cachecol de lã. “Mas o que é correr entre máquinas do elevador emperrado depois de subir paredes feito lagartixa com medo da morte?” Na esquina o pipoqueiro deixa o pipocar do grão do milho estourar no desejo de quem ainda enseja o ensejo derradeiro. Sorrateiro, o pivete apenas espera alguém marcar ao tirar a carteira do bolso para pagar. No céu, o sol sombreia a pereira que resiste no quintal da casa que pede para não cair. Nela, um cacho, maduro, espera algum dente lhe mostrar que valeu brotar...
Translúcido no púlpito da igreja forrada de bancos de madeira, imagens de santos e orações fálicas, o padre ora pela salvação dos transeuntes que passam depressa pela rua na pressa de quem sabe que o próximo minuto será menos um. Nas praças prosaicas se misturam mães, babás, bebês e bêbados largados nos bancos. Os cheiros de almoço futuro permeiam tudo. Haverá peixes fritos, linguiças picantes, bifes e fritas, feijão por cima ou debaixo do arroz. Teremos também sinas insolúveis: “Odeio jiló, você sabe! Quer me foder ou se separar?” No final, uma xícara de café solúvel. Sofrível, um solilóquio se fará de duas vidas. Para quantificar tudo que acontece no lugar, somente o ganido do cão abandonado pelo tutor.
Nos pudores da Tijuca, tragicômica pantomima de um passado desgarrado da sina, Germano lambe Alice, mas se pensa no meio das pernas de Doralice. A se entregar ao furor do sabor do sexo e volatilizar sua solidão sem nexo por onde for. A migrar de cinema em cinema, nas sessões ininterruptas e góticas, a chupar dropes de anis ou hortelã. Em casa a sua avó tenta terminar o cachecol de lã. “Mas o que é correr entre máquinas do elevador emperrado depois de subir paredes feito lagartixa com medo da morte?” Na esquina o pipoqueiro deixa o pipocar do grão do milho estourar no desejo de quem ainda enseja o ensejo derradeiro. Sorrateiro, o pivete apenas espera alguém marcar ao tirar a carteira do bolso para pagar. No céu, o sol sombreia a pereira que resiste no quintal da casa que pede para não cair. Nela, um cacho, maduro, espera algum dente lhe mostrar que valeu brotar...