domingo, 12 de janeiro de 2025

Um som moderno, de 1975

 Por Edmilson Siqueira


O disco foi gravado entre março e maio de 1975. Além dos artistas principais, ele conta com as participações especiais de Hélio Delmiro, Toninho Horta, Ivan Lins, Danilo Caymmi, João Bosco e Rildo Hora. 
Bom, com um time desse participando do disco, os artistas principais tinham de ser muito bons. E eram mesmo: Luiz Eça, Bebeto e Hélcio Milito formavam o Tamba Trio, um dos melhores trios que surgiram no Brasil na onda da bossa nova e que sobreviveu para além do apogeu do estilo no Brasil. Na verdade, com formações diferente, ele só terminou mesmo em 1992, com a morte do pianista, arranjador e bandleader Luiz Eça. 
O Tamba Trio foi formado no início dos anos 1960 e começou a tomar forma ainda acompanhando a cantora Maysa e depois a cantora Leny Andrade numa temporada na boate Manhattan, atuando ao lado de Luís Carlos Vinhas (piano) e Roberto Menescal (violão). Em seguida, 1967, virou um quarteto e depois Luiz Eça saiu e entrou o campineiro Laércio de Freitas, sobrevivendo até 1970. 
O disco em questão foi gravado no primeiro retorno do trio à sua formação original, em 1971. Essa fase durou até 1976. Quatro anos depois, juntaram-se novamente, com o baterista Rubens Ohana, que já participara do Tamba Trio, substituindo Hélcio Milito. O grupo continuou até 1992, quando faleceu Luiz Eça.
Depois dessa um tanto longa introdução, devo dizer que o disco é ótimo. É praticamente uma síntese da música brasileira, juntando o samba tradicional com o samba moderno, o jazz bossanovista com a música mineira e outras surpresas.
A primeira faixa é "3 Horas da Manhã", de Ivan Lins e Waldemar Costa, um samba muito bom da primeira fase de Ivan. Tão jovem que nem canta ainda, só participa tocando violão. Mas a voz e a cozinha do Tamba Trio, acho até desnecessário dizer, são impecáveis.
Em seguida, na segunda faixa, "Visgo de Jaca", música de temática nordestina, própria dos festivais da época. Seus autores são o gaitista Hildo Hora e o jornalista Sérgio Cabral. Além do coro do Tamba, o destaque fica com o improviso da gaita, sempre boa, de Rildo e uma guitarra a quem não deram créditos.
A terceira faixa é "Bola ou Búlica", dos também iniciantes à época João Bosco e Aldir Blanc. Já dava pra perceber que a dupla ia longe. Além da qualidade da música e da letra que marcariam toda a obra da dupla, o Tamba se esmera no acompanhamento, com um sintetizador, novidade à época, tocado por Luiz Eça.



A primeira música só instrumental é "Beira-Mar", um belo tema de Ivan Lins, onde o grupo pode demonstrar como eram suas antigas apresentações só com piano, bateria e contrabaixo.
"Olha Maria", a música de Tom Jobim que se chamava "Amparo" e só ganhou o novo nome depois que Vinicius de Moraes e Chico Buarque colocaram letra, é a quinta faixa. Apenas instrumental (tanto que os nomes dos letristas não constam dos créditos), traz o contrabaixista Bebeto solando a música com uma flauta e o baterista Hélio Milito tocando sinos. 
O ritmo brasileiro mais marcante volta à faixa seis, com o "Chorinho Número 1", de Durval Ferreira. Solado ao piano, o chorinho ganha ares mais nobres, sem perder a essência desse gênero tipicamente brasileiro e carioca. 
Na faixa sete é a vez de Danilo Caymmi mostrar o samba de sua autoria, em parceria com Sidney Miller, "Jogo da Vida". Danilo faz o violão na faixa. Um samba carioca por excelência. 
A música mineira de Toninho Horta e Fernando Brant chega na oitava faixa: "Sanguessuga". Apesar da presença do letrista no crédito, a faixa é só instrumental com belo coro do Tamba.
Ivan Lins, com seu parceiro dos primeiros anos, Ronaldo Monteiro, volta na faixa nove, com "Janelas". Mais um instrumental com belo solo de Eça. O violão fica com Ivan Lins novamente.
A faixa dez é mais um samba de Danilo Caymmi, desta vez em parceria com Ana Maria Borba, "Contra o Vento". O Tamba se encarrega de tudo - voz e instrumental - e Danilo ajuda com o violão.
O sucesso de Toninho Horta, que se imortalizaria cinco anos depois na voz de Milton Nascimento, "Beijo Partido" surge na faixa onze, numa interpretação que se não se compara à de Milton gravada em 1980, não fica devendo muita coisa. Toninho Horta faz o violão na faixa.
Por fim, a décima-segunda música é de outros dois iniciantes à época: Paulo Cesar Pinheiro e Hélio de Souza. Trata-se de "Chamada". É outra música só instrumental, onde se destaca a flauta de Bebeto, apresentada com a qualidade de sempre do Tamba.
A conclusão de quem ouve esse disco agora, quase meio século depoois de gravado, é que a música brasileira não ganhou a notoriedade mundial  por sorte. Ela tem muita qualidade. Vários novos compositores são praticamente lançados nesse disco e não ficam atrás dos outros grandes que já projetavam a bossa nova mundo afora. Um disco que poderia ter sido gravado hoje, mas tem 49 anos.
 Há alguns exemplares à venda no Mercado Livre e dá pra ouvir na íntegra no YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=f4-960NrFwk&list=PL1lKP2m45w-LETCMdFqyTeidBPWwnOATO

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