sexta-feira, 24 de janeiro de 2025

Com João Donato na cabeça e no coração

 Por Ronaldo Faria

 


Mariângela, filha de pais apaixonados por Ângela Maria, está na Pedra do Arpoador a ver mais um fim de dia que brilha no Morro Dois Irmãos. Logo o sol estará batendo forte no Japão. E lá, quem sabe, outra Mariângela de olhos puxados estará sentada em alguma pedra a ver a luminosidade chegar por detrás do Monte Fuji.
-- Posso sentar do seu lado?
O pedido, vindo de Afonso (mas só um pouco depois ela saberia o nome do rapaz), surgiu solene, quase de joelhos, não fosse correr o risco de sangrar no corte que uma ponta de gnaisse quartzo feldspático de granulação fina pudesse fazer.
-- Claro que pode. O lugar é público e o por do sol é de todos.
 
Bethânia, moça que os pais, baianos, colocaram o nome em homenagem à própria irmã de Caetano, está sentada no Ponto dos Mentirosos, a assistir o mesmo sol que morre a se perder num pedaço que o Rio Caraíva dá em majestade para a natureza plena. Igualmente, uma mulher da Austrália espera a sua chegada solar.
-- Posso sentar do seu lado?
A voz de Sérgio (mas só outro tanto depois também descobriria ele assim se chamar) soou firme e convicta ao colocar uma garrafa de cerveja na mesa e dizer que a vida era bela demais, desde que fosse vivida na sua plenitude e amplitude.
-- Claro que pode. Desde que pague a conta do que consumir depois.
 
No Arpoador, um chope depois, uma caminhada do Leme até o Leblon e conversas mil para deixar a noite chegar ao antever da madrugada que teimou numa chuva fina e o som de motores de carros e luzes de neon.
 
Em Caraíva, algumas cervejas mais, pastéis de arraias, o barulho do mar logo perto, as pequenas marolas que o rio traz. Daí, seguir para o Forró do Pelé e descobrir que não há tempo entre o tênue luar e o amanhecer.
 
Mas, maledicente, o sol resolve voltar. Mariângela e Afonso, tontos de drinques e efemérides mil, beijos tresloucados e canções que uma cidade maravilhosa traz, se despedem e pedem que a Pedra do Arpoador seja eterna e terna.
 
Na mesma forma sacana da claridade real, Bethânia e Sérgio se despem e se atiram ao mar. A água começa a misturar o sal em seu verde ao doce do rio marrom. Em volta não há nada que queira acordar. O efêmero já se tornou dono do lugar.


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